quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A CIÊNCIA ESPACIAL E O VINHO



Há duas semanas estive no Chile participando do seminário organizado pela ONU sobre “Aplicações de tecnologias espaciais para benefícios socioeconômicos” e, para minha grata surpresa pude assistir a uma apresentação cujo titulo era “Desenvolvimento da ciência e tecnologia espacial aplicada ao país do vinho” feita por pesquisadores do Centro de Geomática da Universidade de Talca localizada na VII Região do Maule, cuja capital é a cidade de Talca. O Chile é dividido em 15 regiões sendo uma delas a Região Metropolitana de Santiago.

 A “Cartografia Digital do Vinhedo Chileno na Região do Maule” é um projeto financiado pelo Governo Regional do Maule por meio do Fundo de Inovação para a Competitividade (FIC), administrado e coordenado pela Fundação para a Inovação Agrária (FIA).  Este projeto foi realizado num período de dois anos, entre 2009 e 2011, e foi criado e executado pelo Centro de Geomática do Centro Tecnológico da Uva e do Vinho da Universidade de Talca. Este último Centro tem como objetivo colaborar com o desenvolvimento da indústria vitivinícola em nível regional e nacional e suas atividades está principalmente focada na pesquisa, transferência de tecnologia e serviços.


O objetivo do projeto era gerar um Sistema Integrado de Informação para o setor vitivinícola da Região do Maule, incorporando informação espacial, temática e técnica para a caracterização e gestão de áreas vitivinícolas, em uma plataforma SIG (Sistema de Informação Geográfica) Para fazer isto foram utilizadas imagens do satélite francês SPOT com resolução espacial de 2,5 metros dos anos de 2008 e 2009, onde foram identificadas as plantações de uva de acordo com o tipo, padrão, cor e textura apresentada por elas nas imagens. Foram coletados também dados de GPS no campo para a localização precisa dos vinhedos, viveiros e adegas, assim como informações de unidades produtivas.
Estas informações resultaram na cartografia da região em distintas escalas: para profissionais que trabalham no campo na escala 1:5.000, isto é, bastante detalhada; mapas na escala 1:10.000 para o nível local e cartografia na escala 1:30.000 para o nível de comunas, para o registro dos vinhedos.
Para poder gerar o Sistema Integrado de Informação foi necessário coletar informações adicionais tais como Dados do Censo Agropecuário de 2007, Dados do Cadastro Vitivinícola de 2007 e Declaração de Colheita de 2009. Foram coletadas ainda:
·         Informação do prédio vitivinícola-nome, endereço, localidade, superfície total do prédio, superfície plantada com vinhedos, lugar de vinificação;
·       Informação técnica para cada parcela vitivinícola: sistema de produção, variedade, superfície, ano de plantio, material vegetal, origem do material vegetal, número de plantas por hectares, orientação das fileiras, topografia, sistema de condução, sistema de formação/poda, regime hídrico, sistema de colheita, sistema de irrigação, origem da água para irrigação;
·         Informação técnica para viveiro de videiras: variedade produzida, origem do material de propagação, tipo de planta produzida, comercialização, certificação, destino da produção;
·         Informação técnica sobre as adegas de vinificação: título de propriedade da adega, tipo de tanques, volume dos tanques, tipo de vinho, variedade, quantidade em litros, denominação de origem, ano de fermentação e formato de comercialização.
Estas informações podem ser gerenciadas em uma base de dados e estão disponíveis aos usuários do setor em uma plataforma Web. Por meio desta ferramenta os produtores podem realizar consultas visuais e de tabelas sobre seus patrimônios e dados gerais da região, apresentar declarações de retificações de seus dados e atividades realizadas sobre seus patrimônios; gerar seus próprios registros de informação predial e gerenciar e manejar seu território.


Como resultado do projeto foi gerado a Base de Dados Espaciais com informações detalhadas das zonas vinícolas da Região do Maule, onde são encontradas a localização geográfica dos produtores e vinhedos, localização dos viveiros, centros de produção de vinho e adegas de vinificação. Para complementar foi realizado um amplo trabalho de difusão e transferência de tecnologia dos resultados do projeto para os produtores da região, por meio de seminários e cursos de capacitação. Foi feita também uma difusão por meio de participação em seminários científicos internacionais.

 Entre os resultados obtidos estão:

  •  Totais de produtores por provincia: Curico (605), Talca (430), Linares (446), Cauquenes (368) Total (1849)

  •  Variedades de uvas tintas (total regional): Cabernet Sauvignon (10.931,36ha), Pais (4.496,41ha), Merlot (3.011,78ha), Carmenere (2.691,03ha), Alicante Henri Bouschet(1.501.95), Syrah (1.370,65ha), Carignan (437,15ha), outras (2,450,7ha)

  •  Variedades de uvas brancas (total regional): Sauvignon Blanc (4.644,58ha), Chardonay (2.615,19ha), Sauvignon Vert (857,20ha), outras (1.1717,98ha)
  • Totais de adegas de vinificação por província: Cauquenes (22), Curico (57), Talca (55), Linares (92), Total (226)

Os benefícios deste projeto para o setor vinícola da região foram: apoio ao desenvolvimento regional em uma de suas áreas produtivas mais importantes; o setor público poderá focalizar melhor os investimentos setoriais a partir de uma base georeferenciada em nível de parcela de produção, maior precisão na elaboração de projetos de investimento do setor privado dos produtores da região, suporte técnico de acordo com as novas tecnologias e onde os produtores poderão consultar e atualizar informações de seus prédios, plataforma de promoção que fortalece as ações que levam a posicionar os produtos da área em diversos mercados (GEOMARKETING).

Depois de toda esta aula de geotencologia para o vinho à noite, quando fomos jantar no restaurante Gatopardo resolvemos experimentar um vinho da Região do Maule. Assim, pedimos um J.Bouchon, Reserva, Chicureo, Sauvignon Blanc, safra 2012. A J.Bouchon é uma vinícola familiar cujas origens remontam a 1892, quando Emile Bouchon, vindo de Bordeaux, na França, se instalou no Chile, com o sonho de criar vinhos de excelência no novo mundo.

Este vinho é produzido com uvas colhidas à mão em vinhedos próprios no Vale do Maule. Tem uma cor amarelo esverdeados suave, aromas intensos a pêssego, com toques de frutas cítricas e tropicais. Na boca podem-se sentir frutas maduras e notas minerais, é um vinho fresco e bem equilibrado, acompanha muito bem todo tipo de peixes e mariscos, peixes crus como ceviches ou sushi, assim como peixes grelhados o ao forno. Combinou perfeitamente com o atum com crosta de sésamo negro e branco, com purê de cebola morada, no molho de manga e cítricos que eu saboreei demoradamente, no jantar.



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

CRUZEIRO PELA PATAGÔNIA E OS VINHOS CHILENOS





Em outubro deste ano, aproveitando as minhas férias decidi fazer um cruzeiro pela Patagônia. Há muito tempo desejava fazer esta viagem, navegar pelos confins do continente sul americano, explorando paisagens deslubrantes, acercar-me do Cabo Horn, lá aos 54° de latitude Sul, onde os Oceanos Atlântico e  Pacífico se encontram e local de difícil navegação. Assim, entrei em contato com uma empresa de turismo e lá me fui navegar pela Patagônia, região que abrange a parte mais meridional da América do Sul, localizada no extremo Sul da Argentina e Chile. É lá que está a cidade mais austral do mundo, Ushuaia, conhecida como o “Fim do Mundo”, na realidade uma cidade bastante simpática.  Lá estão também o estreito de Magalhães, o canal de Beagle e a grande ilha da Terra do Fogo.

A região é açoitada constantemente por ventos fortes que ocorrem em grande parte do ano. Eu que o diga, no cabo Horn enfrentamos ventos de 90km/h com rajadas de 150km/h, o que fez com que  o navio  navegasse adernado a estibordo por mais de  uma hora. É das cidade de Punta Arenas no Chile e de Ushuaia na Argentina, que partem as excursões para a Antártica e os pesquisadores brasileiros que vão trabalhar na Estação Comandante Ferraz na ilha Rei George. O cruzeiro saiu de Punta Arenas, no Chile,  e terminou  em Ushuaia, na Argentina.

Durante cinco dias navegamos por esta região em um navio chileno, o que significa que no almoço e no jantar invariavelmente desfrutávamos de vinhos chilenos, que acompanhavam deliciosos pratos típicos da região como a centolla e o famoso cordeiro patagônico, isto sem falar  na geléia de calafate (a fruta-símbolo da Patagônia,  de tom azul-violeta) servida no café da manhã.
Uma espécie gigante de caranguejo, a centolla, também chamada de centolla patagônica,centolla magallanica, centolla austral ou centolla chilena, tem uma carne tenra que lembra a da lagosta. É natural das águas frias e subnatárticas da costa sudeste do Pacífico, no Chile, em especial na região que vai desde Valdívia até o Cabo Horn e também do sul da Argentina. Sua captura ocorre em alto-mar, a mais de 100 metros de profundidade.  Como não poderia deixar de ser, estando em um barco chileno a Centolla foi um dos pratos presentes em nossos jantares sendo, por duas vezes, servida como entrada acompanhada de alface e aspargos e outros complementos.
Para harmonizar com esta maravilha foi servido no primeiro dia um vinho chadornay, Terra Andina, varietal, safra 2011, da vinícola de mesmo nome localizada na região do Vale Central do Chile, tendo ai sua Denominação de Origem. Este vinho harmoniza muito bem com mariscos, camarões, caranguejos como a Centolla, filés de salmão (servido em um dos jantares) frango, peru, massa com molhos cremosos (servidas em todos os almoços, no buffet, e preparadas na hora com molho a sua escolha) e carpacio de carne (servido de entrada em um dos jantares). 

Este vinho apresenta tons amarelos dourados, é fresco, aromático, com baixo teor alcoólico (13.50% vol) com notas de abacaxi, cítricos e baunilha. É suave, sedoso, com bom volume e um agradável final. Combina também com frutas tropicais como papaia (impossível de encontrar nesta região), manga, banana e abacaxi. Recomenda-se ser consumido jovem a fim de desfrutar-se de seus aromas, mas pode ser guardado por 1 ou 2 anos.
 
No segundo dia em que serviram centolla de entrada fomos brindados com o vinho chardonay Santa Digna, Reserva, safra 2011, da vinícola Miguel Torres, da zona de Rio Claro, que tem o clima mais frio da região do Vale Central do Chile. O vinho, sempre servido na temperatura adequada, em torno de 8 graus, apesar do frio que fazia do lado de fora, apresenta aromas onde predominam notas varietais da uva chadornay, lembrando manga e damasco, com alguns tons de baunilha e côco. Tem um retrogosto bastante frutado, com bom equilíbrio entre a densidade e a acidez.  Harmoniza muito bem com pescados ao forno, frutos do mar, peru e frango servido em molhos cremosos.



No terceiro dia do cruzeiro fomos brindados com o maravilhoso cordeiro patagônico, que é criado nos pastos locais e assado, inteiro, em espetos, isto claro em uma casa de assados em terra, no navio ele foi assado ao forno e acompanhado por um delicioso molho, legumes e arroz. 
Esta maravilhosa iguaria é encontrada na maioria das províncias da Argentina, principalmente na de Rio Negro, onde está localizada a cidade de Bariloche, mas Ushuaia não fica para trás, há várias casas de assado muito charmosas, com o típico cordeiro no espeto exposto na vitrine para aguçar o nosso paladar. 
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Para acompanhar esta maravilha da gastronomia patagônica foi servido um Merlot Terra Andina, Vale Central, safra 2011. Este vinho tem cor rubi violáceo escuro, é suave, bastante balanceado, com aromas de frutas muito maduras e ameixas, apresenta bom corpo, boa estrutura em boca e taninos suaves. Ele é perfeito para acompanhar uma boa carne e massas. É um vinho que pode ser guardado até por três anos, mas se for consumido jovem pode-se desfrutar do frescor dos seus aromas, e acreditem eu fiz isto até a última gotinha de vinho. Para me auxiliar, o garçom que servia a minha mesa era extremamente atento, assim minha taça nunca estava vazia.


Continuando com a orgia gastronômica no quarto dia do cruzeiro foi servido filé de res com molho de vinho cabernet sauvignon e romero, acompanhado de arroz com açafrão e ratatouile de verduras. Como entrada foi servido um carpacio de rês com mostarda dijon, alcachofras, alface e pão torrado. Para acompanhar o filé de res foi servido um vinho Santa Digna Syrah, reserva, safra 2011, da vinícola Miguel Torres. Este é feito com uvas syrah com uma pequena porcentagem de cabernet  sauvignon. É um vinho bastante opulento, vigoroso, de bom corpo e com taninos sedosos. Apresenta cor púrpura e notas de frutas de bosque tais como a amora, violeta e toques de cassis.

Este mesmo shyraz foi servido em um almoço para acompanhar um porco assado com molho agridoce com catchup, com arroz com amêndoas em fatias, uva passas e batatas cozidas. Maravilhoso!!!!!!

Em mais uma etapa da  harmonização de comidas com a coleção de vinhos, no jantar da segunda noite do cruzeiro foi servido um filé de merluza austral a la plancha, marinado ao estilo del sur, isto é, limão, alho, orégano e merkén (que é um tempero chileno e mapuche feito com pimenta cacho de cabra seca e defumada, misturada com sal, cominho e sementes de  coentro). 

Para acompanhar foi servido um vinho sauvignon blanc, Terra Andina, safra 2011, de cor palha pálido com rasgos de verde limão, de aroma intenso, fresco, lembrando a lima, nectarina, pêssego e maracujá. No paladar tem um volume bastante agradável, é equilibrado e harmonioso. É um vinho para ser consumido jovem e combina muito bem com mariscos frescos, ostras e peixes.
Depois de tudo isto é desnecessário dizer que ao regressar aumentei a frequência as aulas de pilates e as caminhadas, mas valeu a pena!!!!




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