quarta-feira, 24 de maio de 2017

ENCONTRO COM FILIPA PATO


No dia 20 de  maio, tivemos  o prazer da visita da enóloga Filipa Pato em Porto Alegre, num encontro organizado pela enóloga Maria Amélia Flores, da Vinho e Arte. Na ocasião foram degustados vinhos Bairrada, Portugal, produzidos pela vinícola Vinhos Doidos de sua propriedade e de seu marido William Woutres,  sommelier  e restaurateur, belga
Filipa é filha do ícone Luis Pato, cuja família há cinco gerações se dedica à criação de vinhos na Bairrada. A filosofia comum a todas elas baseia-se na inovação da viticultura e enologia em cada colheita, numa busca incessante pelo aperfeiçoamento da casta Baga. 

Luís Pato foi o responsável por fazer com que a uva Baga desse origem a alguns dos melhores vinhos tintos da região da Bairrada. A “domesticação” desta variedade de uva foi um verdadeiro feito, uma vez que ela tendia a produzir vinhos excessivamente tânicos, ácidos e de pouca concentração. Atualmente, ela é considerada uma das maiores uvas portuguesas ao lado da Touriga Nacional, e utilizada por Filipa Pato para produzir seus excelentes vinhos. 

Filipa está entre os melhores enólogos e produtores portugueses, de acordo com Jancis Robinson, conceituada jornalista inglesa,  critica e escritora sobre vinhos, que além de escrever diariamente para o seu website, também tem uma coluna semanal sobre vinhos para o Financial Times e presta assessoria para a adega da Rainha Elizabeth II. 

Hugh Johnson, autor Britânico e especialista em vinhos, considerado o escritor de vinhos mais vendido do mundo, lhe conferiu três estrelas em seu Pocket Wine Book 2014.

O encontro começou com Filipa contando um pouco da sua história como produtora de vinhos. Com formação em Bordeaux, estágios na Austrália, Argentina e França, Filipa, que tem paixão pelas variedades de uvas tradicionais da Bairrada e do Dão, deu inicio ao seu projeto de produzir seus próprios vinhos aos 25 anos de idade, com a ajuda da avó Maria Tereza Pato que lhe cedeu, em 2001,  vinhedos e uma vinícola de 1888.
Este projeto consiste em trabalhar num total de 12 hectares de vinhas espalhadas em várias parcelas em toda a região da Bairrada de Portugal. O foco do seu trabalho é o resgate da uva Baga, e também, utilizando práticas de agricultura biodinâmica e vinificação de intervenção mínima, Filipa e seu marido, como bem diz o logotipo de vinícola, produzem Vinhos Autênticos Sem Maquilagem

A parte divertida do encontro foi quando ela contou porque atribuiu o nome "Nossa" a um de seus vinhos ícones. Em 2007 Filipa veio ao Brasil acompanhada de William, seu marido, que na época ainda era apenas amigo, mas que nesta viagem se transformou em seu namorado. Ela veio a convite de sua importadora a Casa Flora/Porto a Porto, para o lançamento do seu vinho Lokal Silex 2004. A escritora Silvia Cintra Franco ao experimentar o  primeiro gole deste vinho exclamou, "nossa! como é bom!".

De tanto ouvir esta exclamação tão típica no Brasil, ela ficou marcada para William, que é poliglota, mas na época não falava português. Desta forma,  quando foram criados os dois vinhos da Vinhos Doidos, Nossa e Bossa (tributo à Bossa Nova), eles decidiram adotar um nome que marcasse esta época da vida deles, o início de namoro. Além do mais, "Nossa" é uma palavra fácil de ser pronunciada pelos  ingleses, um dos marcados onde Filipa mais atua, além do Brasil. 

O vinho Bossa é um vinho de festa, de volume, fácil e simples de beber feito com a casta Maria Gomes e o Nossa é mais elaborado, complexo e fez parte da degustação, que teve início logo na chegada a Vinho e Arte, quando fomos recebidos com uma taça do Espumante 3B Rosé, Brut, feito com uvas Baga e Bical. 

Espumante de cor salmão, brilhante com borbulhas numerosas e intensas, com aromas de morango, framboesa e algum toque de tostado. Seco no paladar, frutado conjugando leveza e persistêncua com acidez mineral. 
Para o seu amadurecimento a uva Baga é fermentada em barris de carvalho usados e a Bical em tanques de aço inoxidável com controele de temperatura de 18°C. A segunda fermentação ocorre em garrafa, com método tradicional. Sua graduação alcoólica é de 12%, harmoniza bem com salmão e frutos do mar. 

É um excelente vinho de entrada em comemorações e foi um presente de boas vindas aos participantes do encontro. 

Na sequência foi degustado o vinho FP Branco Bical Arinto, safra 2013, 50% Bical e 50% Arinto, da região de Beiras. Vinho branco com aromas de abacaxi e maçãs, com  notas de iodo e sal, devido à influência atlântica, assim como notas defumadas características do solo calcário.

Apresenta aromas de ananás, característico da uva Arinto e de pera e maçã, característicos da Bical. Vai bem com pratos de peixe e marisco, casquinha de siri,caranguejo de casca mole e lagosta ao vapor.  

O terceiro vinho degustado foi o FP Tinto Baga, safra 2015, da região de Beiras,com  98% de Baga, 1% de Bical e 1% Maria Gomes.  Vinho de cor vermelho rubi, com aromas de frutas vermelhas maduras e notas de defumado. No paladar é seco, tem acidez equilibrada,corpo médio, taninos maduros e elegantes. 

Vai bem com carnes vermelhas, churrasco e carnes assadas, porém sua harmonização clássica é o leitão da Bairrada.  

O quarto vinho degustado foi o Nossa Calcário Branco, safra 2015, Bical, da região de Óis do Bairro, Beiras, de um vinhedo único e antigo, uma das paixões de Filipa. 

A aldeia de Óis do Bairro é reconhecida pela excepcional qualidade de seus vinhos. Com subsolo extremamente argiloso com pedra calcária, seu clima tem forte influência atlântica, e sua viticultura tradicional. 

Este vinho é um branco para ser apreciado refrescado e harmoniza com peixes, vitela no forno, galinha do campo e queijos curados de pasta dura.

Mas o vinho que agradou a todos no encontro, a estrela, foi o Filipa Pato Nossa Calcário Tinto DOC Bairrada, Baga, safra 2013,  que também tem sua origem na região de Óis de Bairro, onde estão os "Grand Cru" da Bairrada. 

É elaborado a partir de vinhas com mais de 80 anos, de cor rubi intenso, apresenta aromas de frutas vermelhas com notas de menta e tabaco. Em boca, é seco, encorpado, com boa acidez e taninos muito bem estruturados.

Repousa por 18 meses em pipas de 500 litros de carvalho francês grão fino, 80% usado e 20% novo. Todas as garrafas são lacradas manualmente com cera natural de forma a garantir um bom envelhecimento em cave.

Teor alcoólico 13% vol. , tempo de guarda acima de dez anos, e a temperatura de serviço abaixo de 18 graus. É uma excelente opção para jantares requintados, harmonizando com pato ao forno, caça, javali, porco, pratos delicados, não excessivamente apimentados e queijos de fabrico tradicional. 
É claro que eu tratei de adquirir a minha garrafa  com direito a autógrafo da Filipa Pato.

O último vinho a ser degustado foi o Sidecar, o vinho de ânforas elaborado em uma parceria entre Filipa e Susana Esteban.  Esta enóloga espanhola criou o projeto Sidecar, onde ela desafia enólogos ou pessoas ligadas ao assunto para elaborar um vinho na sua adega, em Mora, na região do Alentejo, Portugal. 

Susana lança o desafio e vai "de carona", pois é o convidado quem define o que fazer. Por esta razão o nome Sidecar para o projeto, como são chamadas as motocicletas com dispositivo lateral para acompanhante, que inclusive está no desenho do rótulo, assim como as ânforas. 
É um vinho de  autor que mistura as castas tradicionais da Serra de São Mamede, no Alentejo, com a uva Baga de vinhas centenárias da região da Bairrada. Colheita manual, fermentação alcoólica 50% em lagares de carvalho francês e 50% em tanques de inox com temperaturas controladas. Amadurecimento em pipas de carvalho.

Com cor vermelho rubi, aroma de frutas vermelhas maduras e notas de defumado. No paladar é seco, acidez equilibrada, corpo médio, taninos maduros e elegantes. Vai bem com carnes vermelhas, churrasco e carnes assadas, harmonização clássica é o leitão da Bairrada.

Sem dúvida um encontro para lembrar. 


Se beber não dirija!

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