segunda-feira, 28 de setembro de 2015

AS VIÚVAS DO CHAMPAGNE



Recentemente encontrei vários artigos sobre as grandes casas produtoras de champagne e me dei conta de que muitas delas tiveram um grande impulso, na virada dos séculos XVIII e XIX graças as viúvas que assumiram a direção dos negócios, após a morte de seus maridos. 

Se vocês prestarem atenção irão perceber que boa parte das melhores casas de champagne, neste período,  foram geridas por mulheres jovens cujas famílias possuíam as grandes casas de champanhe e que quando elas perderam seus maridos para a guerra ou enfermidades, não fizeram o que era esperado das mulheres naqueles tempos, como afastar-se ou vender o negócio, nem se casaram novamente (embora elas ainda estivessem em seus vinte e trinta anos),  entregando as rédeas dos negócios para  um novo marido. Nem assumiram os negócios como um substituto para a afeição maternal frustrada, pois todas elas, com exceção de uma única, tinham filhos quando os seus maridos morreram.

Não foi também por questões materiais que elas assumiram a tarefa de levar os negócios por diante, uma vez que a maioria delas veio de famílias ricas, e vender o negócio após a morte do marido, seguramente lhes daria uma renda confortável para o resto da vida. 

Ao contrário, estas viúvas (Veuves em francês) assumiram  o controle do seu châteaux para produzir alguns dos vinhos mais prestigiados  do mundo - os vinhos que ainda hoje levam seus nomes: Veuve Cliquot, Pommery, Laurent-Perrier, Roederer e Bollinger. O que todas  estas viúvas tinham em comum era o desejo de honrar tanto a memória de seus maridos como de suas famílias que tinham produzido vinho por várias gerações. 

Em alguns casos foi após a morte do marido e com a atuação das viúvas que os champagnes adquiriram prestígio  e fama e até hoje são conhecidos internacionalmente, alguns deles com a palavra Veuve antes do nome do châteaux.

Estas viúvas, cada uma delas, usando estratégias não convencionais e corajosas, para a época, como campanhas de marketing direto e exportação para mercados não comprovadosmais que dobraram a produção durante o seu mandato.


Provavelmente a mais famosa deste grupo foi Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin, Veuve Clicquot. Seu marido morreu de uma febre maligna em 1805, quando Madame Clicquot tinha apenas 27 anos de idade, deixando-a com o negócio do qual ela não tinha nenhum conhecimento e uma filha de oito anos para criar. 

Ela ao invés de se desesperar com a morte do marido, apenas algumas semanas após o funeral, organizou o envio de 25.000 garrafas de champagne para Rússia, grande consumidor do produto. Isto foi um feito extraordinário, dada a incerteza do comércio, naquela época,  durante as guerras napoleônicas. 

Seu carregamento conseguiu passar pelas áreas de conflito e, anos mais tarde, seu champanhe era tão popular na Rússia que Pushkin, Gogol e Tchekhov escreveram sobre ele. Anos mais tarde, em 1814, quando os russos invadiram a sua cidade natal de Reims e suas adegas, ela disse: "Deixe-os beber. Eles vão pagar por isso mais tarde".  


Madame Clicquot, foi uma grande inovadora,   tinha  estratégia própria para aumentar a qualidade e o consumo do seu champagne. Segundo ela o elemento estético do champagne é tão importante quanto o técnico,  ela acreditava também  na inovação e inventou uma técnica  para clarear  o vinho conhecida como remuage, graças a ela o champagne passou a ser produzido em um ritmo maior poupando tempo e dinheiro. E, finalmente, ao perceber que seu champagne fazia sucesso entre soldados de outros países passou a enviar caixas para a Rússia e Polônia, graças a isto beber champagne deixou de ser um hábito local excêntrico, para tornar-se global. 

Remessas deste  champagne foram enviadas a corte brasileira por encomenda do imperador Dom Pedro II. Madame Clicquot geriu o  negócio por mais de sessenta anos, até sua morte em 1866, com a idade de 89 anos.



Em 1858, com a idade de 39 anos, Jeanne Alexandrine Louise Mélin Pommery, a Madame Pommery,  ficou viúva com dois filhos pequenos. Isto ocorreu apenas um ano após seu marido, Alexandre Louis Pommery, um bem sucedido mercador de algodão, ter  investido no negócio de champagne. Ela transformou Pommery a partir de uma pequena adega em uma das casas de champagne mais respeitadas do mundo, comprando alguns dos melhores terrenos para vinhedo na região e criando um novo estilo de bebida, o champagne seco.  Até então, o champagne era sempre feito doce para equilibrar a acidez do vinho.
  

Porém, durante suas viagens à Inglaterra Madame Pommery percebeu que os britânicos gostavam de seu vinho seco com finesse, tais como os envelhecidos  Bordeaux e Borgonha. Então, em 1874, ela decidiu fazer champagne tendo em mente este tipo de bebedor e produziu o primeiro champagne "brut". Como consequência a  Pommery, tornou-se uma das principais exportadoras de champagne para o mercado britânico. Madame Pommery  foi a primeira do ramo a apostar nos rótulos desenhados por artistas e nos design das garrafas.


Depois que ela morreu em 1890, com a idade de de 71 anos, sua filha Louise assumiu a direção da casa com o marido, o príncipe Guy de Polignac. A família Polignac continuou com o negócio até 1979, quando ele mudou de mãos várias vezes em um curto espaço de anos, mas acabou sendo vendida para a LVMH, que manteve os vinhedos, mas revendeu o nome da marca para o empresário belga Paul Vranken em 1996. Hoje, Pommery produz mais de cinco milhões de garrafas por ano e atrai cerca de 90.000 visitantes de todo o mundo à sua magnífica propriedade no coração da cidade de Reims.


Nesta propriedade está a sua enorme cave subterrânea com 18 quilômetros de túneis escavados em pedra calcária durante o período galo-romano, há cerca de 2 mil anos. 

Esses túneis, 30 metros abaixo da superfície, podem  abrigar mais de 20 milhões de garrafas. Eles mantém os champagnes a uma temperatura ideal. Cada túnel leva o nome dos principais mercados consumidores de Pommery no mundo. Para descer até lá, há uma majestosa escada de 116 degraus.


  
A História de Bollinger, fundada em  1829 na ladeia de Ay em Champagne, é a história de uma família que dedicou sua vida a sua paixão. Em 1918, Jacques Bollinger, filho de Georges, tomou a frente dos negócios, expandiu as instalações construindo novas adegas, comprando as vinhas Tauxieres, e adquirindo os ativos de uma outra casa de Champagne no Boulevard du Marechal de Lattire de Tassigny, onde hoje estão localizados os escritórios da Bollinger.

Quando Jacques  morreu em 1941, sua viúva, Lily Bollinger, com quem ele havia se casado em novembro de 1923, passou a administrar sua famosa casa de champagne durante os anos difíceis da ocupação alemã, na França, na Segunda Guerra Mundial. 



A Bollinger prosperou sob seu comando e dobrou de tamanho. Ela era uma figura adorada em Champagne, onde era vista diariamente pedalando sua bicicleta pelos vinhedos
  
Como eles não tinham filhos, ela já estava profundamente envolvida no negócio e por isso foi capaz de conduzi-lo, mesmo durante os difíceis anos da Segunda Guerra Mundial. Durante seus 30 anos como chefe da Bollinger, ela adquiriu vinhedos adicionais em Ay, Mutigny, Grauves (1955 e 1968) e Bisseuil (1961), mas ela era principalmente conhecida por viajar pelo mundo para promover a marca do seu champagne.

Ela se tornou conhecida mundialmente pela sua citação sobre o champagne em uma entrevista que ela concedeu ao Daily Mail em 17 de outubro de 1961 Bebo champagne quando estou feliz e também quando estou triste. Às vezes bebo quando estou sozinha, mas quando tenho companhia considero obrigatório! Se estiver sem fome, bebo champagne, e também bebo quando estou faminta. Às vezes eu nem toco na bebida, a menos que tenha sede.... Esta citação adorna as paredes de restaurantes e bares de vinho de todo o mundo ao lado de uma fotografia de Lily na famosa bicicleta.

Em 1956, um certo James Bond bebeu champagne Bollinger pela primeira vez na novela de Ian Fleming "Diamonds are Forever". Este momento espumante foi o pontapé inicial de um relacionamento longo e invejável com 007, e que continua até hoje, quando Daniel Craig desarrolhou alguns 1990 Bollinger Grande Année no filme Cassino Royale. 

Em 1971, Lily finalmente se aposentou com a idade de 72 anos, quando seus sobrinhos Claude d'Hautefeuille e Christian Bizot a sucederam.Mas mesmo assim ela ainda conseguiu criar um novo nome para o seu lançamento em 1976 do vintage, Grande Année. Foi também neste ano que ela foi premiada com o Cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito. Lily morreu, aos 77 anos, em 1977.
 
Ao longo das últimas três décadas, desde sua morte, a ligação de James Bond com a Bollinger continuou ininterrupta, com 007 movendo-se nitidamente do RD icônico de Bollinger para La Grande Année sempre que ele está precisando de refresco de primeira classe.

Graças a estas grandes damas podemos hoje desfrutar de grandes champagnes. 


Se beber, não dirija!



domingo, 6 de setembro de 2015

O LANÇAMENTO DO VILLA MATARAZZO BY JAYME MONJARDIM



No dia 28 de julho de 2015 participei do evento organizado pela enóloga Maria Amélia Duarte Flores, proprietária da Vinho e Arte Casa, uma loja conceito/boutique de vinhos e espaço de eventos, no Bairro Menino Deus, em Porto Alegre, para o lançamento do Villa Matarazzo, resultado da parceria entre Jaime Monjardim e a enóloga.  Foi uma noite de comemoração, bons vinhos, excelente comida, gente bonita, amantes do vinho, tudo acompanhado com a deliciosa música do grupo Papas da Língua.

Jayme Monjardim Matarazzo, diretor de novelas e miniséries na Globo e cineasta, que sempre foi apreciador de bons vinhos, conheceu a enóloga durante o lançamento do filme “O Tempo e o Vento”, dirigido por ele e baseado na obra do escritor gaúcho Érico Veríssimo, em setembro de 2013. 
Na ocasião ele mencionou sobre sua vontade de ter um vinho com seu nome, nascendo daí a parceria que desenvolveu o projeto “Villa Matarazzo”. Este projeto além de inserir o diretor no mundo do vinho é uma homenagem a sua família, que por meio da indústria alimentícia tornou-se um dos maiores grupos empresariais do país.

 
O vinho Villa Matarazzo é como uma peça de colecionador, pois foram produzidas apenas 200 garrafas (todas numeradas) algumas das quais saboreamos durante o evento, restando atualmente apenas 30 que ainda estão à venda pelo preço de R$750,00. 
Para a elaboração desta primeira edição foi selecionada um partida de um vinho de excepcional qualidade produzido por um pequeno produtor português, Quinta dos Avigados, da região do Douro em Portugal, sendo um corte de 75% de Touriga nacional da safra de 2008, e outros 25% de vinhas velhas (tinta Roriz e tinta Barroca) provenientes de cepas cultivadas em vinhedos antigos, alguns com mais de 80 anos,  na mesma propriedade. 

O Villa Matarazzo, Quinta dos Avigados, Grande reserva, Douro, DOC, Portugal Lote I é um vinho de cor vermelho rubi intenso, com 15,5% de graduação alcoólica, acidez moderada, estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês, engarrafado em dezembro de 2010, evolução lenta, com potencial de envelhecimento até 2020, e que acompanha bem pratos de carnes vermelhas bem condimentadas e queijos de ovelha curados.
 Em 2014 o Villa Matarazzo foi entregue como presente para o "Cavalheiro Mais Elegante" no Grande Prêmio de Turfe “Bento Gonçalves”, o mais tradicional do Rio Grande do Sul, realizado em 15 de novembro, no Jockey Clube do Rio Grande do Sul. O ganhador recebeu o "Villa Matarazzo - Lote I . Edição 2008 - Garrafa número 130".


Conforme mencionado pelo próprio Monjardim durante o bate-papo que se seguiu ao jantar, ele é um apaixonado pelo Rio Grande do Sul, não apenas por suas belas paisagens, mas também pela cultura e tradições cultivadas no estado. Ele cria cavalos da raça crioula, e é proprietário da estância da Figueira, uma fazenda construída em 1795 e que durante dez anos serviu de Quartel General da Revolução Farroupilha (1835-1945). Pertenceu a Dona Antônia, irmã do General Bento Gonçalves, o grande herói Farroupilha e que abrigou sua esposa, a Sra. Caetana Gonzales da Silva, uruguaia de nascimento, até a sua morte. Esta estância fica na região de Camaquã

Além desta propriedade, Monjardim também manteve uma forte relação com o estado, sua cultura e história ao dirigir a minisérie a Casa das Sete Mulheres, baseada no romance homônimo da escritora gaúcha Leticia Wierzchowski. A estância Figueira serviu de cenário para O filme O Tempo e o Vento dirigido pelo cineasta. 


Monjardim já tem em mente a produção de um espumante, o Villa Matarazzo Rosé Maysa, cujo nome é uma homenagem a sua mãe, a cantora Maysa falecida em 1977 em um acidente de carro. Como as negociações com as vinícolas fabricantes ainda estão em andamento.

Durante o evento de lançamento foram oferecidos outros vinhos, como o Espumante Poesia do Pampa (80% Chardonnay, 20% Sauvignon Blanc), Brut da Vinícola Guatambu, que acompanhou a tábua de queijos e frios. Em seguida para acompanhar as saladas de verduras foi servido o Secreto da Viu Manent elaborado com uvas Viognier (Viognier 85% e outras variedades 15%) e harmonizando com a polenta mole com linguiça desfiada e um toque de molho de bergamota (mexerica) e com o risoto de funghi foi servido o Secreto Syrah da Viu Manent (Syrah 85% e 15% de outras variedades não divulgadas).  



 













O grupo Papas da Língua, uma banda de pop rock brasileira, criada em Porto Alegre em 1993, pelo músico Léo Henkin, encantou a noite com suas músicas. 

O grupo tem uma forte amizade com Jayme Monjardim que selecionou a canção "Eu Sei" para a trilha sonora da novela Páginas da Vida. Eles também participaram de uma das cenas da trama.

 Após o jantar e a degustação do Villa Matarazzo, foi o momento de curtirmos um bate papo descontraído com o diretor e cantarmos junto com o vocalista do grupo Sergio Moah, como bons e velhos amigos. Uma noite agradável, ambiente aconchegante,  pessoas simpáticas, música gostosa, pena que era segunda-feira a noite e o dia seguinte era dia de trabalho. 





Parabéns ao Jayme Monjardim e a Maria Amélia por este evento e pelo delicioso Villa Matarazzo. 

Se beber não dirija!

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