terça-feira, 7 de maio de 2019

MARCO DANIELLE E OS VINHOS ARTESANAIS

No último dia 1° de maio, em um tour por Canela e Gramado, organizado pela enóloga Maria Amélia Duarte Flores da Vinho & Arte, tive o prazer de desfrutar de um almoço harmonizado com vinhos artesanais do Atelier Tormentas de Marco Danielle, de Canela, no elegantíssimo  Vatel Restaurante, inaugurado em fevereiro, em Gramado.
Este restaurante, com cozinha autoral e decoração requintada de estilo pariense, prima pelo bom gosto  nos mínimos detalhes. Seu nome é inspirado no mestre François Vatel (1631-1671), um célebre cozinheiro e maitre de hotel,  francês, a quem é atribuída a invenção do creme chantilly. 

Todos os detalhes da refeição são supervisionados por Umberto Beltramea, Diretor Executivo de Experiências Culinárias, que cuida para que o cliente saia satisfeito e literalmente encantado com o serviço do restaurante. 


O menu cuidadosamente preparado pelo chef, foi harmonizado com os vinhos do Atelier Tormentas, que se dedica a produção de vinhos artesanais, a partir da melhor matéria prima disponível, cultivadas em duas regiões vinícolas importantes do Brasil - Campos de Cima da Serra e Campanha Gaúcha.
Os vinhos produzidos por Marco Danielle, "vinhateiro", como se auto denominam os produtores de vinhos de autor, artesanais, para diferenciar-se dos grandes produtores industriais,  "são fruto de uma vinicultura radicalmente natural, rejeitando correções, aditivos químicos e manipulaçaões, onde são usadas as melhores uvas como único ingrediente e, procurando antes comtemplar do que reinventar a natureza, no objetivo de expressar terra e fruta com franca honestidade e  mínimo de intervenção".
 
O almoço começou com um Amuse-bouche, que literalmente significa "para divertir a boca", tendo surgido na época da Nouvelle Cuisine, e em geral é apresentado por chefs para demonstrarem as suas habildades e criatividades. É um mimo que os chefs, de restaurante sofisticados,  oferecem aos clientes sem custos, como uma cortesia e é normalmente oferecido antes da refeição. O Amuse-bouche é sempre pequenino, do tamanho de mais ou menos duas bocadas. No caso foi um petisco com queijo e bacon defumado.

A esta altura já estávamos degustando o maravilhoso vinho Ambar 2014, cuja cor justifica seu nome, feito com  100% de uvas Sauvignon Blanc, cultivadas no vinhedo Monte Alegre dos Campos, localizado na região de Campos de Cima da Serra, RS, em uma altitude de 1.000 metros.

Os vinhos desta cor (laranja) são vinhos brancos elaborados como vinhos tintos, com maceração das cascas e extração fenólica. São vinhos que combinam a estrutura, a complexidade e a longevidade dos tintos.
 
O Ambar do Atelier Tormentas, é um vinho branco macerado, vinificado como um vinho tinto, com mesmo tempo de contato entre líquido e sólidos, fermentado com leveduras selvagens e sem passagem por barrica. De cor dourada, característica, com notas de ervas e cascas de cítricos secas. É um Sauvignon Blanc totalmente diferente do que se conhece e que se encontra no mercado, mas que mantém a sua estrutura delicada e sua acidez. Foi um dos meus preferidos, realmente um belo vinho que começa cativando por sua cor elegante e delicada e termina por conquistar definitivamente em boca. O Ambar 2014 já está esgotado para comercialização.

Para acompanhar o Ambar 2014 foi apresentada uma minuta de salmão fresco servido morno com creme de maracujá, delicioso e que harmonizou muito bem com o vinho. 
Em seguida, enquanto saboreávamos um medalhão de filet mignon com pontas de aspargus e couscus marroquinos, foram servidos o Fulvia e o Monte Alegre 2015 e 2017, ambos Pinot Noir,  o Vermelho Cabernet Franc 2017 e o Prelude 2007, este último também já está esgotado para comerecialização.


Os vinhos Fulvia e Monte Alegre, apesar de serem elaborados com a mesma uvas e serem da mesma safra, apresentam algumas caracteristicas diferentes, uma vez que as uvas utilizadas para a elaboração do Fulvia são cultivadas em Pedras Altas, na Campanha Gaúcha, onde o clima é temperado úmido com verão quente (Cfa). Os invernos são frios e úmidos, com temperaturas negativas e o verão são com dias quentes e noites frescas, o que garante uma boa amplitude térmica. A média anual das precipitações é de 1.20mm e ocorrem principalmente no inverno, no período de hibernação das vinhas. A combinação de clima e solos desta região auxilia na proução de uvas mais maduras, gerando vinhos estruturados e potentes.


Já as uvas utilizadas para a elaboração do Monte Alegre, são originárias de vinhedos da região de Campos de Cima da Serra, onde o clima é temperado úmido, com verões temperados, situada entre 800 e 1.000 metros. É uma das regiões mais frias do estado, o que faz com que o ciclo da uva seja mais longo e a colheita um pouco mais tardia do que na Serra Gaúcha,  o que a coloca  mais próxima de um clima de Bordeaux. Sua amplitude térmica, com variações de 15° em média, proporciona vinhos com bom equilibrio entre corpo-alccol-acidez.
O Vermelho Cabernet Franc é elaborado 100% com uvas  Cabernet Franc dos vinhedos de Campos de Cima da Serra, a 850metros de altitude. Um ano de barrica de carvalho e, de acordo com o vinhateiro, é um "Cabernet Franc com espírito de Pinot Noir e estrutura de Borgonha". É um vinho de longa guarda, delicado sutil e creio que o exemplar que degustamos no almoço estava em seu ponto máximo. É um vinho que realmente encanta ao consumidor e a mim também encantou, e muito.
Danielle, a partir da safra de  2014 passou a utilizar o termo "vermelho", ao invés de "tinto, para definir os vinhos clássicos de guarda feitos de uvas viníferas negras,  e o termo "branco" para definir os vinhos brancos clássicos feitos com uvas viníferas brancas.

O Prelúdio 2007 é elaborado com uvas cultivadas na região de Campos de Cima da Serra, sendo 10% Cabernet Franc, 20% Cabernet Sauvignon e  70% Merlot. Com cor vermelho rubi escuro, é um vinho sem conservantes, com boa vocação para guarda, com boa estrutura, acidez e presença marcante de taninos. É um vinho com bom volume em boca e uma certa rusticidade. Muito interessante, marcante. 
 Foi uma maravilhosa experiência enogastronômica!

Se beber não dirija!
 

domingo, 31 de março de 2019

VINHEDOS DO MONTE AGUDO-SC

No último dia   15 de março, em um tour pelas vinícolas de Santa Catarina organizado pela enólogoa Maria Amélia Duarte Flores, da Vinho e Arte, tive a oportunidade de conhecer a vinícola Vinhedos do Monte Agudo -Terroir de Altitude, localizada no município de São Joaquim, na Serra Catarinense, a 1.280 metros de altitude, na Fazenda Morro Agudo. 

Esta empresa familiar  foi fundada em 2004 pelo médico pediatra Leônidas Ferraz, a quem tive oportunidade de conhecer em sociedade com o produtor de grãos Alceu Muller. As vinhas tiveram origem no inÍcio de 2005, com as mudas dos vinhedos sendo trazidas diretamente da França.
 
Na foto comigo, estão o Sr. Leônidas  Ferraz e seu filho Leônidas Rojas Ferraz nosso anfitreão no almoço harmonizado.

São 6,2 hectares  de vinhedos, onde as principais cepas plantadas são a Chardonnay, a Cabernet Sauvigon e a Merlot  sendo sistema de condução  em Y ou manjedoura, quando os galhos da videira se abrem no formato de um Y.
Esse método é utilizado em vários países com tradição vitivinícola onde apoiado por uma estrutura em forma de Y os ramos da videira ficam quase na horizontal, deitando-se sobre os arames. A sua implantação  é mais onerosa que o sistema de espaldeira, devido principalmente a instalações de mourões de sustentação em cada fileira de videiras e da cobertura  de nylon, porém apresenta algumas vantages sobre este último no sentido de que: 
  • Pela forma como os galhos ficam dispostos (Y) há uma melhor distribuição dos galhos e das folhas, aumentando assim a produtividade e facilitando a colheita da uva; 
  • Confere maior incidência do sol aos cachos, o que é muito importante principalmente na fria Serra Catarinense; 
  • Facilita a instalaçâo de sistema de irrigação;
  • Pelo fato de as avenidas entre as videiras serem em torno de 2,5 metros de largura a  pulverização da planta pode ser feita de forma mecanizada;
  • O agricultor pode fazer  o manejo do vinhedo em pé;
  • Necessita menos mão de obra para o manejo do que o sistema em espaldeira.;
  • É utilizada uma cobertura de nylon que proteje as uvas contra geadas, precipitações de granizo e na época da colheita evita que os pássaros comam os bagos. ·     



Como a vindima estava apenas por começar na Serra Catarinense, estendendo-se até meados de maio, os vinhedos estavam carregados de uvas, um verdadeiro espetáculo para amantes do vinho. Nesta região a uva Chardonnay geralmente é colhida do início para o meio do mês de Março, a Merlot no início de Abril e a Cabernet Sauvigon no final de Abril até  início de Maio.


Para almoços ou jantares harmonizados o visitante é recebido no espaço gourmet da vinícola localizado na parte mais alta da propriedade de onde se pode avistar os vinhedos.  Para chegar até lá, desde o estacionamento, ele sobe por uma escada ladeada por maravilhosos e aromáticos canteiros de lavanda. 
O local dispõe de uma arquitetura rústica, campeira e muito aconchegante, com paredes de vidro voltadas para o vinhedos e, logo na entrada, tem uma enorme lareira para se aquecer nos dias frios da Serra Catarinense.
Restaurante  visto por fora
Restaurante visto por dentro
Como no menu haviam duas opções de cardápio eu elegi uma entrada de mix de folhas com truta defumada e maçã, que foi devidamente acompanhada primeiro pelo espumante Sinfonia Brut Rosé e depois pelo Chardonnay Unoaked.  O prato principal foi um entrevero maravilhoso, acompanhado de um Sublime Rosé Merlot e um Cabernet Sauvignon /Merlot safra 2011.






O espumante Sinfonia Brut Rosé Safra 2017,sendo  40% de uvas Chardonnay e 60% de uvas Merlot, boa parte vinificado em branco é produzido por meio do método charmat longo, seis meses de contato com as leveduras, o que lhe da mais complexidade aromática e cremosiade.


Com cor rosa vivo, perlage fino, intenso e persistente, com aromas de frutas vermelhas, goiaba e cereja em calda. Potente, refrescante,bom volume em boca e agradável retrogosto. Sua temperatura de serviço é de 6°C .

 




Chardonnay Unoaked, safra 2014, 100% chardonnay, como o própio nome diz não barricado,  apresenta notas de frutas cítricas, abacaxi, melão, bem leve, fresco, boa acidez, equilibrado e bem refrescante, excelente acompanhamento do Carpaccio de Frescal que está no menu, mas que eu não provei, mas  combinou muito bem  com  o mix de folhas com truta defumada e maçã.





Sublime Rosé, Safra 2018 elaborado 100%  com uvas merlot, colhidas antecipadamente,  com uma leve prensagem controlada, para obtenção da cor vermelho vivo com tons alaranjados, que lhe confere notas acobreadas. Boa acidez, leveza dos taninos, aromas cítricos, intensos aromas frutados de framboesa, butiá e morango maduro, misturado a um leve fundo de rosas brancas. Temperatura de serviço 6°C














Cabernet Sauvignon Merlot, Safra 2011, elaborado com 65% de uvas Cabernet Sauvignon e 35% de uvas Merlot, amadurecido por 12 meses em barricas de carvalho de primeiro uso, vinho estruturado, de coloração rubi  intenso e brilhante, aromas de frutas vermelhas,especiarias, café tostado, cacau e leve toque floral.Foi um belo acompanhamento para o entrevero.







 
Também tive oportunidade de degustar outros três vinhos da vinícola, o Chardonnay barricado, o Cuvée Francês e o Cuvée Americano, que não faziam parte dos vinhos servidos no almoço.





Chardonnay,  barricado,  safra 2014, elaborado 100% com uvas chardonnay, amadurecido por cinco meses em barrica de carvalho de primeiro uso, sendo que  apenas 70% é envelhecido em barricas. Elegante, cor amarelo amarelo claro com tons esverdeados, sem sobreposição da madeira, com cinco anos de garrafa, realmente um belo exemplar. 










 Estes dois vinhos foram os meus preferidos, o Cuvée Francês (tem um exemplar na minha adega) e o Cuvée Americano. Eles refletem toda a criatividade do enólogo, que apenas mudando as proporções das uvas Cabernet Sauvignon e Merlot em cada um deles e o tipo e tempo de barrica produziu dois vinhos diferentes e de excelente qualidade. 


 Para a elaboração destes vinhos foram utilizados uvas de quatro safras diferentes (2011,2012,2013 e 2014) para fazer o corte, em diferentes proporções em cada um deles. 

Assim, o Cuvèe Francês é 65% Merlot e 35% Cabernet Sauvignon, correspondendo a 0,7% safra 2011, 40% safra 2012, 13% safra 2013 e 40% safra 2014. Este vinho passou por 20  meses de barrica de carvalho francês de primeiro e segundo uso. O vinho tem 13,3% vol e foram feitas 2.250 garrfas. 

Já o Cuvée Americano é 72% de Cabernet Sauvignon e 28% de Merlot, correspondendo a 0,5% safra de 2011, 45% safra de 2012, 12% safra de 2013 e 38 % safra de 2014. Este vinho passou 18 meses por barrica americana (73%) e barrica francesa (27%) de primeiro e segundo uso. Tem 13,5 vol e foram feitas 2.500 garrafas.

São dois vinhos muito interessantes, eu particularmente gostei mais do Cuvée Framcês, é mais meu estilo de vinho, um pouco mais estruturado e intenso que o Cuvèe Americano, porém ambos seguramente irão agradar muito ao consumidor. Vale a pena experimentar.


Se beber não dirija!

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