domingo, 13 de abril de 2014

VINHOS DE OUTONO




No dia 20 de março de 2014, as 13:57 horas chegou o  outono no hemisfério Sul. Este dia é marcado pelo equinócio de outono, evento astronômico que  marca o período em que o sol incide de maneira igual nos dois hemisférios do planeta e tanto o dia como a noite têm duração igual. Isto deverá acontecer novamente por ocasião do inicio da Primavera, quando teremos o Equinócio de Primavera.

 Esta estação é marcada também pelo amarelar ou avermelhar das folhas das árvores e por sua queda nos meses que antecedem o inverno. É uma época de transição entre os extremos de temperatura verão-inverno. É um período de preparação para a próxima estação, que chega em três meses.  

O outono, tal como o inverno, é a época do ano em que deixamos as praias e as reuniões ao ar livre para buscarmos um lugar mais aconchegante para nos reunirmos com nossos amigos, e claro que para isto não poderia faltar um bom vinho.

É  hora de começarmos a abandonar um pouco os vinhos brancos, eu disse um pouco e não definitivamente, uma vez que os brancos  encorpados com mais estrutura combinam muito bem com a estação, e tratarmos de buscar os tintos de médio corpo e que combinam com a temperatura  mais amena desta época do ano, se bem que há dias de outono que são tão quentes que mais parece que estamos em pleno verão.

Os vinhos tintos de médio corpo são vinho secos que se apresentam macios, com teor alcoólico médio e um razoável conteúdo tânico, que tornam clara sua diferença com os vinhos leves. Em geral eles têm longevidade média, com seu  ápice de qualidade em 2 ou 3 anos da safra, sendo que os mais elaborados e caros podem se manter vivos por até 5 ou 8 anos.

Os vinhos  Merlots do Chile, África do Sul, Califórnia e Rio Grande do Sul e os emblemáticos Malbecs argentinos, enquadram-se nesta categoria de vinhos de médio corpo. Aliás, a uva Merlot não é cultivada apenas nestes países, ela  está presente na maioria das regiões vinícolas do mundo, como Austrália, África do Sul, França, Uruguai, Chile (onde, durante muito tempo foi confundida com a casta Carménère) e na Itália (na região da Toscana, onde entra em muitos cortes dos Super Toscanos, Friulli e Sicilia).

Tradicionalmente esta uva produz vinhos macios, fáceis de beber, com taninos sedosos e redondos para serem bebidos, entre três a cinco anos. Harmoniza bem com pratos mais delicados como frango, peru, vitela, pato, carnes grelhadas, e combina muito bem com pratos elaborados com cogumelos. Vai bem também com, carne assada com molho marsala/madeira ou strogonoff de carne ou pratos com massa.

Creio que todos se lembram do famoso filme sobre vinhos, Sideway, onde o personagem principal além de frustrado e levemente neurótico odiava vinhos Merlot, ele passou o filme inteiro achacando este tipo de vinho e endeusando o Pinot Noir, a ponto de ter consequências negativas para os vinhos Merlot no mercado norte americano. E, além disso, no final do filme ele acaba desfrutando um vinho de excelente qualidade, que guardava a sete chaves, em um reles copinho de plástico de uma lanchonete qualquer. Pois bem, talvez por ser tão neurótico e frustrado,  ele não soubesse que o famoso e emblemático vinho Petrus, é elaborado em Saint Émillion com 95% de  uva Merlot. Pensando bem, talvez por não saber disto é que ele ficou neurótico e frustrado.


Alguns tintos, apesar de maravilhosos não cabem no nosso orçamento, mas isto não é motivo para grandes tristezas, pois atualmente com a enorme variedade de vinhos que há, podem-se encontrar alguns que não fazem feio e ainda cabem no nosso bolso.
              Mas se neste mês o seu orçamento não estiver muito apertado, é a ocasião adequada para arriscar no preço e dividir um excelente  vinho, com seus amigos.  O Petrus é uma ótima sugestão, um vinho de terroir, produzido na região vinícola de Pomerol, próximo a Bordeaux, França, que devido ao cuidado com que é elaborado,  resiste há vários anos de guarda. O da safra de 1994 tem uma estimativa de guarda até 2035 e custa a bagatela de algo em torno de R$ 12.000,00. Explica-se este preço exorbitante, são produzidas apenas 32.000 garrafas por safra, numa vinha com  apenas 11,44 hectares de tamanho. Por este preço ele tem obrigação de ser maravilhoso, e é, sem  dúvida nenhuma, além do que seus amigos vão adorar o convite para degustar pelo menos uma taça.

         Agora se vocês são um simples mortal como eu,  podem desfrutar de um belo jantar no frio de Gramado, na serra Gaúcha, como eu fiz há três semanas quando iniciou a nova estação. Deliciei-me com um bom file ao molho madeira e cogumelos, com arroz branco e batatas souté, e claro que não poderia faltar um bom vinho. Na ocasião eu tomei um  Casa Silva Reserva Carmeneré, de cor vermelho-rubi intenso, com tons violáceos. Seus aromas lembram frutos vermelhos (amora, cereja) com notas a tostado e especiarias outorgados por carvalho. Na boca ele apresentou excelente concentração, intenso  e maduro, com  taninos macios. Seu preço estava em torno de R$ 56,00. Tudo bem não tem a classe de um Petrus, mas também não fez feio.




                 Mas uma sugestão para também acompanhar este prato seria o vinho Los Nevados Malbec, Argentino, proveniente do Vale de Uco na Argentina elaborado com  uva  Malbec, de um vinhedo a 1.100 metros. De cor vermelho muito intenso com reflexos violáceos, no nariz apresenta frutas vermelhas frescas, notas de iogurte de morango, em sintonia com as notas de madeira de carvalho. Vinho elegante, de taninos macios, retrogosto frutado com algo de carvalho defumado. Sensação de muito equilíbrio e de boa concentração. Seu preço está em torno de R$50,00.


           Outra sugestão é o Dal Pizzol Merlot, elaborado pela vinícola Dal Pizzol, localizada no distrito de Faria Lemos, Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.  De cor intensa, potente, vermelho rubi, com tons violáceos. Aroma pronunciado, sabor persistente, com bom volume em boca, encorpado, harmônico com taninos aveludados. Grande persistência aromática, lembrando flores, especiarias e frutas vermelhas. Pode ser consumido jovem, porém, ganha com o envelhecimento, tornando-se cada vez mais macio. Recomenda-se consumi-lo entre 15 a 20 °C. Seu preço está em torno de R$ 45,00.


E uma última sugestão é o Marques de Casa Concha Merlot 2011, elaborado pela Vinha Concha e Toro, localizada  no vale do Rapel, Chile. É um vinho de cor rubi intenso, volumoso e com notas de especiarias e baunilha, lembra frutas negras, ameixa, groselha e cereja negra. É um vinho intenso, volumoso, com taninos maduros e final agradável, demonstrando toda sua personalidade e elegância. Tem uma estimativa de guarda de seis anos.  Seu preço está me torno de R$90,00.

Tal como as árvores se renovam, o outono é a estação da coragem, da  transformação, da mudança, a vida se renovando, e para isto nada melhor do que a companhia de um bom vinho. Bom outono para todos vocês!






Mudanças climáticas: Como elas estão afetando a vitivinicultura nos quatro cantos do mundo

  Mudança climática se refere as transformações de longo prazo nos padrões de temperatura e clima. Essas alterações podem ser naturais, poré...