quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

VINERIA 1976 - RELEITURA DO JULGAMENTO DE PARIS

 No último dia 28 de novembro, participei de uma Wine Class  na Vineria1976, organizada para comemorar o segundo aniversário, deste charmoso wine bar localizado no coração do bairro Moinhos de Ventos, em Porto Alegre, RS. 
Seus simpáticos proprietários são Priscila Fabris Ortiz, uma publicitária com mestrado em marketing e WSET 1 e 2, e René Ormazabal Moura, mestre em Wine Bussines, que desenvolveu o projeto da Bodega Sossego, vinícola da família com vinhedos em Uruguaiana, na Campanha Gaúcha e atual  presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha.

Eles tiveram a ideia de fazer uma Wine Class sobre uma releitura do famoso Julgamento de Paris, ocorrido em 24 de maio de 1976, quando o mundo mudou, para sempre,  seu conceito a respeito dos vinhos californianos. Este julgamento serviu de inspiração na hora da escolha do nome da Vineria1976. 
A Vineria1976 traz um conceito interessante, que é apresentar uma oferta ampla de rótulos de diferentes regiões, do Velho e Novo Mundo, de uma forma descomplicada. O Vineria1976 tem a missão de engajar novos consumidores, apresentando a bebida para quem não pretende reconhecer aromas ou sabores e também não se preocupa com regras de harmonização na hora de degustar um bom vinho. Mas os conhecedores e amantes do vinho serão sempre bem-vindos e encontrarão rótulos de diferentes lugares do mundo.

Mensalmente, promove uma aula-degustação com um profissional da indústria do vinho, intitulada Wine Class, cada uma delas com  uma temática diferente. Esta foi sobre o Julgamento de Paris,  ministrada pelo competente sommelier Vinícius Santiago, Diretor Executivo de Cursos da Associação Brasileira de Sommeliers-ABS/RS, e da qual participaram 16 amantes do vinho, entre eles eu. 
A ideia de realizar esta prova  em Paris, foi de Steven Spurrier, um inglês comerciante de vinhos que possuía, no centro de Paris  uma loja de vinhos bastante inovadora e, ao lado dela, uma escola de vinhos. Tendo sido recentemente apresentado aos vinhos da Califórnia e curioso para ver como eles fariam frente aos vinhos franceses, elaborados  com o mesmo tipo de uvas, organizou  uma degustação como parte das atividades de comemoração do bicentenário da independência dos Estados Unidos, na cidade luz. 

Os  vinhos franceses escolhidos para a prova  eram tintos de Bordeaux  e os vinhos brancos eram da Borgonha, que foram comparados com os Cabernet Sauvignons e Chardonnays da California. A degustação foi as cegas, com a identidade dos vinhos escondidas e os rótulos revelados somente depois que o júri, de nove provadores, votaram  sua ordem de preferência. Entre eles estavam o co-proprietário do Domaine de la Romaneée-Conti, Aubert de Villaine, e os sommeliers de restaurantes três estrelas como o Tour d'Argent e Taivellent. 

O impensável aconteceu. O vinho da cave Stag's Leap de 1973 S.L.V. Cabernet Sauvignon foi julgado o melhor de todos. O Cabernet Sauvignon do Vale do Napa superou os quatro vinhos Bordeuax top de linha, entre eles Château Mouton-Rothschild e Château Haut-Brion e,  1973 Chateau Montelena Chardonnay da Califórnia superou os seus homólogos franceses. 

Este evento causou uma enorme polêmica no mundo do vinho, uma vez que era um evento pequeno, onde menos de 20 pessoas compareceram, incluindo os garçons que serviram os vinhos.  A degustação ocorreu em uma sala emprestada, e todos tiveram que se retirar apressadamente ao final do evento porque posteriormente haveria uma festa de casamento no local. Porém, devido ao resultado inédito, a polêmica causada e a  derrota da prévia certeza de que os melhores vinhos franceses bateriam sem dó e nem piedade os vinhos californianos, ele é considerado até hoje a degustação mais importante do século XX. 

Os vinhos degustados na wine class são alguns dos exemplares degustados no famoso Julgamento de Paris.

O primeiro deles é o Stag's Leap Winery 2009, Cabernet Sauvignon, do Vale do Napa. É um corte de Cabernet Sauvignon (79%), Merlot (10%), Cabernet Franc (6%), Petit Sirah (3%), Malbec (1%) e Petit Verdot (1%), teor alcoólico 14%.  O amadurecimento do vinho se deu em barricas de carvalho francês, sendo 37% novo, com total de 20 meses de permanência em madeira. É um vinho fresco e suculento com sabores de mirtilo e amora bem delimitados, reforçados por ervas frescas e um toque de especiarias. O carvalho é perfeitamente integrado, mostrando em vez de mascarar a fruta, e os taninos são reativos sem serem agressivos. O tinto Stag's Leap SLV 1973 foi o grande vencedor do Julgamento de Paris. 

O segundo vinho é o Clos du Marquis 2010, é um corte de Cabernet Sauvignon (75%), Merlot (17%), e Cabernet Franc (8%). Apresenta aromas de frutas negras maduras, kirsch e notas de alcaçuz, em boca tem corpo médio, taninos suaves, grande estrutura e final longo e persistente. Vinho de grande guarda, com envelhecimento de 12 a 18 meses em barris de carvalho, graduação alcoólica de 14%. O Château Léoville La Cases é uma vinícola em Saint-Julien, na região de Bordeaux, na França.  Este Château foi uma  das primeiras propriedades em Bordeuax a apresentar um segundo rótulo, o Clos du Marquis.  Em 1976, o Château Léoville Las Cases 1971 ficou em 6º lugar no ranking do Julgamento de Paris. 
O terceiro vinho é o Chateau Montelena 2012, Chardonnay, do Vale do Napa, Estados Unidos. 100% Chardonnay, este vinho amadureceu por 10 meses em barricas de carvalho francês, 8% novo.  Graduação alcoólica 13,7%, apresenta muita mineralidade, terra e pedras molhadas. Toques cítricos de grapefruit, maracujá e abacaxi, posteriormente notas agradáveis de avelãs tostadas. A história do Chateau Montelena começa em 1882, sendo posteriormente fechado durante a Lei Seca (1920 a 1933). O Chateau Montelena 1973 Chardonnay foi o grande vencedor, na ala dos vinhos brancos, no Julgamento de Paris, superando vinhos ícones da Borgonha. O filme "Bottle Schock retrata esta saga. 

O quarto vinho é  AOC Joseph Drouhin Puligny-Montrachet 2011, Chardonnay. Este vinho, uma Appelation d'origine contrôlée (AOC), é produzido na comuna de Puligny-Montrachet, na Côte de Beaune, também chamada de Côte des Blancs, Borgonha, França.  100% Chardonnay, muito mineral, elegante, amadureceu por 12 meses em tonéis de carvalho francês, 25% novo. O vinho é claro e brilhante, com uma cor limão pálido, no nariz apresenta aromas de intensidade média de pêssegos casca de limão , maçã verde, anis e baunilha. É seco em boca com uma acidez média. Em 1976 um outro vinho da mesma vinícola participou do Julgamento de Paris, o Beaune Clos de Mouches Preier Cru 1973 que ficou em quinto lugar.  
Foi, sem dúvida, uma experiência muito interessante. 


Se beber, não dirija!

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