Ambas, relativamente desconhecidas, estão relacionadas com a variedade Tempranillo, a mais difundida na Espanha, e mostraram resultados promissores em pesquisas que visam ajudar os produtores de vinho espanhóis a se adaptarem às mudanças climáticas.
A Tempranillo é a casta
tinta mais cultivada na Espanha, representando 42% do número total de castas
tintas e 21% da área total de vinhedos, o que equivale a mais de 201.000 hectares. É a uva mais
importante da Península Ibérica, que atinge o status de nobreza internacional. Esta variedade é
reconhecida internacionalmente pela sua contribuição para os grandes vinhos
tintos da Espanha, é a quarta
variedade mais plantada no mundo e é considerada uma das nove uvas tintas mais
importantes da Europa.
No entanto, nas últimas décadas, as alterações climáticas têm afetado cada vez mais a sua produção. Isso ficou comprovado em muitas zonas vitivinícolas do Sul da Espanha, onde a sua produção está sendo gravemente afetada pelas alterações climáticas, razão pela qual é urgente procurar alternativas, devido a sua importância econômica na vitivinicultura do país.
Existe uma preocupação
especial de que a viabilidade do futuro cultivo desta casta na Espanha seja
comprometida pelos efeitos das mudanças climáticas. Essa preocupação ocorre
especialmente em algumas zonas onde ela é tradicionalmente cultivada, e as mais
famosas, que incluem a Rioja, Ribera
del Duero, Toro e La Mancha, salientadas no mapa que segue.
Um estudo desenvolvido recentemente chamou atenção de que cerca de 90% das regiões vitivinícolas tradicionais nas regiões costeiras e baixas da Espanha podem correr o risco de desaparecer até o final do século, devido à seca excessiva e às ondas de calor mais frequentes.
À medida que a Espanha se vê confrontada, ano após ano, com calor e condições meteorológicas extremas, a necessidade do país encontrar formas de se adaptar a um clima em mudança, tem ficado mais presente e, tem havido avisos de que a situação pode piorar.
Em um estudo realizado pelo Instituto da Vinha e do
Vinho de Castilla-La Mancha (IVICAM) e pelo Instituto Regional de Pesquisas e
Desenvolvimento Agroalimentar (IRIAF), no âmbito do projeto “Avaliação do comportamento de diferentes
castas cultivadas em condições de seca”, desenvolvido no contexto da tese de doutorado de Sergio
Serrano Parra, foram identificas duas
variedades de videira alternativas à uva Tempranillo para adaptar-se às
mudanças climáticas: Benedicto e Moribel.
Para tal, foi utilizado um vinhedo experimental
localizado em Tomelloso, província de Ciudad Real, na região de Castilla-La
Mancha, no centro da Espanha, onde o clima é Temperado Mediterrâneo, com
invernos rigorosos, verões quente, chuvas irregulares com estiagem no verão,
fortes oscilações térmicas e notável aridez e a altitude está em torno de 660m.
Veja a localização no mapa da área onde os estudos foram realizados.
As variedades Benecito, Tempranillo e Moribel, foram
cultivadas e monitoradas durante duas temporadas consecutivas, sendo a
variedade Benedicto, a principal variedade, e em menor a Moribel. Ambas são aparentadas
com a Tempranillo e poderiam se tornar futuras alternativas para a variedade tinta
mais difundida na Espanha. As videiras foram cultivadas sob dois regimes
diferentes de déficit hídrico (seco e úmido, respectivamente).
Os resultados sugerem que as variedades Benedicto e
Moribel, pai e descendente da uva Tempranillo respectivamente, são capazes de
ter um desempenho relativamente bom em condições de estresse térmico e seca.
Estas variedades, relativamente desconhecidas, mostraram resultados promissores
em pesquisas que visam ajudar os produtores espanhóis a se adaptarem às
mudanças climáticas.
Os resultados obtidos mostram que:
- A uva Benedicto apresenta características qualitativas superiores às da Tempranillo, posicionando-se como uma excelente alternativa para o futuro. É uma uva que atualmente é cultivada de forma residual em Aragón;
- Em menor proporção, a Moribel também supera a Tempranillo em atributos como acidez e pH, agregando valor significativo;
- Os pesquisadores do IRIAF descobriram que a Benedicto superou a Tempranillo em algumas análises qualitativas, colocando-a em posição de ser uma excelente alternativa de uva para vinificação futura;
- A pesquisa mostrou que a Moribel possui acidez superior à da Tempranillo, o que também pode ser fundamental para a elaboração dos vinhos equilibrados no futuro;
- Tanto a Benedicto como a Moribel tiveram rendimentos maiores e frutos menores que a Tempranillo, favorecendo a qualidade;
- Os parâmetros de qualidade das uvas foram comparáveis na Moribel e Tempranillo, mas inferiores aos da Benedicto;
- Os resultados obtidos sugerem que quando cultivadas em condições hídricas restritivas, tanto a Benedicto quanto a Moribel se comportam melhor que a Tempranillo. Portanto, num futuro próximo é provável que o cultivo destas variedades, até então desconhecidas, aumente nas zonas semiáridas, em detrimento da Tempranillo;
- Embora os vinhos elaborados com estas duas castas compartilhem um perfil organoléptico semelhante ao da Tempranillo, e tiveram um desempenho igualmente bom na sala de degustação, os pesquisadores descobriram que os provadores manifestaram uma clara preferência pelos vinhos Benedicto e Moribel, aos elaborados com a uva Tempranillo;
- Isso sugere que a incorporação destas castas alternativas poderia ajudar os produtores de vinho não apenas a preservar, mas até mesmo melhorar os vinhos produzidos com a uva Tempranillo, sob condições cada vez mais adversas de um clima cada vez mais quente.
Fontes:
https://www.diariosur.es/antropia/descubren-dos-variedades-uva-adaptan-cambio-climatico-20240609123453-ntrc.html;
https://content.paodeacucar.com/vinhos/uva-tempranillo
https://www.decanter.com/wine-news/tempranillo-grape-relatives-show-promise-in-climate-study-532894/
https://ives-openscience.eu/33829/
https://blogriojaalavesa.eus/uva-benedicto/
https://laprensadelrioja.com/vinos-y-bodegas-2/benedicto-progenitor-del-tempranillo-hace-mas-de-500-anos-aparece-en-el-vinedo-riojano-i/
https://www.agroclm.com/2022/02/17/hallan-varias-cepas-de-la-variedad-de-uva-considerada-madre-del-tempranillo/
https://www.ptvino.com/es/cepas-de-benedicto-la-madre-del-tempranillo-encontradas-en-dominio-de-cair-ribera-del-duero/
Se beber, não dirija!