domingo, 14 de junho de 2015

OS VINHOS DO PAÍS DO EXTERMINADOR DO FUTURO



Dias atrás assistindo a entrevista do ator Arnold Schwarzenegger no Fantástico me lembrei que em setembro de 1996 participei em Graz, Áustria, de um seminário sobre “Tecnologia Espacial para o Beneficio dos Países em Desenvolvimento”, organizado pela Divisão de Espaço Exterior da ONU e pela Agência Espacial Européia-ESA. Deste seminário participaram profissionais da área espacial de todos os continentes.



Graz é a terra natal do Exterminador do Futuro. É a segunda maior cidade da Áustria, depois de Viena e capital do estado da Styria. O centro histórico da cidade é lindíssimo, com construções muito antigas e várias delas com suas fachadas decoradas com desenhos de flores e pássaros, o que os torna únicos. Em 1999 foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.


No século XIV a cidade foi residência do ramo austríaco dos Habsburgos, uma das famílias nobre européias mais importantes da Europa do século XIII ao século XX. Graz foi também local de residência do astrônomo Johannes Kepler, por um curto período de tempo, onde ele trabalhou como professor de matemática. 

Graz tem uma longa tradição como cidade universitária e as suas seis universidades em conjunto contam com mais de 44.000 alunos. A Universidade Karl-Franzens, onde foi realizado o seminário, que é também conhecida como Universidade de Graz, é a mais antiga da cidade tendo sido fundada em 1585 pelo arquiduque Carlos II. O prédio onde assistimos ao seminário é um primor de arquitetura e me recordo que no primeiro dia a maioria dos participantes estavam mais atentos aos afrescos e pinturas do teto e paredes do auditório do que às palestras sobre tecnologia espacial, tal a beleza do local.

A cidade está situada às margens do rio Mur, no sudeste da Áustria, aproximadamente a 200 km a sudoeste de Viena e muito próximo da fronteira com a Eslovênia, na região de Steiermark, uma das quatro regiões vinícola do país. Por esta razão, principalmente nos finais de semanas, era possível ver todos com taças de vinho branco na mão, desfrutando dos últimos suspiros do verão, nas mesas postas nas calçadas, dos vários e charmosos restaurantes, existentes no centro antigo da cidade. Recordo-me que nosso voo de regresso ao Brasil saía no sábado ao final da tarde, e assim foi possível dar um último passeio pelo centro histórico pela manhã, e me chamou muito a atenção ver as pessoas degustando vinhos em alegres bate-papos com seus amigos, em uma manhã ensolarada que ainda guardava algum resquício de calor antes do outono e o frio chegarem à região. 

Logo no primeiro dia do seminário, à noite, tivemos uma recepção de boas vindas oferecida pelo prefeito, e fiquei surpresa de ver a quantidade de vinhos que era servido, porque provavelmente, assim como eu, a maioria de vocês ignora que a Áustria tem uma produção de vinhos pequena, mas bastante consistente e de alta qualidade.

O país tem uma centenária tradição de viticultura muito semelhante a da sua vizinha Alemanha, devido principalmente à cultura comum e ao clima da região. A Áustria produz principalmente vinhos brancos (70% dos vinhedos) onde são cultivadas 22 variedades brancas oficialmente autorizadas, porém nos últimos anos a produção de vinhos tintos cresceu para um total de 30%. Nas suas quatro regiões vinícolas- Burgenland, Niederösterreich, Steiermark (Styria), Wien (Vienna)-são cultivadas diversas castas típicas (tanto brancas como tintas) e existem mais de 6 mil vinícolas, algumas delas com rótulos premiados internacionalmente.

As videiras são cultivadas nas mesmas regiões por milhares de anos, assim como as variedades de castas. O grande impulso na indústria vinícola austríaca ocorreu durante o Império Austro-Húngaro, por volta de 1860, no período em que a Imperatriz da Áustria era a famosa Elisabeth von Bayern (lembram da Sissi) casada com o imperador Francisco José I.

Nesse período ocorreu a regulamentação do cultivo das uvas e da elaboração de vinhos, assim como das pesquisas realizadas na escola vinícola do mosteiro Klosterneuburg, no baixo Danúbio, que acabou deixando um rico legado para os produtores. Este mosteiro agostiniano, localizado na cidade de mesmo nome data do século XII, e foi fundado pelo nobre Leopoldo III, que virou santo padroeiro da Áustria, e sua esposa Agnes. O mosteiro é uma das adegas mais antigas da Áustria, produzindo vinhos há quase 900 anos desde a sua fundação em 1114, em uma área de 108 hectares.



 A uva emblemática da Áustria é a Grüner Veltiner, uva branca autóctone, provavelmente derivada de um cruzamento com a Traminer, representada por mais de 36% da área vitícola. É encontrada em sua grande maioria na região de Weinviertel, mas pode ser encontrada também nas regiões de Kamptal, Kremstal, Wagram e Wachau. Ela propicia vinhos secos frescos, com acidez refrescante, notas de doce de maçã, frutas cítricas e ervas, mas o aroma mais associado a esta uva é a pimenta branca. Ela é utilizada para a prodição do Sekt, o vinho espumante da Áustria e da Alemanha. Além dela, destacam-se também a Riesling, a Gewürztraminer, a Welschriesling e a Weissburgunder. 
Como os participantes do seminário (mais de 40) eram originários de todos os continentes, o governo local não perdeu a oportunidade de nos mostrar os belos vinhedos e as vinícolas da região, em sua maioria de pequeno porte. Assim, foi organizado um tour onde tivemos a oportunidade de provar não só os vinhos como saborear as delícias culinárias da região, em geral em mesas no jardim em frente a vinícola,aproveitando que o dia estava agradável e ensolarado. 

Olhando o mapa das regiões vinícolas da Áustria vocês vão identificar em verde escuro, na região de Steiermark, a sub região de Südsteiermark, que ocupa 2.340ha, a pérola da região de produção de  vinhos próximo a Graz, que exatamente a que visitamos. Aí são feitos vinhos brancos aromáticos, principalmente com a uva Sauvignon Blanc, mas também pordem ser encontrados vinhos feitos com as uvas Welschriesling, Morillon (Chardonnay), Gelber Muskateller e Traminer.

Os terrenos colinosos, com encostas íngremes, com solos xistosos, marga e pedras calcárias, aliados a um clima mediterrâneo, quente e  úmido, faz com que o período de crescimento das videiras seja longo e prolongado, As noites frescas ajudam a desenvolver finos e elementos aromáticos  que dão qualidade aos vinhos brancos  da região.  

No mesmo dia do tour, mais para o final do dia fomos visitar o Schloss Seggau (Castelo Seggau -http://www.seggau.com/en/), um castelo localizado nesta região vinícola, construído pelo arcebispo de Salzburg no século 12 e que serviu como residência dos bispos até 1786, mantendo-se posteriormente como residência de verão até o século vinte. Hoje serve como local para seminários, conferências, realização de eventos como casamentos na capela, e conta com um café e um hotel cuja reserva vocês podem fazer pelo Booking ou TripAdvisor.

Ele está localizado em Seggauberg, a 40km ao sul da cidade de Graz, a sua adega tem mais de 300 anos de idade e foi lá onde a noite nos esperava uma recepção para degustarmos os vinhos produzidos no castelo. A adega é simplesmente deslumbrante, fica na parte inferior do castelo, com seus arcos e barricas de madeira e iluminação suave dando um ar de mistério e encantamento para o momento da degustação. Fomos recebidos pelo responsável pela adega que nos deu uma explicação sobre a produção de vinhos.
 

Confesso que não me recordo mais dos vinhos que provamos, porque na época não fazia anotações sobre os vinhos que bebia como faço agora, mas lembro que eram brancos e tintos, que no meio da adega havia uma mesa enorme com salames, queijos e pães. Mas para obter maiores informações sobre vinhos austríacos, vocês podem acessar o site da única importadora destes vinhos no Brasil a Vinhos da Áustria  (http://www.vinhosdaaustria.com.br/#/home).

Quando forem a Áustria reservem pelo menos dois dias para visitar esta região e seus vinhedos, vale a pena.

Uma curiosidade,  na época, não sei como estaria hoje em dia, como as paredes da adega eram úmidas se formavam nelas uma espécie de limo, onde os visitantes fixavam moedas, como uma tradição de boa sorte. Eu afixei a minha.
 
Outra coisa que me recordo deste dia, é que era uma noite de lua cheia e que quando saímos da recepção, todos estavam levemente mais alegres, e, acredito que antes de irmos embora demos uma última olhada para este lindo castelo e sua bela adega sob a luz do luar e repetindo a famosa frase do filho da terra, o Exterminador do Futuro, todos nós dissemos I’ll be back”.



Se beber não dirija!












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