segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A VINÍCOLA PETERLONGO, ÍCONE DO CHAMPAGNE BRASILEIRO, COMPLETA 100 ANOS

No último dia 15 de outubro de 2015 a Vinícola Peterlongo festejou o seu Centenário com uma festa onde reuniu mais de 400 convidados, regada a champagnes, espumantes e suco de uva produzidos pela vinícola, e realizada no Castelo Peterlongo na cidade de Garibaldi, a Capital Brasileiro do Espumante, Rio Grande do Sul.


Apenas 190 empresas no Brasil são centenárias, uma delas é a Vinícola Peterlongo, que foi criada pelo imigrante italiano Manoel Peterlongo que chegou na Serra Gaúcha em 1878, para demarcar terras na Colônia Conde D'Eu. Natural de Trento, era agrimensor  e tinha conhecimento e paixão pela elaboração de bebidas. Neto de um produtor de espumantes, ele começou a produzir a bebida em 1913, seguindo a metodologia difundida por Don Perignon, com o método champenoise. Em 1915 é fundado oficialmente o Estabelecimento Vinícola Armando Peterlongo S/A, nome  em homenagem ao único filho homem da família.


De acordo com a enóloga e especialista em comunicação e marketing turístico Maria Amélia Duarte Flores, que está desenvolvendo um projeto de pesquisa sobre a história da Vinícola Peterlongo: "Manoel tinha o hábito de beber vinhos espumantes na Itália e buscou repetir os processos de elaboração aqui no Brasil. Incentivou, com Carlos Dreher Filho, o cultivo de uvas brancas finas em toda a Serra Gaúcha. Carlos Dreher Filho, foi  quem introduziu no país a elaboração de vinhos brancos, lançando os nacionais Reno e Liebfraumilch.  Peterlongo implantou, no porão de sua casa, uma pequena cantina onde iniciou seus experimentos. Nesta época a pequena villa de Garibaldi tinha cerca de mil habitantes, era forte a influência religiosa, principalmente com a presença dos irmãos maristas franceses, que também entendiam de elaboração de vinhos. A produção de vinhos e espumantes ganha espaço e surge a 1a Exposição de Uvas de Garibaldi. Manoel Peterlongo recebe a  "Medalha de Ouro" relativo a seu "Moscato Typo Champagne". É o primeiro registro oficial da bebida sendo elaborada no Brasil, em 1913. A fama do "champagne" começou a crescer e em 1915 é criada oficialmente a Casa Peterlongo" .

O castelo da família Peterlongo, construído em 1930, um ícone na Serra Gaúcha e onde foi realizada a festa, segue os padrões da região de Champagne (França) e suas instalações incluem varejo e cave subterrânea em pedras basáltica, abundantes  no Estado. Na época de sua construção, as caves da vinícola foram projetadas com o objetivo de remontar o ambiente ideal para a preservação de champagnes, possuindo um túnel que capta o vento minuano, típico do Rio Grande do Sul,  e mantém a temperatura estável em seu interior.  

De uma capacidade de 10 milhões de litros por ano, a Vinícola Peterlongo produz 5 milhões de litros entre champagnes, espumantes, vinhos, suco de uva, frisante e filtrado, sendo o quinto maior exportador de vinhos do país. Atualmente, a propriedade em Garibaldi possui mais de 50 mil m² de área cultivada. Em Encruzilhada do Sul, na região da Campanha Gaúcha,  a vinícola possui cerca de 330 mil m² de área cultivada de onde são retiradas as uvas destinadas à produção de vinhos finos, além de vinhedos de agricultores parceiros da Serra Gaúcha. 

Algumas curiosidades: 

a) A Peterlongo foi a primeira vinícola brasileira a empregar mão de obra feminina;

b) Na década de 1930, com a instauração das leis trabalhistas, Armando Peterlongo, que herdou a empresa do pai, foi o primeiro empresário da região a pagar o salário mínimo aos seus operários; 

c) Na primeira metade do século XX, vinícolas francesas começaram um movimento pelo mundo com o intuito de inibir o uso da palavra "Champagne" em regiões produtoras fora do território francês, e chegaram a questionar a utilização do termo champagne em rótulos brasileiros. Porém, em 1974, o Supremo Tribunal de Justiça do Brasil, julgou improcedente o questionamento e a Peterlongo ganhou o direito da denominação, que fora absorvida desde o início da elaboração da bebida por Manoel Peterlongo. 

Durante os festejos do centenário, a vinícola lançou uma edição de champagnes colecionáveis, "Old Style/Vintage", apresentada pelo sócio diretor Luiz Carlos Sella. A linha composta por seis garrafas colecionáveis, é uma releitura dos mais clássicos e importantes rótulos que marcaram época no centenário da vinícola, como os dos grandes banquetes da Era Vargas, os do elogio da Rainha Elizabeth em sua vinda ao Brasil, da inauguração de grandes obras no país e da entrada no conceituada rede americana Macy's, em Nova Iorque.

Cinco dessas garrafas -todas champagnes e espumantes – vêm numa caixa de madeira, que relembra a década de 1930. A sexta garrafa, uma Magnum, com 1,5 ml, completa a coleção. O conjunto será comercializado, inicialmente apenas no varejo da vinícola, tanto em kit quanto separado com valores unitários que vão de R$ 120 a R$ 400, dependendo do produto. Ao final dos festejos todos os convidados levaram para casa uma garrafa do Gran Espumante Armando Peterlongo Brut (Método Tradicional), que integra a Coleção Vintage.

Gran Espumante Armando Peterlongo Brut-Método Tradicional (Releitura dos anos 1925 e 1930) - Em duas embalagens, de 750 ml e 1,5 litro (Magnum), apresenta aspecto visual límpido, coloração amarelo palha com reflexos dourados. Seu perlage é fino, rico e intenso. Exibe aromas de média evolução com boa complexidade e fineza, lembrando amêndoas, pão torrado e brioche. Foi elaborado pelo Método Tradicional (Champenoise) a partir de uvas das variedades chardonnay e pinot noir, colhidas em vinhedos da Serra Gaúcha, com produção de 10 a 12 mil quilos por hectare. Produção: 1.500 e 1.000 garrafas.   

Gran Espumante Armando Peterlonfo-Moscatel Branco (Releitura dos anos 1940)-Espumante elaborado a partir de uvas das  variedades Moscato Bianco R2 e Moscato Giallo, apresenta boa aparência, cor amarelo esverdeado, perlage fino e intenso. Seus aromas são característicos dos moscatéis, revelando, principalmente, flores brancas como jasmim, rosa branca e mel. As uvas foram colhidas manualmente na Serra Gaúcha, em vinhedos com produção de 12 a 15 mil quilos por hectare. Produção: 1.500 garrafas.  

Fino Champagne Peterlongo-Espumante Branco Demi-Sec (Releitura dos anos 1970)-As uvas chardonnay, cultivadas em vinhedos na Serra Gaúcha, com produção entre 10 e 12 mil quilos por hectare, foram colhidas manualmente. O espumante apresenta aspecto visual límpido, com coloração levemente dourada e perlage fino e intenso. Possui aromas de mel, uva passa e compota de frutas. Exibe boa intensidade e complexidade aromática. Produção: 1.500 garrafas.  

Fino Champagne Peterlongo-Espumante Branco Extra Brut (Releitura dos anos 1970)-Apresenta aspecto visual límpido, com coloração amarela, levemente dourada. Os aromas são de média evolução e complexidade, lembrando tostado, damasco, mel e compota de frutas. Elaborado a partir de uvas da variedade chardonnay, colhidas manualmente em vinhedos da Serra Gaúcha com produção de 10 a 12 mil quilos por hectare. Produção: 1.500 garrafas. 

Elegance Peterlongo Champagne Branco Nature (Tradicional)-Elaborado a partir das veriedades chardonnay (90%) e pinot noir (10%), colhidas manualmente em vinhedos da Serra Gaúcha com produção de 10 a 12 mil quilos por hectare. Apresenta  aspecto visual rico, de coloração amarelo palha com reflexos dourados e perlage fino, elegante e intenso. Seus aromas são intensos de pão torrado e manteiga, com boa complexidade e evolução, derivados do longo tempo de autólise. Paladar balanceado, boa cremosidade, moderada quantidade de açúcar e equilíbrio entre acidez e álcool. Retrogosto amplo e intenso. Produção: 1.500 garrafas. 

Além desta coleção de champagnes vintage, como parte das comemorações dos 100 anos, está previsto para o final do ano o lançamento de um livro, que registra toda esta história que não é apenas da empresa Peterlongo, mas de um certo modo a história de todo o vinho do Brasil. As pesquisas para este livro estão sendo realizadas pela enóloga Maria Amélia que atuou como consultora de marketing e resgate da história da Vinícola.  

 "Tenho o maior orgulho de estar há mais de dois anos mergulhada nas borbulhas desta história lindíssima, visionária e tão sonhadora que parece até inacreditável: elaborar Champagne em um país tropical, selvagem, em uma vila com menos de 800 habitantes, sem a mínima estrutura, tudo em construção. Falamos de Garibaldi, 1915", comentou Maria Amélia.


Na foto acima, durante um almoço na Vinho e Arte, ela nos contava entusiasmada sobre este magnifico trabalho de recuperar a emocionante história do 1° champagne do Brasil e da Vinícola Peterlongo. 

Parabéns a Vinícola Peterlongo e a enóloga Maria Amélia pelo seu trabalho, estou esperando pela oportunidade de ler este livro. 

Agradeço a colaboração da enóloga Maria Amélia Duarte e de Rosângela Longhi da conceitocom Brasil  para a  elaboração do texto desta postagem e pelas fotos aqui utilizadas. 
 
Se beber  não dirija!



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