quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

VINERIA 1976 - RELEITURA DO JULGAMENTO DE PARIS

 No último dia 28 de novembro, participei de uma Wine Class  na Vineria1976, organizada para comemorar o segundo aniversário, deste charmoso wine bar localizado no coração do bairro Moinhos de Ventos, em Porto Alegre, RS. 
Seus simpáticos proprietários são Priscila Fabris Ortiz, uma publicitária com mestrado em marketing e WSET 1 e 2, e René Ormazabal Moura, mestre em Wine Bussines, que desenvolveu o projeto da Bodega Sossego, vinícola da família com vinhedos em Uruguaiana, na Campanha Gaúcha e atual  presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha.

Eles tiveram a ideia de fazer uma Wine Class sobre uma releitura do famoso Julgamento de Paris, ocorrido em 24 de maio de 1976, quando o mundo mudou, para sempre,  seu conceito a respeito dos vinhos californianos. Este julgamento serviu de inspiração na hora da escolha do nome da Vineria1976. 
A Vineria1976 traz um conceito interessante, que é apresentar uma oferta ampla de rótulos de diferentes regiões, do Velho e Novo Mundo, de uma forma descomplicada. O Vineria1976 tem a missão de engajar novos consumidores, apresentando a bebida para quem não pretende reconhecer aromas ou sabores e também não se preocupa com regras de harmonização na hora de degustar um bom vinho. Mas os conhecedores e amantes do vinho serão sempre bem-vindos e encontrarão rótulos de diferentes lugares do mundo.

Mensalmente, promove uma aula-degustação com um profissional da indústria do vinho, intitulada Wine Class, cada uma delas com  uma temática diferente. Esta foi sobre o Julgamento de Paris,  ministrada pelo competente sommelier Vinícius Santiago, Diretor Executivo de Cursos da Associação Brasileira de Sommeliers-ABS/RS, e da qual participaram 16 amantes do vinho, entre eles eu. 
A ideia de realizar esta prova  em Paris, foi de Steven Spurrier, um inglês comerciante de vinhos que possuía, no centro de Paris  uma loja de vinhos bastante inovadora e, ao lado dela, uma escola de vinhos. Tendo sido recentemente apresentado aos vinhos da Califórnia e curioso para ver como eles fariam frente aos vinhos franceses, elaborados  com o mesmo tipo de uvas, organizou  uma degustação como parte das atividades de comemoração do bicentenário da independência dos Estados Unidos, na cidade luz. 

Os  vinhos franceses escolhidos para a prova  eram tintos de Bordeaux  e os vinhos brancos eram da Borgonha, que foram comparados com os Cabernet Sauvignons e Chardonnays da California. A degustação foi as cegas, com a identidade dos vinhos escondidas e os rótulos revelados somente depois que o júri, de nove provadores, votaram  sua ordem de preferência. Entre eles estavam o co-proprietário do Domaine de la Romaneée-Conti, Aubert de Villaine, e os sommeliers de restaurantes três estrelas como o Tour d'Argent e Taivellent. 

O impensável aconteceu. O vinho da cave Stag's Leap de 1973 S.L.V. Cabernet Sauvignon foi julgado o melhor de todos. O Cabernet Sauvignon do Vale do Napa superou os quatro vinhos Bordeuax top de linha, entre eles Château Mouton-Rothschild e Château Haut-Brion e,  1973 Chateau Montelena Chardonnay da Califórnia superou os seus homólogos franceses. 

Este evento causou uma enorme polêmica no mundo do vinho, uma vez que era um evento pequeno, onde menos de 20 pessoas compareceram, incluindo os garçons que serviram os vinhos.  A degustação ocorreu em uma sala emprestada, e todos tiveram que se retirar apressadamente ao final do evento porque posteriormente haveria uma festa de casamento no local. Porém, devido ao resultado inédito, a polêmica causada e a  derrota da prévia certeza de que os melhores vinhos franceses bateriam sem dó e nem piedade os vinhos californianos, ele é considerado até hoje a degustação mais importante do século XX. 

Os vinhos degustados na wine class são alguns dos exemplares degustados no famoso Julgamento de Paris.

O primeiro deles é o Stag's Leap Winery 2009, Cabernet Sauvignon, do Vale do Napa. É um corte de Cabernet Sauvignon (79%), Merlot (10%), Cabernet Franc (6%), Petit Sirah (3%), Malbec (1%) e Petit Verdot (1%), teor alcoólico 14%.  O amadurecimento do vinho se deu em barricas de carvalho francês, sendo 37% novo, com total de 20 meses de permanência em madeira. É um vinho fresco e suculento com sabores de mirtilo e amora bem delimitados, reforçados por ervas frescas e um toque de especiarias. O carvalho é perfeitamente integrado, mostrando em vez de mascarar a fruta, e os taninos são reativos sem serem agressivos. O tinto Stag's Leap SLV 1973 foi o grande vencedor do Julgamento de Paris. 

O segundo vinho é o Clos du Marquis 2010, é um corte de Cabernet Sauvignon (75%), Merlot (17%), e Cabernet Franc (8%). Apresenta aromas de frutas negras maduras, kirsch e notas de alcaçuz, em boca tem corpo médio, taninos suaves, grande estrutura e final longo e persistente. Vinho de grande guarda, com envelhecimento de 12 a 18 meses em barris de carvalho, graduação alcoólica de 14%. O Château Léoville La Cases é uma vinícola em Saint-Julien, na região de Bordeaux, na França.  Este Château foi uma  das primeiras propriedades em Bordeuax a apresentar um segundo rótulo, o Clos du Marquis.  Em 1976, o Château Léoville Las Cases 1971 ficou em 6º lugar no ranking do Julgamento de Paris. 
O terceiro vinho é o Chateau Montelena 2012, Chardonnay, do Vale do Napa, Estados Unidos. 100% Chardonnay, este vinho amadureceu por 10 meses em barricas de carvalho francês, 8% novo.  Graduação alcoólica 13,7%, apresenta muita mineralidade, terra e pedras molhadas. Toques cítricos de grapefruit, maracujá e abacaxi, posteriormente notas agradáveis de avelãs tostadas. A história do Chateau Montelena começa em 1882, sendo posteriormente fechado durante a Lei Seca (1920 a 1933). O Chateau Montelena 1973 Chardonnay foi o grande vencedor, na ala dos vinhos brancos, no Julgamento de Paris, superando vinhos ícones da Borgonha. O filme "Bottle Schock retrata esta saga. 

O quarto vinho é  AOC Joseph Drouhin Puligny-Montrachet 2011, Chardonnay. Este vinho, uma Appelation d'origine contrôlée (AOC), é produzido na comuna de Puligny-Montrachet, na Côte de Beaune, também chamada de Côte des Blancs, Borgonha, França.  100% Chardonnay, muito mineral, elegante, amadureceu por 12 meses em tonéis de carvalho francês, 25% novo. O vinho é claro e brilhante, com uma cor limão pálido, no nariz apresenta aromas de intensidade média de pêssegos casca de limão , maçã verde, anis e baunilha. É seco em boca com uma acidez média. Em 1976 um outro vinho da mesma vinícola participou do Julgamento de Paris, o Beaune Clos de Mouches Preier Cru 1973 que ficou em quinto lugar.  
Foi, sem dúvida, uma experiência muito interessante. 


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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

PRIMEIRO LOTE DE ESPUMANTE BRASILEIRO ENVELHECIDO EM CAVE SUBMERSA

O Jornal do Comércio do Rio Grande do Sul, em sua edição de 19 de outubro de 2017 anunciou a retirada do mar, pela Vinícola Miolo, do primeiro lote de espumante brasileiro envelhecido em cave submersa. Esta vinícola é a única no Brasil a fazer este procedimento.
Fonte: Jornal do Comércio do Rio Grande do Sul p 19/10/2017

Este primeiro lote de 500 garrafas do espumante Miolo Cuvée Tradition Brut, após ficarem exatamente um ano submersos, para serem  envelhecidos,  em containeres especiais, na ilha de Ouessant, na região da Bretagne, no norte da França, foram retirados do mar no dia 12 de outubro passado. A cave submarina mantém os espumantes em condições ideiais para o envelhecimento, tais como: escuridão, umidade total, pressão constante e temperetura que varia 11° e 13° C.

De acordo com Adriano Miolo, superintendente da Vinícola Miolo, os efeitos da conservação dos espumantes no fundo do mar são observados em testes de laboratório e em degustações. Um rótulo submerso apresenta até 10 vezes mais compostos moleculares do que um envelhecido nos moldes tradicionais. Estes compostos são responsáveis pela formação dos aromas e da complexidade da bebida. 
    
Em degustações às cegas os resultados indicaram a qualidade deste método de envelhecimento, com os espumantes apresentando sabor mais rico e floral, complexidade, frescor e apuradas notas de manteiga e castanha. 

Este método de envelhecimento de vinhos não é uma novidade, em 2002, Yannick Heude, proprietário da Cave de L’Abbaye Saint-Jean, na França, iniciou a experiência de submergir garrafas de vinho na baía de Saint-Malo.  O que levou Heude a utilizar este método, era a certeza de que em termos de temperatura, umidade e luz o mar seria uma excelente adega, o  que  ele não pode prever foi que o efeito das fortes marés e das correntes (a 15 km/h), massageariam  as garrafas duas vezes ao dia, influenciando nos resultados dos vinhos (branco e tinto) envelhecidos desta forma. 
    
Os espumantes da linha Miolo Cuvée Tradition são elaborados no Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, com uvas Chardonnay e Pinot Noir pelo Método Tradicional, com fermentação própria na garrafa, o mesmo processo que é utilizado na região de Champagne na França. A previsão é que cheguem aos mercados brasileiro e eupropeu ainda em 2017,  porém os preços e o local das vendas no Brasil ainda não foram definidos. O espumante Miolo Cuvée Tradition foi o espumante brasileiro mais vendido  em Paris em 2016.
  
No Brasil e na Europa há grandes expectativas em relação à retirada das garrafas do mar. Estamos nos aproximando do final do ano, um momento expressivo para as vendas de espumantes e, sem dúvida, apreciadores e colecionadores vão querer ter em suas adegas e comemorações o primeiro produto brasileiro envelhecido em cave submersa”, comemora Adriano Miolo.

Um pequeno lote do Miolo Cuveé Tradition Brut Rosé repousa desde junho deste ano no mar de Bretagne e deve permanecer lá por 12 meses, chegando ao mercado apenas em 2018, em edição ainda mais limitada. Um segundo lote do Miolo Cuvée Tradition Brut também foi submerso em junho e igualmente deverá chegar ao mercado em 2018. 


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sábado, 23 de setembro de 2017

25º AVALIAÇÃO NACIONAL DE VINHOS - A MAIOR DEGUSTAÇÃO DO PLANETA

       No último dia 23 de setembro, aconteceu em Bento Gonçalves, município da Serra Gaúcha, a 25º  Avaliação Nacional de Vinhos - Safra 2017, da qual participaram 850 pessoas de todo o Brasil e exterior e foram avaliadas as 16 amostras de vinhos mais representativas da safra de 2017. Esta é uma iniciativa da Associação Brasileira de Enologia (ABE)  e a maior degustação de vinhos de uma única safra, no mundo. 
       Desde 1993 a ABE realiza, em Bento Gonçalves, esta avaliação que tem a finalidade de promover o vinho brasileiro e divulgar práticas de degustção e apreciação de vinhos, sendo o único no mundo, em seu gênero. Apesar de seguir um regulamento formal, esta avaliação não é um concurso. Este evento é reconhecido por sua proximidade com a cadeia produtiva da uva e do vinho, e um dos seus legados é nortear produtores e enólogos na escolha de variedades de uvas, técnicas de elaboração e lançamento de produtos. 
       A cada amostra de vinho apresentada, todos os participantes registravam em uma ficha individual, e este ano era possível fazer on line por meio do site www.anvinhos.com.br,  suas sensações visuais, olfativas e gustativas, podendo, em seguida, compará-las com a média dos 16 degustadores convidados.
     Esta foi a primeira vez que participei da Avaliação Nacional, juntamente com outros quatro colegas sommeliers, e foi uma experiência muito interessante
       Participaram enófilos de 10 estados (Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo), além do Distrito Federal. O painel de comentaristas era formado por 16 membros, 15 convidados de quatro países (Argentina, Brasil, Itália e Japão) e um apreciador sorteado entre o público, Odila Armbruster de Moraes – SBAV-SP. Entre os comentaristas estavam Junko Iwamoto, jornalista Master of Wine do Japão; Giuseppina Paola Parpinello, enóloga e pesquisadora da Unversidade de Bologna, Itália; Cecilia Aldaz, da Argentina, sommelière e apresentadora do programa "Um brinde ao vinho" na Globosat e Ivane Fávero, presidente da Associação Internacional de Enoturismo-Aenotur, do Brasil. 
      O serviço do vinho  foi feito por  105 alunos dos cursos de Viticultura e Enologia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS),  Campus Bento Gonçalves, do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Campus Urupema e  do curso de graduação em enologia da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Campus Dom Pedrito. De forma coordenada eles serviram as dezesseis amostras de vinhos para todos os participantes degustarem. Foram servidas um total de 1.440  garrafas, 90 de cada vinho.
       Na primeira Avaliação Nacional, realizada em 1993 foram 42 amostras de vinhos, de 18 vinícolas e participaram 170 apreciadores. Nesta edição foram inscritas 327 amostras por 59 vinícolas de seis estados brasileiros (Bahia, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo), sendo a maior Avaliação dos últimos quatro anos. Nestes 25 anos de realização deste evento já foram avaliadas 5.849 amostras de vinhos e teve a participação de 16.317 apreciadores.
     Durante o mês de agosto, 118 enólogos realizaram uma degustação de seleção, às cegas, de todas as amostras seguindo normas intenacionais sob a coordenação da Embrapa Uva e Vinho, obtendo-se com isto um ranking dos 30% mais representativos, num total de 103 vinhos. Deste seleto grupo, foram selecionados os 16 vinhos mais representativos que foram degustados por todos os participantes da Avaliação Nacional.  Coube ao presidente da ABE, enólogo Edegar Scortegagna, ao final do evento revelar quais foram os 16 vinhos degustados. 
      Desde 1993 a ABE homenageia figuras que dedicam seu tempo, conhecimento e talento para a promoção e valorização do vinho brasileiro. O Trofeú Vitis Amigo do Vinho 2017 foi entregue para a sommelière internacional e jornalista Adréia Debom, editôra da Revista Bon Vivant, o TroféuVitis Destaque Enológico 2017 foi entregue à enóloga Maria Regina Ferreto Flores, atual diretora técnica da LNF Latino Americana

 As 16 amostras degustadas e seus comentaristas:

Categoria Vinho Base para Espumante
Chardonnay/Riesling Itálico–Chandon (Garibaldi–RS)–Flávio Zílio
Chardonnay–Casa Valduga (Bento Gonçalves–RS)–Junko Iwamoto
Chardonnay–Domno do Brasil (Garibaldi–RS)–Álvaro Cézar Galvão

Categoria Branco Fino Seco Não Aromático
Riesling Itálico–Cooperativa Vinícola Aurora (Bento Gonçalves–RS)–Fabiana Gonçalves Mignot
Chardonnay–Vinícola Almadén (Santana do Livramento–RS)–Danio Braga
Chardonnay–Vinícola Cave de Pedra (Bento Gonçalves–RS)–Maria Regina Ferreto Flores

Categoria Branco Fino Seco Aromático
Sauvignon Blanc–Vinícola Fazenda Santa Rita (Vacaria–RS)–Alessandra Kianek
Moscato Giallo–Cooperativa Vinícola São João (Farroupilha–RS)–Odila Armbruster de Moraes

Categoria Tinto Fino Seco Jovem
Cabernet Franc–Vinícola Salton (Bento Gonçalves–RS)–Márcia Monteiro

Categoria Tinto Fino Seco
Petit Syrah– Luiz Argentina Vinhos Finos (Flores da Cunha–RS)–Paulo Brammer
Merlot–Casa Perini (Farroupilha–RS) – Ivane Maria Remus Fávero
Merlot – Miolo Wine Group (Bento Gonçalves – RS) – Daniel Scola
Cabernet Franc – Giacomin Indústria de Bebidas (Flores da Cunha–RS)–Giuseppina Paola Parpinello
Malbec–Vinícola Almaúnica (Bento Gonçalves–RS)–Cecília Aldaz
Cabernet Sauvignon–Guatambu Estância do Vinho (Dom Pedrito–RS)–Protásio Lemos da Luz
Tannat–Don Guerino Vinhos e Espumantes (Alto Feliz–RS)–Mauro Celso Zanus

No site da Associação Brasileira de Enologia (ABE) voces podem conferir o resultado completo desta avaliação.

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domingo, 27 de agosto de 2017

AOC MARGAUX - UMA NOITE ÚNICA

        Na semana passada participei da degustação de vinhos ícones, raridades, de Bordeaux  e que expressam muito  bem a qualidade dos vinhos produzidos nesta região da França. A Vinho & Arte organizou uma degustação histórica com vinhos da pequena e charmosa região de Margaux, com uma sequência de safras míticas e produtores ícones, com vinhos classificados como 1er, 2eme e 3eme há mais de 150 anos. 
      Em 1885, quando por ocasião de uma exposição em Paris, semelhante com um feira mundial, os organizadores solicitaram a Câmara de Comércio de Bordeaux que desenvolvesse uma classificação para os vinhos de Bordeaux. Eles delegaram esta tarefa aos intermediários, isto é, aquelas pessoas que compravam e revendiam vinhos de Bordeaux. Estes comerciantes nomearam 61 vinhos tintos principais, 60 deles eram de Médoc e um de um local que na época era chamado de Graves, e que hoje em dia é conhecido por Péssac-Léognan. 
      De acordo com os preços e a reputação  alcançados pelos vinhos  naquela época, eles dividiram estes 61 vinhos em cinco categorias, conhecidas como cru ou cultivos. Em Bordeuax, cru corresponde  a uma propriedade vinífera, que é chamada de Château. 
      A listagem elaborada é conhecida como a Classificação de 1885 e, até hoje, estes cultivos restritos têm  grande prestígio entre os amantes do vinho. A lista a seguir apresenta estas cinco categorias e o nome dos mais importante Chateaux: 
  • Premiers Crus (Primeiros Cultivos) - 5 Chateaux- Château  Latife-Rothschild; Château Latour; Château Margaux; Château Haut-Biron; Château Mouton-Rothschild (promovido de Segunda Rotação em 1973);
  • Seconds Crus (Segundos Cultivos) - 14 Chateuax;
  • Troisièmes Crus (Terceiros Cultivos)  -  14 Chateaux;
  • Quatrièmes Crus (Quartos Cultivos)  - 10 Chateaux;
  • Cinquièmes Crus (Quintos Cultivos)  - 18 Chateuax.
      O primeiro vinho que degustamos foi o Château Margaux Premier Gran Cru Classe 1993. Este vinho é considerado o mais elegante dos Premiers Crus e constantemente um dos vinhos mais caros do mundo, algo em torno de R$5.000,00. 
       A safra de 1993, foi considerada uma boa safra em que a personalidade de Marguax brilha para envelhecer até 20 anos. Elegância e complexidade caracterizam este Premier Cru, elaborado com 75% de Cabernet Sauvigon, 25% de Merlot e 5% de Petit Verdot, de cor vermelho escuro, de corpo médio, maduro, com aromas de groselha, cereja negra e pétala de rosa, teor alcoólico 13,5%. 
     O Château Margaux é uma das mais famosas propriedades vinícolas de Bordeaux, localizado a leste de Margaux, no Médoc.  Seus vinhedos datam de meados do século XVII e no começo dos anos 1700 seus vinhos já eram dos mais procurados no Médoc. Ao redor de 90% dos atuais 78 hectares de vinhedos da propriedade correspondem aos mesmos da classificação em 1855, o que é bastante raro em Bordeaux. 
      O segundo vinho que degustamos foi o Château-Lascombe Margaux Second Cru 1999, conhecido por sua cor vermelho intenso, textura rica, fruta madura e elegante estrutura tânica. É um corte de 55% de Merlot, 40% de Cabernet Sauvignon e 5% de Petit Verdot, com teor alcoólico de 14%. 
      O Château Lascombre é envelhecido por 18 a 20 meses, usando um sistema de rotação de barrica para manter as borras em suspensão, dando ao vinho uma maior textura sem permitir contato com ar extra. 
      Os vinhedos do Chateau estão situados no noroeste da denominação de Margaux, cobrindo 112 hectares, onde são produzidas cerca de 300.000 garrafas de Château Lascombe por ano. 
      O terceiro vinho degustado foi o Château Rauzan Gassies 2006. 2eme Grand Cru Classé 1855, um corte de 85% de Cabernet Sauvigon, 13% Merlot e 2% Petit Verdot. De cor vermelho granada, com 12 meses de barrica de carvalho francês, acidez e tanino médio, com notas suaves de terra molhadas, alcaçuz e groselhas vermelhas e teor alcoólico de 14%.
     A história do Château Rauzan Gassies  tem início no século XVII, quando a propriedade era parte de um lote de terra pertencente a Pierre de Mesures de Rauzan, tendo sido dividida várias vezes até a classificação de 1855, quando acabou dando origem a quatro chateaux entre eles o Rauzan Gassies. Após a Segunda Guerra Mundial, em 1946, o Chateau Rauzan Gassies foi vendido para a família Quie, sua proprietária até os dias atuais. 
    O último vinho a ser degustado, deste conjunto de vinhos ícones foi o Château Cantenac Brown 2007. 3eme Grand Cru Classé 1855, um corte de 65% de Cabernet Sauvigon, 30% de Merlot e 5% de Cabernet Franc. De cor vermelho granada,  notas florais, alcaçuz e de fumaça, frutas vermelhas e pretas maduras, estrutura firme e tânica, e teor alcoólico de 13,5%.
     O Château Cantenac-Brown é um produtor de vinho localizado em Margaux, na margem esquerda do rio Gironde, em Bordeaux. Foi estabelecido no início do século 19 e foi classificado como um terceiro cultivo na Classificação 1855 do Medoc e Graves. Este excelente vinho vem de videiras com média de 35 anos e os rendimentos são mantidos sob controle pela equipe de viticultura.
    Todos estes vinhos degustados são de guarda e em média podem ser consumidos depois de 15-20 anos.
     Realmente foi uma noite icônica, com vinhos maravilhosos. 

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quinta-feira, 15 de junho de 2017

COOK SHOW DE COGUMELOS

No mês de maio participei de um cook show de cogumelos organizado pela Casa Destemperados com o chef Altemir Pessali responsável pelos restaurantes Primo Camilo, Trattoria Mama Gema e Pizza entre Vinhos na Serra Gaúcha.  Pessali é um especialista autoditada, com largo conhecimento sobre a identificação, colheita e preparação de cogumelos selvagens que ele gosta de colher nas mata de Pinus da região.  Altemir estava acompanhado de sua simpática esposa Clege Dalmaz, uma dentista apaixonada por culinária. 
Foi uma verdadeira aula de como preparar cogumelos frescos, funghi porcini e lactarius, colhidos no mesmo dia do evento, alguns deles enormes, maravilhosos, sendo que um funghi porcini foi a sensação da noite, pelo seu tamanho. 
Ao longo do cook show aprendemos como limpar, temperar, cozinhar e colher cogumelos dos mais variados tipos, além de vermos a preparação de três pratos maravilhosos. A harmonização dos vinhos ficou a cargo da enóloga da Destemperados, Natália Frighetto. 

Na chegada todos os participantes foram recebidos com o espumante Casa Valduga Brut, 25 meses,  terroir Vale dos Vinhedos. Este espumante é elaborado em safras de alta qualidade, pelo método champenoise, com 70% de uva Chardonnay, 30% Pinot Noir e maturado em caves subterrâneas.  De coloração amarelo palha, com bouquet elegante e frutado, tem final de boca marcado pela intensa presença de frutas tropiais maduras, com destaque para o abacaxi. A temperatura de serviço é de 6° a 8° C. Uma excelente boas vindas. 
Mas seguindo com os cogumelos, na realidade este é o nome dado a frutificações de alguns tipos de fungos, pertencentes ao Reino Funghi. Em geral eles surgem depois de uma grande chuvarada e quando a temperatura favorece, desaparecendo rapidamente. De cheiro e sabor intenso atraem os animais que os comem e auxiliam a dispersar os esporos que darão origem a novos cogumelos. Eles podem aparecer tanto sob o solo como acima dele onde são colhidos manualmente, e apresentam diferentes texturas, tamanhos, formas, cores, cheiros e sabores. 

Os tipos de cogumelos cultivados, mais conhecidos aqui no Brasil são o Paris, Portobello, Shitake, Shimeji, Eringui, Porcini, Hiratake. Mais de 20 espécies são cultivadas comercialmente, em mais de 60 países, sendo que a China, os Estados Unidos, a Holanda, França e Polônia são os maiores produtores. 
Porém, Pessali dedica-se a colheita de cogumelos selvagens, nas matas de Pinus da Serra Gaúcha. Em geral eles brotam após as chuvas de outono, que vão de março a junho. Nos Campos de Cima da Serra, no nordeste do Rio Grande do Sul, existem diversos tipos de cogumelos entre eles o Boletus edulsi, conhecido como Cepe de Bordéus e o Lactarius Delicious (saboreado no cook show), que apresenta uma cor alarajanda. 

Os cogumelos  são alimentos funcionais, isto é, possuem ingredientes que trazem benefícios ao organismo. Eles contém grandes quantidades de vitmina D quando expostos a luz ultravioleta (existente na natureza), sendo a única fonte vegetariana natural desta vitamina. Mesmo que eles sejam cozidos não perdem a concentração de vitamina D, além disso, são ricos em minerais e proteínas. Além de eu amar cogumelos, esta é também uma das razões porque como com bastante frequência. 

Pessali nos deu algumas dicas: para limpar os cogumelos frescos, deve-se utilizar um pano de prato limpo e úmido,  ou um papel toalha, ou uma escovinha e remover com delicadeza a terra que o envolve, a razão disto é que todo cogumelo solta água por isso não se deve lavá-los;  não se congela os cogumelos, porém, caso faça isto ele deve sair do congelador direto para a panela, porque se for descongelar ele estraga; os cogumelos devem ser fritos em azeite  ou em manteiga, não em óleo; e nunca misturar coentro ou alecrim com cogumelos, este temperos são muito fortes e brigam com os cogumelos. 
    
O primeiro prato que foi preparado no cook show foi um creme de legumes com funghi porcini, com batatas, cenoura, abóbora cabotiá, mandioca e bacon, temperado com sal e pimenta e gosto  e servido com tempero verde picado, e para completar o funghi porcini fatiado tostado no azeite. Delicioso!
Um vinho chardonnay harmoniza muito bem  com este creme, como por exemplo o Casa Valduga Gran Leopoldina Chardonnay D.O. safra 2016. Vinho branco seco, de coloração amarelo palha e reflexos esverdeados, terroir Vale dos Vinhedos, com 10 meses em barricas de carvalho francês e de carvalho romeno. 
Com intensas notas de frutas tropicais e maduras, como abacaxi, carambola, e nuances de choocolate branco e baunilha. Em boca é volumoso e potente, com temperatura de serviço entre 8° e 10°C. Harmoniza bem com massas, carnes brancas, fondues, queijos médios e fortes, e combina muito bem com o creme de legumes. 

O segundo prato preparado foi penne aos dois funghis (porcini e lactarius) com cebola, alho, nata cremosa, tempero verde e sal e pimenta a gosto. Os dois funghis foram fatiados e refogados em uma frigideira no azeite, juntamente com a cebola e o alho. Em seguida foi adicionada a nata, acrescentado o sal e o tempero verde. Este molho foi misturado ao penne em um frigideira. Maravilhoso!!!
Para acompanhar este prato foi servido o vinho Casa Valduga Identidade Pinot Noir, safra 2016, terroir Encruzilhada do Sul.  Vinho tinto seco, feito exclusivamente com uvas Pinot Noir, 8 meses em barricas de carvalho francês e 3 meses em Cave. De coloração vermelho rubi, brilhante, com aromas de frutas madura como cereja e morango, notas de carvalho e tabaco, com taninos macios e excelente acidez. Harmoniza bem com carnes brancas, carnes grelhadas, peixes e queijos leves, não muito curados e também com embutidos. A temperatura de serviço é de 14º a 16ºC. 
Este vinho acompanhou também o terceiro prato preparado na noite, que foi costela suína no formo à lenha. Esta delicia é cozida com couro, durante cinco horas a 120 graus. Para preparar o molho de funghi lactarius, a cebola e o alho foram tostados em uma frigideira, até dourar, depois foi acrescentado o funghi fatiado e cebolete. Posteriormente,  a carne foi fatiada e o molho foi disposto sobre os pedaços de carne.  Muito, muito bom!
O vinho harmonizou muito bem com estes dois últimos pratos,  ressaltando os seus sabores. 

Foi uma noite deliciosa, na companhia de pessoas agradáveis, que desfrutaram dos prazeres de uma boa comida e de bons vinhos!



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quarta-feira, 24 de maio de 2017

ENCONTRO COM FILIPA PATO


No dia 20 de  maio, tivemos  o prazer da visita da enóloga Filipa Pato em Porto Alegre, num encontro organizado pela enóloga Maria Amélia Flores, da Vinho e Arte. Na ocasião foram degustados vinhos Bairrada, Portugal, produzidos pela vinícola Vinhos Doidos de sua propriedade e de seu marido William Woutres,  sommelier  e restaurateur, belga
Filipa é filha do ícone Luis Pato, cuja família há cinco gerações se dedica à criação de vinhos na Bairrada. A filosofia comum a todas elas baseia-se na inovação da viticultura e enologia em cada colheita, numa busca incessante pelo aperfeiçoamento da casta Baga. 

Luís Pato foi o responsável por fazer com que a uva Baga desse origem a alguns dos melhores vinhos tintos da região da Bairrada. A “domesticação” desta variedade de uva foi um verdadeiro feito, uma vez que ela tendia a produzir vinhos excessivamente tânicos, ácidos e de pouca concentração. Atualmente, ela é considerada uma das maiores uvas portuguesas ao lado da Touriga Nacional, e utilizada por Filipa Pato para produzir seus excelentes vinhos. 

Filipa está entre os melhores enólogos e produtores portugueses, de acordo com Jancis Robinson, conceituada jornalista inglesa,  critica e escritora sobre vinhos, que além de escrever diariamente para o seu website, também tem uma coluna semanal sobre vinhos para o Financial Times e presta assessoria para a adega da Rainha Elizabeth II. 

Hugh Johnson, autor Britânico e especialista em vinhos, considerado o escritor de vinhos mais vendido do mundo, lhe conferiu três estrelas em seu Pocket Wine Book 2014.

O encontro começou com Filipa contando um pouco da sua história como produtora de vinhos. Com formação em Bordeaux, estágios na Austrália, Argentina e França, Filipa, que tem paixão pelas variedades de uvas tradicionais da Bairrada e do Dão, deu inicio ao seu projeto de produzir seus próprios vinhos aos 25 anos de idade, com a ajuda da avó Maria Tereza Pato que lhe cedeu, em 2001,  vinhedos e uma vinícola de 1888.
Este projeto consiste em trabalhar num total de 12 hectares de vinhas espalhadas em várias parcelas em toda a região da Bairrada de Portugal. O foco do seu trabalho é o resgate da uva Baga, e também, utilizando práticas de agricultura biodinâmica e vinificação de intervenção mínima, Filipa e seu marido, como bem diz o logotipo de vinícola, produzem Vinhos Autênticos Sem Maquilagem

A parte divertida do encontro foi quando ela contou porque atribuiu o nome "Nossa" a um de seus vinhos ícones. Em 2007 Filipa veio ao Brasil acompanhada de William, seu marido, que na época ainda era apenas amigo, mas que nesta viagem se transformou em seu namorado. Ela veio a convite de sua importadora a Casa Flora/Porto a Porto, para o lançamento do seu vinho Lokal Silex 2004. A escritora Silvia Cintra Franco ao experimentar o  primeiro gole deste vinho exclamou, "nossa! como é bom!".

De tanto ouvir esta exclamação tão típica no Brasil, ela ficou marcada para William, que é poliglota, mas na época não falava português. Desta forma,  quando foram criados os dois vinhos da Vinhos Doidos, Nossa e Bossa (tributo à Bossa Nova), eles decidiram adotar um nome que marcasse esta época da vida deles, o início de namoro. Além do mais, "Nossa" é uma palavra fácil de ser pronunciada pelos  ingleses, um dos marcados onde Filipa mais atua, além do Brasil. 

O vinho Bossa é um vinho de festa, de volume, fácil e simples de beber feito com a casta Maria Gomes e o Nossa é mais elaborado, complexo e fez parte da degustação, que teve início logo na chegada a Vinho e Arte, quando fomos recebidos com uma taça do Espumante 3B Rosé, Brut, feito com uvas Baga e Bical. 

Espumante de cor salmão, brilhante com borbulhas numerosas e intensas, com aromas de morango, framboesa e algum toque de tostado. Seco no paladar, frutado conjugando leveza e persistêncua com acidez mineral. 
Para o seu amadurecimento a uva Baga é fermentada em barris de carvalho usados e a Bical em tanques de aço inoxidável com controele de temperatura de 18°C. A segunda fermentação ocorre em garrafa, com método tradicional. Sua graduação alcoólica é de 12%, harmoniza bem com salmão e frutos do mar. 

É um excelente vinho de entrada em comemorações e foi um presente de boas vindas aos participantes do encontro. 

Na sequência foi degustado o vinho FP Branco Bical Arinto, safra 2013, 50% Bical e 50% Arinto, da região de Beiras. Vinho branco com aromas de abacaxi e maçãs, com  notas de iodo e sal, devido à influência atlântica, assim como notas defumadas características do solo calcário.

Apresenta aromas de ananás, característico da uva Arinto e de pera e maçã, característicos da Bical. Vai bem com pratos de peixe e marisco, casquinha de siri,caranguejo de casca mole e lagosta ao vapor.  

O terceiro vinho degustado foi o FP Tinto Baga, safra 2015, da região de Beiras,com  98% de Baga, 1% de Bical e 1% Maria Gomes.  Vinho de cor vermelho rubi, com aromas de frutas vermelhas maduras e notas de defumado. No paladar é seco, tem acidez equilibrada,corpo médio, taninos maduros e elegantes. 

Vai bem com carnes vermelhas, churrasco e carnes assadas, porém sua harmonização clássica é o leitão da Bairrada.  

O quarto vinho degustado foi o Nossa Calcário Branco, safra 2015, Bical, da região de Óis do Bairro, Beiras, de um vinhedo único e antigo, uma das paixões de Filipa. 

A aldeia de Óis do Bairro é reconhecida pela excepcional qualidade de seus vinhos. Com subsolo extremamente argiloso com pedra calcária, seu clima tem forte influência atlântica, e sua viticultura tradicional. 

Este vinho é um branco para ser apreciado refrescado e harmoniza com peixes, vitela no forno, galinha do campo e queijos curados de pasta dura.

Mas o vinho que agradou a todos no encontro, a estrela, foi o Filipa Pato Nossa Calcário Tinto DOC Bairrada, Baga, safra 2013,  que também tem sua origem na região de Óis de Bairro, onde estão os "Grand Cru" da Bairrada. 

É elaborado a partir de vinhas com mais de 80 anos, de cor rubi intenso, apresenta aromas de frutas vermelhas com notas de menta e tabaco. Em boca, é seco, encorpado, com boa acidez e taninos muito bem estruturados.

Repousa por 18 meses em pipas de 500 litros de carvalho francês grão fino, 80% usado e 20% novo. Todas as garrafas são lacradas manualmente com cera natural de forma a garantir um bom envelhecimento em cave.

Teor alcoólico 13% vol. , tempo de guarda acima de dez anos, e a temperatura de serviço abaixo de 18 graus. É uma excelente opção para jantares requintados, harmonizando com pato ao forno, caça, javali, porco, pratos delicados, não excessivamente apimentados e queijos de fabrico tradicional. 
É claro que eu tratei de adquirir a minha garrafa  com direito a autógrafo da Filipa Pato.

O último vinho a ser degustado foi o Sidecar, o vinho de ânforas elaborado em uma parceria entre Filipa e Susana Esteban.  Esta enóloga espanhola criou o projeto Sidecar, onde ela desafia enólogos ou pessoas ligadas ao assunto para elaborar um vinho na sua adega, em Mora, na região do Alentejo, Portugal. 

Susana lança o desafio e vai "de carona", pois é o convidado quem define o que fazer. Por esta razão o nome Sidecar para o projeto, como são chamadas as motocicletas com dispositivo lateral para acompanhante, que inclusive está no desenho do rótulo, assim como as ânforas. 
É um vinho de  autor que mistura as castas tradicionais da Serra de São Mamede, no Alentejo, com a uva Baga de vinhas centenárias da região da Bairrada. Colheita manual, fermentação alcoólica 50% em lagares de carvalho francês e 50% em tanques de inox com temperaturas controladas. Amadurecimento em pipas de carvalho.

Com cor vermelho rubi, aroma de frutas vermelhas maduras e notas de defumado. No paladar é seco, acidez equilibrada, corpo médio, taninos maduros e elegantes. Vai bem com carnes vermelhas, churrasco e carnes assadas, harmonização clássica é o leitão da Bairrada.

Sem dúvida um encontro para lembrar. 


Se beber não dirija!

quinta-feira, 18 de maio de 2017

COMEMORANDO O ANIVERSÁRIO EM MENDOZA

    Este ano decidi que não iria fazer uma festa para comemorar o meu aniversário, planejei viajar para festejar a data. Comentei isto com uma amiga de mais de 40 anos que faz aniversário um dia antes de mim, e acertamos de celebrar nosso aniversário visitando vinícolas e tomando o "bom vinho da casa" em Mendoza, Argentina.
       Como ela faz aniversário no dia 24 de abril e eu no dia 25, decidimos embarcar rumo a nossa aventura enogastronômica de uma semana, no dia 26 de abril, decididas a aproveitar tudo de bom que Mendoza poderia nos oferecer, entre elas a magnifica visão dos picos nevados da Cordilheira dos Andes.
       Mendoza é a capital e a maior cidade da província de Mendoza, sendo importante pólo produtor de vinho, azeite e frutas. Me recordo que a primeira vez que estive lá, há mais ou menos 12 anos, eu fiquei simplesmente fascinada pelos pêssegos e damascos produzidos na região, e disponível todos os dias no café da manhã do hotel.  
     A região metropolitana de Mendoza é responsável por 70% da produção vinícola da Argentina e ocupa o 5º lugar no mundo. Mais de 1.200 vinícolas estabelecidas na região produzem 1 bilhão de litros de vinho por ano, sendo que mais de 100 vinícolas estão preparadas para receber visitantes. 
    O terroir mendocino, apresenta caraterísticas importantes, que confere a excelente qualidade dos vinhos ali produzidos, entre eles está a altitude que varia entre 900 a 1.800m, solo desértico, chuvas escassas, vento seco e sol inclemente (cerca de 300 dias de sol por ano) e baixa umidade.  Estas características fazem da região o terroir perfeito, afastando os insetos, pragas e fungos. 
      O clima semi-árido da região faz com que a amplitude térmica entre o dia e a noite seja grande, assim os dias quentes propiciam mais açúcar as uvas e as noites frias favorecem a produção dos taninos. 
     Mendoza no verão é horrível de quente, ainda bem que a cidade é bastante arborizada, o que baixa as temperaturas e torna o ambiente mais agradável. 
     Além dos vinhos e vinícolas, Mendoza é também um excelente lugar para a boa comida, o turista encontra restaurantes, bistrôs e cafés maravilhosos, para se deliciar com a culinária local e passar momentos agradáveis. 
    Um destes locais é o Bute - Buenas Tertulias - Café, Restaurante e Bar, localizado ao lado do Hotel Hyatt, em frente a Praça Independência. É um café pequeno mas maravilhoso, que nós descobrimos por acaso, mas depois fomos lá todos os dias para desfrutar do ambiente charmoso e agradável. A música ambiente é feita principalmente por uma coleção preciosa e de excelente qualidade da mais pura  bossa nova. Acredito que muito poucos brasileiros tenham uma coleção sobre musicas da bossa nova, com a mesma qualidade que o Bute café tem, além de uma  bela coleção de jazz e soul. 
     Iniciamos nossa aventura mendocina visitando algumas vinícolas e também uma olivícola boutique.  Desde que me conheço por gente, sei da boa qualidade das azeitonas Argentinas, principalmente aqui no Rio Grande do Sul, onde se pode adquiri-las com facilidade apenas cruzando a fronteira para fazer compras no países vizinhos, Argentina e Uruguai. 
      A primeira vinícola que visitamos foi a Bodega Don Manuel Villafañe, pertencente a Tomás Machado Villafañe e sua  família, localizada no departamento de Maipú e emoldurada pela cordilheira dos Andes. 
      A história da família Villafañe remonta a 1611, quando Don Miguel veio da Espanha para a Argentina, como soldado, para lutar contra os piratas ingleses que atacavam os navios espanhóis. Mais tarde ele decidiu se fixar no país como fazendeiro e tornou-se um pioneiro como produtor de vinho na Argentina, sendo um dos primeiros a se dedicar a esta tarefa. Naquela época seu objetivo principal era produzir vinho para os padres e, posteriormente, para os colonos, que vieram para o Novo Mundo em busca de novas oportunidades. 
      A Bodega Villafañe é uma vinícola boutique, estando assim focada na elaboração de uvas colhidas a partir de vinhas pequenas, com baixa produção mas de alta qualidade, plantadas em solo pedregoso. São 80 hectares de vinhas em torno da adega, com variedades como Malbec, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot e Chardonnay. 
       O vinhedo está localizado na cama de um rio pré-histórico, produto do derretimento do gelo da montanha. O solo é extremamente pedregoso, composto de rochas erodidas pela água. A produção da vinícola é muito pequena, oscilando entre 5.000 a 7.500 kgs por hectare. A colheita é feito à mão, em pequenos recipientes de 16 kgs., ao amanhecer  de modo que as uvas cheguem  em uma adega fresca. 
      Após a visita ao vinhedo e as dependências da vinícola, passamos a degustação de dois vinhos.
      O primeiro que degustamos foi o Don Manuel Villafañe Malbec Reserva, safra 2014, feito com 100% de uvas malbec, originárias do vinhedo Finca Pedriel, Lujan de Cuyo, Mendoza.
      Envelhecido em barrica de carvalho francês por 12 meses e 12 meses em garrafa, apresenta coloração púrpura intenso, excelente ao paladar, com aromas de ameixas, cerejas e trufa, e a medida que o tempo passa aparecem os aromas de chocolate, café e baunilha. Seu teor alcoólico é de 14,40% vol. A safra de 2008 e 2013 receberam 91 pontos da Wine Enthusiast, a safra de 2009 recebeu a medalha de Prata da Vinus.
       O segundo vinho que degustamos foi uma assemblage de excelente qualidade, o Don Manuel Villafañe Cabernet Franc e Petit Verdot, elaborado com 80% de uvas Cabernet Franc e 20% Petit Verdot, cultivadas em vinhedos a 900 metros de altitude.  
      Com tons avermelhados de boa intensidade e clareza, apresenta aromas de grande expressão e tipicidade varietal, com notas de creme de cassis e mirtilos, combinados com especiarias como cravo. Em boca sentem-se maduros, doces, redondos, untuosos taninos largos e untuosos no meio do paladar, tem um acabamento muito longo. Seu teor alcoólico é de 14,3% vol. 
      Na taça pode-se notar a diferença de coloração entre um vinho e outro, com o Malbec de cor púrpura na taça a esquerda e o Cabernet Franc/Petit Verdot, mais avermelhado,  na da direita. 
       Atualmente a Bodega Villafañe exporta vinhos para sete diferentes países, infelizmente o Brasil não está entre eles, bem como abastece o mercado interno argentino. 
     Na sequência fizemos uma visita a Olivícola Boutique Pasrai que está localizada no departamento de Maipú, Mendoza, zona ideal para o cultivo de azeitonas de excelente qualidade. A Pasrai é uma empresa familiar de Mendoza, que se dedica a elaboração de frutas desidratadas e de azeite de oliva extra virgem. 
    Visitamos a fábrica boutique onde é elaborado o azeite de oliva extra  virgem (porcentagem de acidez menor que 0,8%) pelo método tradicional  de extração utilizando prensa hidráulicas, que dá a azeitona sabor, aroma e textura únicos. 
      A empresa produz vários tipos de azeites com diferentes sabores, além de pasta de grão de bico, e de azeitonas e creme e sabonete de azeitonas. Após a visita as instalações da fábrica nos foi oferecida uma degustação dos vários tipos de azeites, uma verdadeira delicia. 
     Como não poderia deixar de ser eu tratei de comprar alguns azeites para mim, com diferentes sabores. Eu comprei o trio azeite extra virgem com limão, com alecrim e com alho. Verdadeiras maravilhas. 
     Começamos bem, a nossa aventura enogastronômica, depois desta visitamos mais duas vinícolas. 

Se beber não dirija!

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