quinta-feira, 18 de maio de 2017

COMEMORANDO O ANIVERSÁRIO EM MENDOZA

    Este ano decidi que não iria fazer uma festa para comemorar o meu aniversário, planejei viajar para festejar a data. Comentei isto com uma amiga de mais de 40 anos que faz aniversário um dia antes de mim, e acertamos de celebrar nosso aniversário visitando vinícolas e tomando o "bom vinho da casa" em Mendoza, Argentina.
       Como ela faz aniversário no dia 24 de abril e eu no dia 25, decidimos embarcar rumo a nossa aventura enogastronômica de uma semana, no dia 26 de abril, decididas a aproveitar tudo de bom que Mendoza poderia nos oferecer, entre elas a magnifica visão dos picos nevados da Cordilheira dos Andes.
       Mendoza é a capital e a maior cidade da província de Mendoza, sendo importante pólo produtor de vinho, azeite e frutas. Me recordo que a primeira vez que estive lá, há mais ou menos 12 anos, eu fiquei simplesmente fascinada pelos pêssegos e damascos produzidos na região, e disponível todos os dias no café da manhã do hotel.  
     A região metropolitana de Mendoza é responsável por 70% da produção vinícola da Argentina e ocupa o 5º lugar no mundo. Mais de 1.200 vinícolas estabelecidas na região produzem 1 bilhão de litros de vinho por ano, sendo que mais de 100 vinícolas estão preparadas para receber visitantes. 
    O terroir mendocino, apresenta caraterísticas importantes, que confere a excelente qualidade dos vinhos ali produzidos, entre eles está a altitude que varia entre 900 a 1.800m, solo desértico, chuvas escassas, vento seco e sol inclemente (cerca de 300 dias de sol por ano) e baixa umidade.  Estas características fazem da região o terroir perfeito, afastando os insetos, pragas e fungos. 
      O clima semi-árido da região faz com que a amplitude térmica entre o dia e a noite seja grande, assim os dias quentes propiciam mais açúcar as uvas e as noites frias favorecem a produção dos taninos. 
     Mendoza no verão é horrível de quente, ainda bem que a cidade é bastante arborizada, o que baixa as temperaturas e torna o ambiente mais agradável. 
     Além dos vinhos e vinícolas, Mendoza é também um excelente lugar para a boa comida, o turista encontra restaurantes, bistrôs e cafés maravilhosos, para se deliciar com a culinária local e passar momentos agradáveis. 
    Um destes locais é o Bute - Buenas Tertulias - Café, Restaurante e Bar, localizado ao lado do Hotel Hyatt, em frente a Praça Independência. É um café pequeno mas maravilhoso, que nós descobrimos por acaso, mas depois fomos lá todos os dias para desfrutar do ambiente charmoso e agradável. A música ambiente é feita principalmente por uma coleção preciosa e de excelente qualidade da mais pura  bossa nova. Acredito que muito poucos brasileiros tenham uma coleção sobre musicas da bossa nova, com a mesma qualidade que o Bute café tem, além de uma  bela coleção de jazz e soul. 
     Iniciamos nossa aventura mendocina visitando algumas vinícolas e também uma olivícola boutique.  Desde que me conheço por gente, sei da boa qualidade das azeitonas Argentinas, principalmente aqui no Rio Grande do Sul, onde se pode adquiri-las com facilidade apenas cruzando a fronteira para fazer compras no países vizinhos, Argentina e Uruguai. 
      A primeira vinícola que visitamos foi a Bodega Don Manuel Villafañe, pertencente a Tomás Machado Villafañe e sua  família, localizada no departamento de Maipú e emoldurada pela cordilheira dos Andes. 
      A história da família Villafañe remonta a 1611, quando Don Miguel veio da Espanha para a Argentina, como soldado, para lutar contra os piratas ingleses que atacavam os navios espanhóis. Mais tarde ele decidiu se fixar no país como fazendeiro e tornou-se um pioneiro como produtor de vinho na Argentina, sendo um dos primeiros a se dedicar a esta tarefa. Naquela época seu objetivo principal era produzir vinho para os padres e, posteriormente, para os colonos, que vieram para o Novo Mundo em busca de novas oportunidades. 
      A Bodega Villafañe é uma vinícola boutique, estando assim focada na elaboração de uvas colhidas a partir de vinhas pequenas, com baixa produção mas de alta qualidade, plantadas em solo pedregoso. São 80 hectares de vinhas em torno da adega, com variedades como Malbec, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot e Chardonnay. 
       O vinhedo está localizado na cama de um rio pré-histórico, produto do derretimento do gelo da montanha. O solo é extremamente pedregoso, composto de rochas erodidas pela água. A produção da vinícola é muito pequena, oscilando entre 5.000 a 7.500 kgs por hectare. A colheita é feito à mão, em pequenos recipientes de 16 kgs., ao amanhecer  de modo que as uvas cheguem  em uma adega fresca. 
      Após a visita ao vinhedo e as dependências da vinícola, passamos a degustação de dois vinhos.
      O primeiro que degustamos foi o Don Manuel Villafañe Malbec Reserva, safra 2014, feito com 100% de uvas malbec, originárias do vinhedo Finca Pedriel, Lujan de Cuyo, Mendoza.
      Envelhecido em barrica de carvalho francês por 12 meses e 12 meses em garrafa, apresenta coloração púrpura intenso, excelente ao paladar, com aromas de ameixas, cerejas e trufa, e a medida que o tempo passa aparecem os aromas de chocolate, café e baunilha. Seu teor alcoólico é de 14,40% vol. A safra de 2008 e 2013 receberam 91 pontos da Wine Enthusiast, a safra de 2009 recebeu a medalha de Prata da Vinus.
       O segundo vinho que degustamos foi uma assemblage de excelente qualidade, o Don Manuel Villafañe Cabernet Franc e Petit Verdot, elaborado com 80% de uvas Cabernet Franc e 20% Petit Verdot, cultivadas em vinhedos a 900 metros de altitude.  
      Com tons avermelhados de boa intensidade e clareza, apresenta aromas de grande expressão e tipicidade varietal, com notas de creme de cassis e mirtilos, combinados com especiarias como cravo. Em boca sentem-se maduros, doces, redondos, untuosos taninos largos e untuosos no meio do paladar, tem um acabamento muito longo. Seu teor alcoólico é de 14,3% vol. 
      Na taça pode-se notar a diferença de coloração entre um vinho e outro, com o Malbec de cor púrpura na taça a esquerda e o Cabernet Franc/Petit Verdot, mais avermelhado,  na da direita. 
       Atualmente a Bodega Villafañe exporta vinhos para sete diferentes países, infelizmente o Brasil não está entre eles, bem como abastece o mercado interno argentino. 
     Na sequência fizemos uma visita a Olivícola Boutique Pasrai que está localizada no departamento de Maipú, Mendoza, zona ideal para o cultivo de azeitonas de excelente qualidade. A Pasrai é uma empresa familiar de Mendoza, que se dedica a elaboração de frutas desidratadas e de azeite de oliva extra virgem. 
    Visitamos a fábrica boutique onde é elaborado o azeite de oliva extra  virgem (porcentagem de acidez menor que 0,8%) pelo método tradicional  de extração utilizando prensa hidráulicas, que dá a azeitona sabor, aroma e textura únicos. 
      A empresa produz vários tipos de azeites com diferentes sabores, além de pasta de grão de bico, e de azeitonas e creme e sabonete de azeitonas. Após a visita as instalações da fábrica nos foi oferecida uma degustação dos vários tipos de azeites, uma verdadeira delicia. 
     Como não poderia deixar de ser eu tratei de comprar alguns azeites para mim, com diferentes sabores. Eu comprei o trio azeite extra virgem com limão, com alecrim e com alho. Verdadeiras maravilhas. 
     Começamos bem, a nossa aventura enogastronômica, depois desta visitamos mais duas vinícolas. 

Se beber não dirija!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOGRAFIA DO VINHO – OS VINHOS DAS REGIÕES DOS BALCÃS E EUROPA DO LESTE - PARTE 2

No dia 04/12/2024 publiquei o artigo “Geografia do vinho – Os vinhos das região do Mar Negro - Parte 1”, onde apresentei dois vinhos da Geo...