sexta-feira, 19 de setembro de 2025

O VINHO NA TRILHA DOS FARROUPILHAS

 



No dia 20 de setembro o Rio Grande do Sul celebra o início da Revolução Farroupilha (20/09/1835-01/03/1845) ou Guerra dos Farrapos (se referiam aos trajes esfarrapados que as tropas rebeldes usavam) como ficou conhecida a mais longa guerra civil do Brasil. Começou como uma revolta de estancieiros gaúchos contra altos impostos sobre o charque, produzido nas estâncias, e a falta de autonomia provincial.  

Essa revolta evoluiu para uma luta de caráter republicano e separatista contra o governo imperial do Brasil, na então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e que resultou na declaração de independência da província como estado republicano, dando origem a República Rio-Grandense, que durou dez anos.

Entre as principais causas estavam:

  1. Descontentamento Econômico: devido a política de altos impostos sobre o charque gaúcho, que abastecia inclusive São Paulo e Rio de Janeiro, e que não era aplicado aos produtos estrangeiros, que chegavam ao estado favorecendo a concorrência;
  2. Centralização do Poder: A elite sul-rio-grandense reivindicava maior autonomia para a província, governada por presidentes nomeados pelo governo central do Rio de Janeiro; e,
  3. Crise do Período Regencial: A instabilidade política do período regencial (1831-1840), caracterizada pela ausência de um monarca e com um governo central enfraquecido, contribuiu para a atmosfera propícia à revolta.  Dom Pedro II teve sua maior idade declarada e assumiu o trono apenas em 1840.

A Revolução Farroupilha terminou em 01 de março de 1845 com o Tratado de Poncho Verde, que concedeu anistia aos rebeldes, garantiu a alforria de escravizados que lutaram no conflito e integrou os farroupilhas ao exército imperial, consolidando a paz e o orgulho regional. 

"Estancieiros gaúchos”, que deram início a esse conflito eram os donos de grandes propriedades rurais (principalmente na região da Campanha Gaúcha), as chamadas estâncias no estado, dedicadas à criação de gado ou agricultura. Estes termos remontam ao início do povoamento da região quando havia necessidade de manutenção e defesa do território brasileiro nas áreas limítrofes (sesmarias) com Uruguai e Argentina.

Na época, os estancieiros eram membros da elite agrária e produtora de charque (carne seca) e, que devido aos seus interesses econômicos e ideais republicanos, tomaram a frente do movimento para buscar maior autonomia e um tratamento mais justo para os produtos do Rio Grande do Sul. Bento Gonçalves, líder da revolução e primeiro presidente da República Rio Grandense era estancieiro. 


Os termos Estância e Estancieiros ainda são utilizados no Rio Grande do Sul, para definir o dono de uma grande propriedade rural dedicada à criação de gado ou à agricultura: uma estância. O termo também é utilizado no Uruguai e na Argentina (em castelhano, estanciero).

PRODUÇÃO DE VINHO NO ESTADO NO TEMPO DOS FARRAPOS

Há 190 anos, quando teve início a Guerra dos Farrapos em 1835, a porção Sul do estado era praticamente uma extensão enorme de terras despovoadas, onde predominava a pecuária extensiva. A vitivinicultura não era um foco principal do Rio Grande do Sul sendo a produção de charque a atividade econômica dominante no estado.

O mapa que segue (direita) mostra como era o estado do Rio Grande do Sul, no ano em que começou a Revolução Farroupilha. Havia apenas 14 municípios, sendo os de maior extensão territorial Cruz Alta e Alegrete e, toda a Serra Gaúcha, a mais expressiva região vitivinícola do estado pertencia, na época, ao município de Santo Antônio da Patrulha. No mapa da esquerda fiz uma sobreposição com a área que atualmente corresponde a IP Campanha Gaúcha, no mapa de 1835 seriam os territórios dos municípios de Alegrete e Piratini.

Mapa do Rio Grande do Sul, início da Guerra dos Farrapos, Imagem enviada por Sergio Martins, no grupo Buenas Ideias.

A produção de vinhos era focada em vinhos rústicos e em processos de fabricação simples, sem controle técnico de fermentação ou teor alcoólico, resultando em bebidas mais turvas, com sabores grosseiros, muitas vezes alterados por conservantes e de menor qualidade em comparação aos padrões atuais. A produção era mais focada no consumo próprio, mas o vinho já era um símbolo e um elemento presente na vida social e, por vezes, na cultura da época. 

Por volta de 1839 e 1842, em pleno desenrolar da Guerra dos Farrapos, ocorreu a introdução de castas americanas no estado, sendo Marques Lisboa o precursor da uva Isabel. Ele remeteu desde Washington, em 1839 bacelos dessa variedade para Thomas Messiter, seu amigo, fornecendo também informações sobre sua impressionante robustez e produtividade.  A uva Isabel foi a primeira variedade de uva americana a ser introduzida na Europa, África e Ásia, como curiosidade, mas depois por ser resistente ao oídio (Dal Pizzol & Souza, 2014).  

Thomas Messiter formou os primeiros vinhedos na Ilha dos Marinheiros, ficando com o mérito de iniciador do cultivo dessa casta no Rio Grande do Sul. Essa ilha está localizada próximo a cidade de Rio Grande, no Sul do estado. Os municípios de Rio Grande e São José do Norte que aparecem próximos da Ilha dos Marinheiros, tiveram atuação na Guerra dos Farrapos.

A uva Isabel prosperou exuberantemente na Ilha dos Marinheiros, porém, apesar de todos os cuidados extremos, mudas foram subtraídas seguramente por viajantes, navegadores e agricultores da região e seu cultivo foi se difundindo pelo estado (Dal Pizzol & Souza, 2014).

Os imigrantes italianos que deram grande impulso a vitivinicultura no estado e no país, chegaram aqui apenas em 1875, 35 anos após o término da Guerra dos Farrapos.

MUNICÍPIOS VITIVINÍCOLAS DO CAMINHO FARROUPILHA

Nos campos dos Meneses, próximo ao arroio Seival, no dia 10 de setembro de 1836 ocorreu a Batalha do Seival. Hoje esse local corresponde ao município de Candiota, na Campanha Gaúcha.  No dia seguinte, em 11 de setembro de 1836, Antônio de Souza Neto proclamou a República Rio-Grandense, um marco para os ideais republicanos e separatistas do movimento. 

Alguns municípios da Região Metropolitana, da Serra do Sudeste e da Campanha Gaúcha, onde ocorreu a Revolução Farroupilha, a partir da década de 70 vem se destacando cada vez mais na produção de vinhos no estado. A Campanha é considerada a segunda maior região produtora de vinhos finos do Brasil e possui Indicação Geográfica (IG), certificando a tipicidade dos vinhos produzidos pelas 17 vinícolas espalhadas por onze municípios em uma faixa de mais de 44 mil km2.

O crescimento do turismo enológico, assumiu um papel importante nessa porção do estado, onde os visitantes podem conhecer a história da região, degustar vinhos e vivenciar a autêntica cultura gaúcha. 

Os mapas que seguem apresentam o roteiro “Caminho Farroupilha” (a esquerda) e os municípios da Região Metropolitana, Serra do Sudeste e Campanha Gaucha (a direita), que participaram da Guerra do Farrapos e que atualmente se destacam pela produção de vinhos.


Vários municípios vitivinícolas do Rio Grande do Sul tiveram papel importante na Guerra dos Farrapos, veja na tabela os que mais se destacaram e as vinícolas que podem ser encontradas em cada um deles. 


Referências Bibliográficas:

https://www.guatambuvinhos.com.br/

https://www.miolo.com.br/vinho-miolo-sebrumo-tinto-seco-cabernet-sauvignon-6x750ml

https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Farrapos#/media/Ficheiro:MuseuJulio11.jpg

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx1002200304.htm

https://riograndedosulroteiros.blogspot.com/2009/11/roteiro-caminho-farroupilha-tradicao-e.html

https://riograndedosulroteiros.blogspot.com/2009/11/roteiro-caminho-farroupilha-tradicao-e.html

https://naofoinogrito.blogspot.com/2016/09/

DAL PIZZOL, R.; Sousa, S.I, ; Memórias do Vinho Gaúcho; 1.ed. Porto Alegre, RS; AGE, 2014; 1.vol.; 280p.:

 






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