sábado, 16 de fevereiro de 2013

O VINHO DO PAPA



Com a renúncia do Papa Bento XVI o papa e todos os temas relacionados a ele entraram na moda. Ao invés de comentar sobre o rebuliço que esta notícia causou em todo o mundo, de questionar se ele deveria ou renunciar, ou como a igreja católica fará para viver com dois papas ao mesmo tempo, resolvi escrever sobre o Châteauneuf-du-Pape, o vinho do papa. 

Châteauneuf-du-Pape é uma Appellation d'Origine Contrôlée (AOC) de  vinho, nas imediações da localidade de Châteauneuf-du-Pape no Vale do Rhône meridional, no sudeste da França. Esta é a AOC mais notória das Côtes du Rhône Meridionales.
O vilarejo de Châteauneuf du Pape, com cerca de dois mil habitantes está situado em plena Provence e dá nome a uma das regiões produtoras de vinho mais reputadas da França. Este vilarejo já existia desde o século 10, mas sua história foi fortemente influenciada pela chegada dos papas na cidade de Avignon no início do século 14.

O rei da França, Felipe IV (1268-1314), quando foi excomungado pelo papa italiano Bonifácio VIII, mandou prende-lo e colocou em seu lugar um conterrâneo seu Bertrand de Goth, que era arcebispo de Bordeaux. Bertrand se tornou papa em 1305 com o nome de Clemente V, tendo sido o primeiro dos chamados Papas do Vinho. Em 1309 ele transferiu a corte de Roma para Avignon, no Sul da França, onde a sede do papado permaneceu por 70 anos.

Clemente V foi o fundador de um vinhedo em Bordeuax, o Château Pape Clement, portanto um conhecedor de vinhos que ordenou a plantação de parreirais na região de Châteauneuf. Mas foi o seu sucessor, João XXII, que foi papa no período de 1316 a 1334, e que também era apaixonado por vinhos, que deu impulso ao desenvolvimento dos vinhedos na região. Foi ele que construiu o lendário castelo Châteauneuf du Pape, hoje apenas uma ruína uma vez que ele  foi severamente danificado durante as guerras religiosas do século 16 e no final do século 18, na  Revolução Francesa. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi utilizado pelos alemães como um ponto de observação, tendo sido posteriormente abandonado e dinamitado com a chegada das tropas aliadas.  

Este castelo foi a residência de verão dos papas, até o ano de 1378, quando o papado voltou para Roma, e foi construído estrategicamente sobre um monte rochoso de onde é possível observar o Vale do Rhône e foram plantadas parreiras para a produção de vinho ao seu redor.

A vinicultura foi introduzida na região pelos romanos, que fundaram Orange (a 12 km de Châteauneuf) no final da era pré-cristã. Mas foi com a construção do castelo papal que o vinho ali produzido se desenvolveu, passando a ser conhecido como vin du pape (vinho do papa).
Mesmo após o retorno da corte papal para Roma e a decadência do castelo, a tradição da viticultura continuou forte e enraizada na região, sendo que os vinhos provenientes de Châteauneuf passaram a ser os mais célebres e conceituados dentre os vinhos produzidos no vale sul do Rhône. O curioso é que o nome Châteauneuf du Pape só passou a ser atribuído ao vinho, tinto ou branco, no século 19, sendo que ambos eram conhecidos até esta época como vinhos de Avignon.
Graças aos esforços e união dos vinicultores locais e como forma de se prevenir de fraude e falsificações, foi criada em 1905 uma comissão com o intuito de fiscalizar os vi­nhos comercializados com o nome. Em 1923 o barão Pierre Le Roy, que era formado em direito, presidiu a regulamentação da região que acabou sendo tomada como exemplo e seu modelo  copiado pelo país inteiro. Atualmente os produtores locais são orgulhosos das normas e controles da região, as mais rígidas do mundo e que deram origem à noção de terroir (conjunto de solo, clima e vegetação) e foi a base da lei de Appellation d'Origine Contrôlée (AOC) adotada em toda a França em 1935.
Esta AOC compreende três mil hectares de terreno relativamente planos, sendo o solo e o clima local muito privilegiados. O solo é profundo o que obriga a videira a descer para buscar nutrientes, dando riqueza de  aromas e sabores ao líquido. O clima mediterâneo, dominado pelo vento Mistral, que sopra forte e seco, elimina as umidade das chuvas, previnindo contra insetos de fungos. As amplitudes térmicas entre o dia e a noite são grandes.
A camada superior do  terreno onde se assenta a maiora dos vinhedos teria sido  no passado o leito do rio Rhône, sendo portanto formado por seixos, isto é por pedras arredondadas,  relativamente grandes, denominadas ovos de pata (galets), tipicas da região. Estas pedras aboservem o calor durante o dia e a noite irradiam para as parreiras aquecendo as vinhas, provocando assim a boa maturação das uvas.


Para a elaboração dos vinhos são permitidas treze uvas, sendo as tintas: Grenache, Syrah, Cinsaut, Mourvèdre, Counoise, Picpoul, Terre Noir, Vaccarèse, Picardan e Muscardin. Já as uvas brancas são: Bourboulenc, Roussanne, Clairette. São permitidas também as brancas Grenache Blanc e Picpoul Blanc, perfazendo um total de 15 uvas.  
Atualmente a região produz 94% de vinhos tintos e 6% de vinhos brancos, os vinhos rosés são proibidos, a graduação alcoólica deve ser de 12,5% ou superior e a colheita é feita manualmente. Os vinhos de Châteauneuf, principalmente os tintos, são capazes de suportar períodos de guarda de 15 a 20 anos (ou mais).

Embora a região produza grandes vinhos, ela é muito irregular e é possível encontrar-se vinhos medíocres, que acabam pegando carona no nome e não valem o que se paga por eles. Os de melhor qualidade são ricos, encorpados, bem equilibrados e com aromas de especiarias, terra molhada e frutas vermelhas maduras.



A maior garantia de qualidade dos vinho é nome do produtor, como o Château de Beaucastel, Château Rayas, Domaine Guigal, Château Mont-Redon, entre outros.








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