terça-feira, 26 de junho de 2018

RAFAEL TIRADO – O MAGO DOS VINHOS CHILENOS ARTESANAIS


No último dia 19 de junho, a Terrunyo Wine Store realizou, em sua loja na Plinio Brasil Milano, uma degustação dos vinhos produzidos por Rafael Tirado, enólogo e proprietário da Laberinto Wines, no Chile, na foto comigo e com a sommelière da Terrunyo Renata Pedroso.


Rafael é engenheiro agrônomo e enólogo, graduado pela Pontifícia Universidade Católica-PUC, do Chile, com mais de 20 anos de atividades na indústria vitivinícola. Tem ampla experiência no desenvolvimento de vinhedos, plantações, manejo dos vinhedos, vindima-vinificações, guarda dos vinhos e engarrafamento. Trabalhou em vinícolas grandes e conhecidas, mas atualmente se dedica a seu projeto pessoal “Laberinto”, de elaboração de seus próprios vinhos, com grande interesse de inovar o mapa vitivinícola chileno.

Rafael é uma pessoa discreta, algo tímido, mas muito simpático e ao conversar com ele percebe-se imediatamente que ele gosta muito do que faz.

A Viña Ribeira del Lago, um lugar belíssimo que inspirou Rafael a criar alguns de seus rótulos e onde ele elabora seus vinhos, está localizada na pré Cordilheira dos Andes, a 600 metros de altitude, as margens do lago Colbun, em uma área de 18ha, na região vinícola Valle Central, na sub-região vinícola Valle del Maule. Os vinhedos estão em uma região que no passado foi marcada por muita atividade vulcânica, o que dá uma forte característica mineral aos vinhos, e que é um dos fatores de grande sucesso do seu vinho mais famoso, o Cenizas de Laberinto Sauvignon Blanc, o meu preferido de todos os que degustei e que tratei de providenciar um exemplar para a minha adega.

O Valle del Maule, localizado entre as Cordilheiras dos Andes e da Costa, está a 260 km ao sul de Santiago e é considerado o de maior tradição vitivinícola concentrando 43% do total cultivado no país e o que apresenta maior diversidade geográfica.
As condições reinantes no vale se caracterizam por um clima mediterrâneo fresco, com invernos chuvosos e solos ácidos e argilosos, que, se por um lado, reduzem a produtividade dos vinhedos por outro aumentam a qualidade das uvas. Aí se cultivam todas a grandes cepas de vinhos tintos e brancos, sendo aqueles provenientes de vinhedos próximos aos rios mais frutados do que os que são produzidos com uvas cultivadas nas encostas.  

Valle del Maule é uma denominação de origem para os vinhos procedentes desta sub-região vinícola homônima e que estejam de acordo com os requisitos estabelecidos pelo Decreto de Agricultura nº 464 de setembro de 1994, que estabelece o zoneamento vinícola do país e as normas para sua utilização como denominação de origem.

No evento foram degustados os vinhos das linhas Laberinto, Vistalago, Casa del Lago, da Viña Ribeira del Lago e os da Vinã Las Veletas.


Linha Laberinto

O nome desta linha, Laberinto, é proveniente do fato de que os vinhedos foram plantados em curvas e em diferentes direções, aproveitando a diversidade de solos e, também, para aumentar a exposição solar. Com isso as uvas e os vinhos ganham em estrutura e complexidade. O nome Cenizas (cinzas) refere-se ao solo vulcânico, responsável pelo toque mineral dos vinhos provenientes esta zona. 

Desta linha eu degustei dois belos exemplares o Laberinto Cenizas Sauvignon Blanc, Safra 2016 e o Laberinto Cenizas Pinot Noir, Safra 2013.

O Laberinto Ceniza Sauvignon Blanc é elaborado 100% com uvas Sauvignon Blanc, com amadurecimento feito em tanques de aço inox, apresenta cor esverdeada brilhante, quase transparente.  Chama atenção por sua intensa mineralidade, sendo o solo vulcânico dos vinhedos o responsável por este característico toque mineral e pelo frescor potente herbáceo deste vinho. Seu teor alcoólico é de 12,5% e a temperatura de serviço é de 8°C a 10°C.


É um vinho estruturado, intenso, complexo, robusto no paladar, corpo médio, com refrescante acidez e que marca presença, depois de bebe-lo é impossível esquecer seu maravilhoso aroma e sabor e que na degustação contrastou com o outro sauvignon degustado.

O Laberinto Ceniza Pinot Noir é elaborado com 100% de uvas pinot noir, uvas de cultivo orgânico, fermentado em tanques de cimento (com uvas 1/3 sem prensagem e o restante com suave maceração), este vinho amadureceu em barricas francesas por um ano e mais outro nas garrafas.

Cor rubi claro, com aroma típico do Pinot NOir, notas de fumaça, resina e nostas discretas de frutas maduras, ótima acidez e suavidade na boca, bom equilibrio entre a acidez, o tanino e a fruta e um final de boca agradável. Um Pinot Noir que vale a pena ser degustado, com graduação alcoólica de 13%.

 Linha Casa del Lago


Esta linha de vinhos deve seu nome ao fato de que os vinhedos, de lotes específicos, ficam ao redor da casa do lago. Desta linha degustei o Casa del Lago Sauvignon Blanc 2016 elaborado com uvas 100% Sauvignon Blanc, da região de Colbun. Este vinho não passa por afinamento em madeira, com aromas delicados de frutas cítricas, refrescante, leve mineralidade sutil, aromas delicados de frutas cítricas. Teor alcoólico de 12,5%, ideal para acompanhar um bolinho de bacalhau, iscas de peixe empanado, espetinho de camarão nas noites frescas de verão.


 Linha Vistalago


Os vinhedos que ficam de frente para o Lago Colbun dão origem a linha VISTALAGO, vinhos que tem uma forte expressão da Cordilheira dos Andes e se caracterizam pelos vinhedos estarem plantados em solos com fortes influências vulcânicas e em zonas de dias frescos e noites frias.

Os vinhos desta linha que eu degustei são o Vistalago Mezcla Blanca, D.O. Colbun, Valle del Maule, safra 2017 e o Vistalago Pinot Noir, D.O. Colbun, Valle del Maule, safra 2014.




O Vistalago Mezcla Blanca é elaborado com 55% de uvas Riesling, 25% Chardonnay e 20% Torontel, uma uva branca aromática, que pertence à família Muscat e é muito utilizada para a elaboração de Pisco. Com esta uva os franceses produzem um dos mais populares vinhos do mundo, o “Muscat de Frontignan”.

Este vinho foi fermentado a frio em pequenas cubas de inox com levedura nativa, foi mantido em contato com as borras por três meses e engarrafado sem fermentação malolática ou contato com o carvalho. Fresco, aromático e discretamente exuberante, com uma nota de maçã verde suave e persistente e um frescor mineral.

O Vistalago Pinot Noir, D.O. Colbun, Valle del Maule é elaborado 100% com uvas pinot noir, uma das minhas preferidas. Este vinho teve sua fermentação em tanques de cimento, sendo que 80% do vinho estagia em barricas francesas de segundo uso, por 10 meses. Um pinot noir com um pouco mais de corpo, com notas de cereja, taninos macios, equilibrado. Teor alcoólico 13%.
  
Vinã Las Veletas


Os últimos três vinhos degustados são elaborados pela Vinã Las Veletas de propriedade de Raúl Dell’Oro e Rafael Tirado. Os vinhedos estão localizados na zona de Alquihue, San Javier, Valle del Maule, um setor tradicional de culturas de videira, em terra seca, onde a tecnologia tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de pequenos vinhedos nos setores mais secos.

  Fonte:http://www.lasveletas.cl/



Aí o clima se caracteriza por ser mediterrâneo seco na temporada de amadurecimento das uvas, com ventos frescos do Oceano Pacífico que esfriam as tardes. Os solos são graníticos e franco argilosos, com baixo conteúdo de matéria orgânica.

Os vinhos produzidos pela Vinã Las Veletas se caracterizam por serem elaborados com diferentes variedades tintas, como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Pais, Petit Verdot , Carmenere, Syrah, Grenache, Mouvedre e Carignan.

Os vinhos degustados no evento foram o Las Veletas Cabernet Sauvignon- Cabernet Franc, safra 2014; o Las Veletas Grenache-Mourvèdre-Carignan e Syrah, safra 2015 que tratei de providenciar um exemplar para a minha adega e o Las Veletas Petit Verdot–Cabernet Franc, safra 2014. Como voces podem ver nas fotos todos pontuados com 90-92 pontos pelo Descorchado. 


O Las Veletas Cabernet Sauvignon- Cabernet Franc, safra 2014, elaborada a partir de uvas que crescem e amadurecem em vinhedos, com 20 anos, plantados em terraços de forma circular, sobre solos graníticos e de pedra ardósia. Amadurecimento em barricas francesas por doze meses.

Este vinho destaca-se por sua intensa cor vermelho cereja, sua forte acidez e taninos, cheios de especiarias doces e, também, muitos frutos vermelhos. Na boca é maduro, com taninos médios, não muito longos. É um vinho ideal para acompanhar um jantar à base de carne de porco ou carnes vermelhas.

O Las Veletas Grenache-Mourvèdre-Carignan-Syrah, safra 2015, também é elaborado com uvas cultivadas em vinhedos com 20 anos, plantados em terraços de forma circular, sobre solos graníticos e de pedra ardósia. Amadurecimento em barricas francesas de segundo uso durante doze meses, com uso de leveduras nativas. Após a realização da fermentação malolática o vinho é guardado por aproximadamente 1 ano, buscando maior estrutura, elegância e complexidade.

De cor cereja vermelha brilhante, com aromas de amora, chocolate negro, notas de frutas vermelhas maduras e um touque de acidez que ressalta os sabores frutados, é ideal para acompanhar carnes vermlehas ou queijos. 



O Las Veletas Petit Verdot–Cabernet Franc, safra 2014, cujas uvas crescem e amadurecem em vinhedos com 20 anos, plantados nas encostas de solos graníticos, com exposição nordeste e sob estrito manejo, após a fermentação malolática amadurece em barricas francesas por 12 meses, alcançando características enológicas muito particulares e exclusivas. Este vinho recebeu vários prêmios.
De cor vermelho violeta escuro, aromas a frutas muito maduras, licorosas, com um fundo de geleia, harmoniza com carnes vermelhas e de porco.  
Foi uma noite agradável, descontraída, bons vinhos e boa conversa, os amantes do vinho seguramente irão se lembrar dos preciosos caldos degustados por um bom tempo.


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