No dia 20 de setembro o Rio
Grande do Sul celebra o início da Revolução Farroupilha (20/09/1835-01/03/1845)
ou Guerra dos Farrapos (se referiam aos trajes esfarrapados que as
tropas rebeldes usavam) como ficou conhecida a mais longa guerra civil do
Brasil. Começou como uma revolta de estancieiros gaúchos contra altos impostos
sobre o charque, produzido nas estâncias, e a falta de autonomia provincial.
Essa revolta evoluiu para uma
luta de caráter republicano e separatista contra o governo imperial do Brasil,
na então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e que resultou na
declaração de independência da província como estado republicano, dando origem
a República Rio-Grandense, que durou dez anos.
Entre as principais causas estavam:
- Descontentamento Econômico: devido a política de altos impostos sobre o charque gaúcho, que abastecia inclusive São Paulo e Rio de Janeiro, e que não era aplicado aos produtos estrangeiros, que chegavam ao estado favorecendo a concorrência;
- Centralização do Poder: A elite sul-rio-grandense reivindicava maior autonomia para a província, governada por presidentes nomeados pelo governo central do Rio de Janeiro; e,
- Crise do Período Regencial: A instabilidade política do período regencial (1831-1840), caracterizada pela ausência de um monarca e com um governo central enfraquecido, contribuiu para a atmosfera propícia à revolta. Dom Pedro II teve sua maior idade declarada e assumiu o trono apenas em 1840.
A Revolução Farroupilha terminou em
01 de março de 1845 com o Tratado de Poncho Verde, que concedeu anistia
aos rebeldes, garantiu a alforria de escravizados que lutaram no conflito e
integrou os farroupilhas ao exército imperial, consolidando a paz e o orgulho
regional.
"Estancieiros gaúchos”,
que deram início a esse conflito eram os donos de grandes propriedades rurais
(principalmente na região da Campanha Gaúcha), as chamadas estâncias no estado,
dedicadas à criação de gado ou agricultura. Estes termos remontam ao início do
povoamento da região quando havia necessidade de manutenção e defesa do
território brasileiro nas áreas limítrofes (sesmarias) com Uruguai e Argentina.
Na época, os estancieiros eram membros
da elite agrária e produtora de charque (carne seca) e, que devido aos seus
interesses econômicos e ideais republicanos, tomaram a frente do movimento para
buscar maior autonomia e um tratamento mais justo para os produtos do Rio
Grande do Sul. Bento Gonçalves, líder da revolução e primeiro
presidente da República Rio Grandense era estancieiro.
Os termos Estância e Estancieiros ainda são utilizados no Rio Grande do
Sul, para definir o dono de uma grande propriedade rural dedicada à
criação de gado ou à agricultura: uma estância. O termo
também é utilizado no Uruguai e
na Argentina (em castelhano, estanciero).
PRODUÇÃO DE VINHO NO ESTADO NO TEMPO DOS FARRAPOS
Há 190 anos, quando teve início a Guerra dos Farrapos em 1835, a porção
Sul do estado era praticamente uma extensão enorme de terras despovoadas, onde
predominava a pecuária extensiva. A vitivinicultura não era um foco principal
do Rio Grande do Sul sendo a produção de charque a atividade econômica
dominante no estado.
O mapa que segue (direita) mostra como era o estado do Rio Grande do Sul, no ano em que começou a Revolução Farroupilha. Havia apenas 14 municípios, sendo os de maior extensão territorial Cruz Alta e Alegrete e, toda a Serra Gaúcha, a mais expressiva região vitivinícola do estado pertencia, na época, ao município de Santo Antônio da Patrulha. No mapa da esquerda fiz uma sobreposição com a área que atualmente corresponde a IP Campanha Gaúcha, no mapa de 1835 seriam os territórios dos municípios de Alegrete e Piratini.
Mapa do Rio Grande do Sul, início da Guerra dos Farrapos, Imagem
enviada por Sergio Martins, no grupo Buenas Ideias.
A produção de vinhos era focada em vinhos rústicos e em processos de
fabricação simples, sem controle técnico de fermentação ou teor alcoólico, resultando
em bebidas mais turvas, com sabores grosseiros, muitas vezes alterados por
conservantes e de menor qualidade em comparação aos padrões atuais. A produção
era mais focada no consumo próprio, mas o vinho já era um símbolo e um elemento
presente na vida social e, por vezes, na cultura da época.
Por volta de 1839 e 1842, em pleno desenrolar da Guerra dos Farrapos, ocorreu a introdução de castas americanas no estado, sendo Marques Lisboa o precursor da uva Isabel. Ele remeteu desde Washington, em 1839 bacelos dessa variedade para Thomas Messiter, seu amigo, fornecendo também informações sobre sua impressionante robustez e produtividade. A uva Isabel foi a primeira variedade de uva americana a ser introduzida na Europa, África e Ásia, como curiosidade, mas depois por ser resistente ao oídio (Dal Pizzol & Souza, 2014).
Thomas Messiter formou os primeiros vinhedos na Ilha dos Marinheiros, ficando
com o mérito de iniciador do cultivo dessa casta no Rio Grande do Sul. Essa
ilha está localizada próximo a cidade de Rio Grande, no Sul do estado. Os
municípios de Rio Grande e São José do Norte que aparecem próximos da Ilha dos
Marinheiros, tiveram atuação na Guerra dos Farrapos.
A uva Isabel prosperou exuberantemente na Ilha dos Marinheiros, porém, apesar de todos os cuidados extremos, mudas foram subtraídas seguramente por viajantes, navegadores e agricultores da região e seu cultivo foi se difundindo pelo estado (Dal Pizzol & Souza, 2014).
Os imigrantes italianos que deram grande impulso a vitivinicultura no estado e no país, chegaram aqui apenas em 1875, 35 anos após o término da Guerra dos Farrapos.
MUNICÍPIOS VITIVINÍCOLAS DO CAMINHO FARROUPILHA
Nos campos dos Meneses, próximo ao arroio Seival, no dia 10 de setembro
de 1836 ocorreu a Batalha do Seival. Hoje esse local corresponde ao município
de Candiota, na Campanha Gaúcha. No dia
seguinte, em 11 de setembro de 1836, Antônio de Souza Neto proclamou a
República Rio-Grandense, um marco para os ideais republicanos e separatistas do
movimento.
Alguns municípios da Região Metropolitana, da Serra do Sudeste e da
Campanha Gaúcha, onde ocorreu a Revolução Farroupilha, a partir da década de 70
vem se destacando cada vez mais na produção de vinhos no estado. A Campanha é considerada
a segunda maior região produtora de vinhos finos do Brasil e possui Indicação
Geográfica (IG), certificando a tipicidade dos vinhos produzidos pelas 17
vinícolas espalhadas por onze municípios em uma faixa de mais de 44 mil km2.
O crescimento do turismo enológico, assumiu um papel importante nessa porção do estado, onde os visitantes podem conhecer a história da região, degustar vinhos e vivenciar a autêntica cultura gaúcha.
Os mapas que seguem apresentam o roteiro “Caminho Farroupilha” (a esquerda) e os municípios da Região Metropolitana, Serra do Sudeste e Campanha Gaucha (a direita), que participaram da Guerra do Farrapos e que atualmente se destacam pela produção de vinhos.
Referências Bibliográficas:
https://www.guatambuvinhos.com.br/
https://www.miolo.com.br/vinho-miolo-sebrumo-tinto-seco-cabernet-sauvignon-6x750ml
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Farrapos#/media/Ficheiro:MuseuJulio11.jpg
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx1002200304.htm
https://riograndedosulroteiros.blogspot.com/2009/11/roteiro-caminho-farroupilha-tradicao-e.html
https://riograndedosulroteiros.blogspot.com/2009/11/roteiro-caminho-farroupilha-tradicao-e.html
https://naofoinogrito.blogspot.com/2016/09/
DAL PIZZOL, R.; Sousa, S.I, ; Memórias do Vinho Gaúcho; 1.ed. Porto Alegre, RS; AGE, 2014; 1.vol.; 280p.:
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