segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

FRANSCHHOEK E O VINHO SUL-AFRICANO

Acabo de regressar de uma viagem de férias pela África do Sul, onde tive a  oportunidade de visitar a encantadora cidadezinha de Franschhoek (literalmente "o canto dos franceses" em holandês),na província de Western Cape, a 75 km da Cidade do Cabo.  
 

Apesar de ter apenas em torno de 15.000 habitantes, é uma importante área vinícola e famoso centro gastronômico do país, onde os melhores chefs criam pratos deliciosos da cozinha internacional. 

Fundada em 1688 por huguenotes franceses, a cidade está localizada no rico e fértil Vale do Rio Berg, entre montanhas altas, bem no coração da região Vinícola do Cabo.Desde 2000 ela foi incorporada a  municipalidade de Stellenbosch, outra importante área vinícola. É um belo centro turístico, para onde acorrem centenas de turistas europeus e norte-americanos e, de vez em quando, uma brasileira.
 
Desde 1652, por meio da Companhia Holandesa das Índias Orientais, a África do Sul já vinha sendo colonizada por holandeses e, em abril deste mesmo ano, o holandês Jan Van Riebeeck fundou a Cidade do Cabo no  extremo sul do continente africano, dando origem a Colônia do Cabo, da qual Franschhoek  fazia parte, o que explica a forte influência holandesa na sua arquitetura até os dias de hoje. 
A história de Franschhoek  remonta há mais de 300 anos e começa na França no século 16, onde na época havia uma grande opressão baseada na fé dos católicos governantes em relação aos protestantes, o que fez com que mais de 300.000 deles (huguenotes), com suas familias, se refugiassem na Holanda. 

Eles chegaram a Colônia do Cabo, por meio de uma solicitação do governador Simon van der Stel, à Companhia das Índias Orientais, que fornecessem especilistas em vinhedos e oliveiras, com o objetivo de cultivar as terras ricas em aluviões, onde hoje estão localizados a maioria dos vinhedos em Franschhoek. O pedido foi aceito e em dezemro de 1687, partiu da Holanda, um primeiro navio transportando estes refugiados para a Colônia do Cabo. 

Foi em Franschhoek, onde nove dessas familias huguenotes se estebeleceram e começaram a povoar o vale, implantando fazendas e empresas e trazendo consigo sua experiência na agricultura, entre elas a vitivinicultura. A Companhia das Índias oferecia-lhes um pecúlio e uma terra para cultivar na África do Sul por um período mínimo de cinco anos. Sua história está contada no Museu dos Huguenotes localizado na cidade. 
Hoje em dia, a maioria das fazendas ainda carregam seus nomes franceses originais e as vínícolas têm suas instalações construídas no mais puro estilo do Cabo Holandês (Cape Dutch); as três que eu visitei eram neste estilo. 

Na região são encontradas ao redor de 40 vinícolas onde podem ser degustados exclentes vinhos brancos como Chardonnay, Chenin Blanc, Pinot Griggio, Sauvignon Blanc e Semillon, e tintos encorpados como Cabernet Sauvingon, Shiraz, Sangiovese, Pinot Noir, Merlot e claro o emblemático sul-africano Pinotage, resultado de um cruzamento local ente a Pinot Noir e a Cinsaut(Hermintage). A área também produz alguns extraordinários exemplares elaborados por meio do Method Cap Classique (MCC), que é o vinho espumante sul-africano elaborado com o mesmo processo tradicional que o Champagne. 

Para visitar as vinícolas eles tem o Franschhoek Wine Tram que, partindo do centro da cidade leva os turistas para visitar as vinícolas, por seis linhas diferentes, pelo sistema hop on-hop off. O turista tem a possibilidade de experimentar as diversas atividades oferecidas por elas, desde uma simples degustação de vinhos, até um passeio pela adega, almoço ou simplesmente passear pelos vinhedos. A maioria das vinícolas tem instalações para hospedagem, restaurantes e locais para eventos.
Eu escolhi um passeio denominado Curate Wine Experience, que me levou a três vinícolas - Rickety Bridge Winery, Grande Provence Heritage Estate e La Bri Estate's Vineyard and Cellar  Renaissence - que incluía, além de degustações, uma palestra sobre vinhos da região e um almoço harmonizado na Rickety Bridge. 

A história de vinificação da Rickety Bridge Winery remonta ao século XVII, quando suas terras faziam parte da fazenda original La Provence, concedida aos primeiros huguenotes que se estabeleceram na região. Ao longo dos anos a fazenda foi subdividida e, em 1797, o que hoje é a vinícola foi concedida a viúva Paulina De Villiers. Atualmente, é uma vinícola moderna de estilo boutique que produz vinhos premiados, e onde também se pode desfrutar do restaurante Paulina's e de um campo de golfe. 
Tivemos a oportunidade de degustar três vinhos brancos - Rickety Bridge Sauvignon Blanc, Rickety Bridge Chenin Blanc, e Rickety Bridge Chardonnay, aliás os vinhos chardonnay sul-africanos são muito bons - safra 2017 e três tintos - Rickety Bridge Cabernet Sauvignon, Rickety Bridge Pinotage e Rickety Bridge Merlot -, sendo o primeiro da safra de 2015 e os outros dois da safra de 2016. Destaque para o Chardonnay,  envelhecido em barril de carvalho francês por 10 meses e que deverá alcançar o seu pico máximo em 2 anos, podendo ser degustado em até 6 anos. Aromas cítricos, com nuances de noz e notas de flor de laranjeira, com paladar rico  e estrurado. 

Destaque também para o Rickety Bridge Cabernet Sauvignon Paulina's Reserva 2015, envelhecido por 24 meses em barris de carvalho fancês (35% em barril novo e 65% em barril mais envelhecido). Aromas cítrico com nuances de noz, notas de flor de laranjeira, paladar rico e estruturado, fcom frutas torpicais, caramelo e especiarias. Para mim o melhor dos seis vinhos degustados.
 
Em 1694 o francês huguenote Pierre Joubert, com 29 anos de idade, chegou a Franschhoek acompanhado de sua esposa. Ele morreu aos 67 anos em 1732 deixando um legado para as gerações futuras de hectares de vinhas e exemplos notáveis da arquitetura holandesa do Cabo, em suas fazendas, das quais o mais belo exemplar é a Manor House na Grande Provence Heritage Wine Estate, a segunda vinícola que visitamos, que se destaca também por seus belos jardins onde participamos de uma degustação de vinhos.
Os vinhos degustados foram da linha Grande Provence, um Sauvignon Blanc 2017, um Chardonnay 2017, um Cabernet Sauvignon 2015 e um Shiraz 2014. 
O Sauvignon Blanc é um vinho de  corpo médio, frutado, bem equlibrado e com acidez nítida e retrogosto persistente. O  Chardonnay é um vinho elegante, encorpado com excelente integração de frutas e madeira. Aromas cítricos, amêndoas e sabores cremosos no nariz e palato, com nuances de baunilha. Amadurecido por 11 meses em barricas de carvalho francês.
O Cabernet Sauvignon é um vinho encorpado com aromas de frutas vermelhas, ameixa e pimenta branca, com um toque de menta no final, suave com taninos aveludados. Este vinho foi amadurecido em barricas de carvalho por 15 meses e seu tempo de guarda é de 3 a 5 anos. O Shiraz é um vinho encorpado, com sabor de amora madura, ameixa preta, com nuances de pimenta branca no nariz e no paladar. Taninos suaves, acabamento elegante, foi amadurecido  em carvalho por 15 meses e seu tempo de guarda é de 3 a 5 anos. 

A última vinícola a ser visitada foi a La Bri Estate's Vineyard and Cellar Renaissence. A  propriedade se constitui uma parte essencial da história e da cultura do vinho sul-africano, uma vez que ela é uma das mais antigas fazendas alocadas para os huguenotes no vale de Franschhoek. A fazenda de cerca de 50 ha foi originalmente concedida a Jacques (Jacob) de Villiers em outubro de 1694. Hoje, La Bri é uma vinícola Boutique bem sucedida com construções típicas das últimas fases da arquitetura holandesa do Cabo.
Algo que chamou muito minha atenção nestas visitas, é o fato de  todas as três vinícolas terem uma boa infraestrutura turística e jardins maravilhosos, cobertos de árvores.

Na La Bri, pela primeira vez degustamos vinhos varietais e de corte, nas duas outras vinícolas foram apenas varietais, uma característica dos vinhos sul-africanos. Além do mais, havia duas opções de harmonização para a degustação, com chocolates e com carnes secas de carne de boi da raça Angus e dois animais selvagens, que não consegui definir quais, pois os nomes estão em africaner, um do idiomas oficiais da África do Sul. 
Os vinhos degustados foram o La Bri Chardonnay 2016, que não fez parte da harmonizaçõa, o La Bri Merlot 2015, o La Bri Syrah 2015 e o La Bri Affinity  2014, um corte de 50% Cabernet Sauvignon, 30% Merlot, 15% Cabernet Franc e 5% Petit Verdot. 


 A harmonização com as carnes e o chcolate foi a seguinte: 
  •  La Bri Merlot -  de cor granada, com aromas de cerejas pretas, noz-moscada e cedro, taninos integrados e macios, no palato notas de cogumelos secos. Foi harmonizado com cranberries cobertas com chocolate negro ou com carne seca de Droewors. Não tenho a menor ideia do que é isto, principlamente porque eu fiz a harmonização com chcoclate;
  • La Bri Syrah - 95% Syrah e 5% Viognier, de cor violeta intensa, apresenta aromas de frutas ricas e persistentes, taninos elegantes e integrados, foi harmonizado com chocolate ganache com óleo de menta ou carne seca de Angus; 
  • La Bri Affinity - este vinho de corte bordalês, excepcionalmente complexo, apresenta cor de ameixa escura, com especiarias defumadas, tabaco e toques de cedro, com taninos firmes. Seus componentes foram vinificados e amadurecidos separadamente, e sendo que a seleção ocorreu após 23 meses de maturação individual em carvalho francês, 41% novo. A harmonização foi feita com chocolate negro recheado de avelã, com cobertura de noz salgada ou carne seca de Springbok, também não sei que animal é. 
Esta viagem a África do Sul foi uma experiência muito interessante, não só pelos bons vinhos e a excelente gastronomia, mas o país como um todo vale a pena ser visitado. A oportunidade de estar em frente a prisão onde Nelson Mandela foi libertado, conhecer o Cabo da Boa Esperança ou fazer cócegas na barriguinha de bebes leões, foram experiências únicas, que certemante me motivam a voltar. 

Se beber, não dirija!


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