sexta-feira, 7 de março de 2025

EXPERIÊNCIA ENOGASTRONÔMICA NA VINÍCOLA MADRE TERRA

 

Como faço anualmente no mês de fevereiro, fui até a Escola de Gastronomia da Universidade de Caxias do Sul-UCS, em Flores da Cunha, RS, para ministrar a minha aula sobre Geografia do Vinho, no Curso 4 - Degustação técnicas de bagas – Terroir, Tipicidade, Clima/Solo e & Assemblages da Concept Wine (https://conceptwine.com.br). Nessa aula eu abordo os elementos climáticos e os fatores geográficos, ambientais e os eventos adversos que influenciam na vitivinicultura, além das indicações geográficas brasileiras.

Dias antes, entre as várias mensagens que recebo pelas redes sociais sobre vinho, me deparei com uma que me interessou muito, era sobre uma experiência gastronômica única na Vinícola Madre Terra (https://www.instagram.com/vinicolamadreterra). Essa é uma vinícola boutique que abraça a filosofia da agricultura regenerativa, conduzida com respeito ao Terroir e à sociobiodiversidade. Ela está localizada em Flores da Cunha, Serra Gaúcha, na região da Capela São João a 847 metros de altitude, onde são elaborados microlotes de vinhos e espumantes. 


Como minha aula na Concept Wine/UCS era na sexta-feira pela manhã e a Experiência Enogastronômica era no sábado pela manhã, eu resolvi aderir a ela, uma vez que adoro cozinhar e frequentemente nos finais de semana tenho ataques de cozinheira, onde experimento as mais variadas receitas, sempre devidamente acompanhadas de bons vinhos. Fiz minha reserva no evento e no sábado pela manhã lá me fui para a vinícola aberta a desfrutar dessa experiência enogastronômica.

Éramos seis participantes e quem nos recebeu e conduziu toda a experiência gastronômica foi a competente e simpática primeira gastrônoma doutora no Brasil e enóloga Tainá Zaneli, filha dos proprietários da vinícola, e que dedicou parte de sua formação profissional a relação do vinho com a gastronomia.

Foi nosso dia de Chef! E para ficar na memória tudo que aprendemos, no início das atividades, recebemos um livreto com as receitas que seriam preparadas em aula, sob a orientação da Chef Tainá.

Nesse folheto está mencionado que: “a proposta dessa experiência gastronômica é cozinhar, beber e comer.  A enogastronomia é o conjunto de conhecimentos, técnicas e práticas relacionadas à harmonização de vinhos com pratos”. Assim, o participante irá aprender, sob a orientação da Tainá:

  • Os elementos sobre análise sensorial;
  • Os elementos sobre harmonização de vinhos e alimento; e,
  • Receitas que serão elaboradas e degustadas em aula.

Uma experiência deliciosa, vale a pena vocês tentarem, ela é realizada nas sextas-feiras e nos sábados, mediante reserva. Detalhe, o participante não precisa ser nenhum chef de cousine experiente, a Chef Tainá orienta a todos na preparação das receitas. Na realidade é uma aula de enogastronomia muito divertida e, claro, deliciosa.

Ao chegarmos na vinícola fomos recebidos pela Tainá, em um ambiente acolhedor a beira do lago rodeado de Araucárias e outros tipos de vegetação. O evento estava marcado para começar as 10:30 e finalizar as 15:30, onde cada uma de nós pôs, literalmente, a mão na massa. Foi uma experiência em que preparamos nossa própria refeição desde a entrada, o prato principal até a sobremesa, todos harmonizados com rótulos da Madre Terra.

As atividades são realizadas na cozinha gourmet da vinícola, como pode ser vista na foto e onde há uma mesa enorme de madeira, lindíssima. É nessa cozinha onde os participantes se reúnem para aprender a elaborar cada um dos pratos sugeridos. Cada participante prepara o seu, e, claro, conversar muito e rir muito também faz parte da experiência, além de poder admirar os vários vinhos elaborados pela Madre Terra.

 

Como boas-vindas e dando início a nossa experiência enogastronômica, começamos os trabalhos com um brinde com o espumante Madre Terra Ventrez Brut Rosé. Para acompanhar foi servido como couvert, uma tábua de frios e pães, moranguinhos e uvas, para nos inspirarmos e entrarmos de vez no espírito dessa experiência. Foi o nosso momento de boas-vindas.

O espumante é elaborado com uvas Pinot Noir, de coloração rosé gold claro, com reflexos brilhantes e perlage constante. Aroma intenso, com notas cítricas de tangerina, de frutas vermelhas, como romã e toques florais de rosas e mel de jataí. Apresenta boa acidez, o que lhe confere grande refrescância e cremosidade. Harmoniza com lombo suíno com molho de pitanga e mousse de chocolate branco com coullis de framboesa. A graduação alcoólica é de 11% e a temperatura de serviço é 4° a 6°C.

Como vocês podem ver na foto, antes de preparar qualquer outro prato tratamos de fazer a sobremesa, um tiramissu, que em seu preparo, entre outras coisas, tem nata, queijo mascarpone, biscoito champagne e licor de café. Para ficar delicioso, esses ingredientes devem ser batidos e postos em um recipiente e levado a geladeira, para estar gelado na hora de ser saboreado. Por essa razão começamos por ele, detalhe, nessa experiência cada participante prepara a sua porção de cada um dos pratos. 


Na sequência, partimos para a elaboração do primeiro prato a salada caprese com pesto de baru. Essa foi a primeira vez que preparei pesto na vida, nunca me interessei antes pela simples razão que não sou muito fã de pesto. Mas modéstia à parte, o pesto que eu preparei ficou maravilhoso. Como vocês podem ver nas fotos, na preparação de cada prato o bate papo corria solto.

Com o pesto pronto preparamos a salada caprese, com tomate cereja, muçarela de búfala (que eu amo), manjericão, sal e pimenta a gosto com um fio de azeite. Regamos tudo isso com o molho pesto e harmonizamos com o vinho Madre Terra Ventrez Sauvignon Blanc.

 

Esse Sauvignon Blanc é sem passagem por barrica, de coloração amarelo palha com reflexos esverdeados, límpido e de baixa intensidade. Com aromas intensos de frutas frescas como maracujá, goiaba branca, pera e maçã verde, além de um toque de broto de tomate, folha de limão e arruda. No paladar apresenta acidez equilibrada, boa estrutura de corpo, intensidade de sabor alta e final de boca longo. A temperatura de serviço é 8° a 10° C. Tem um alto potencial gastronômico, podendo ser servido com salada de manga picante, casquinha de siri, bolinho de bacalhau, ceviche de tilápia e harmonizou maravilhosamente com a salada que preparamos.

 Em seguida partimos para a elaboração do segundo prato uma pasta fresca com molho de cogumelos. Amei, uma vez que sou fã incondicional de cogumelos.   

Começamos pela preparação da pasta fresca e devo confessar que esse foi o momento, para mim, mais especial de toda a preparação dos pratos que degustamos. Me fez recordar quando eu era criança/adolescente e frequentemente minha mãe preparava pasta em casa e eu auxiliava nessa preparação.  Isso significava que parentes ou amigos viriam para o almoço, naquele dia, o que era sempre uma festa. O momento que eu mais gostava era quando ela passava a pasta pela máquina, como na foto, onde uma bola disforme se transformava em um spaghetti ou tagliarini. 

Enquanto a pasta descansava, antes de passar pela máquina e ser cozida, começamos a preparação do molho de cogumelos com nata, onde foram utilizados shitake, shimeji e cogumelo-paris, regados com vinho branco e finalizado com queijo parmesão. Cozinhamos a pasta e cobrimos com esse molho maravilhoso. Esse prato foi o Gran Finale da nossa deliciosa experiência de elaboração do nosso almoço e sua harmonização com os vinhos. 

Para harmonizar com a pasta degustamos um Madre Terra Pinot Noir AuraZ Rosé Nobre, 100% Pinot Noir cultivada na região da Serra do Sudeste sem passagem por barricas. Vinho seco, de acidez equilibrada, encorpado, intensidade de sabor alta e final de boca longo. Apresenta aroma intenso de frutas maduras como melão espanhol, cereja, framboesa, morango, pitanga, com toque floral delicado de jasmim amarelo além da baunilha, cravo e creme de papaia. Este vinho pode ser harmonizado com involtini de parma recheado com queijo chevre e bobó de camarão, polenta cremosa com bochecha de porco em demi glace. Harmonizou perfeitamente com a pasta fresca com molho de cogumelos, confesso que sou fã de vinhos rosés.

 Para finalizar a nossa maravilhosa experiencia enogastronômica fomos desfrutar do jardim da vinícola onde, a sombra de arvores e a beira do lago saboreamos o nosso tiramussi harmonizado com Madre Terra AuraZ Prosecco Nature.


Esse espumante de coloração amarelo palha com perlage fino e intenso, é elaborado pelo método tradicional exclusivamente a partir de uvas Glera cultivadas na Serra Gaúcha. De boa tipicidade, em boca apresenta acidez em equilíbrio, textura cremosa e persistência no retrogosto.  Com aroma intenso, fino e de boa complexidade aromática mostra frutas brancas acompanhadas de notas florais, de fermento e de ervas. Sua acidez refrescante e textura cremosa traz equilíbrio ao conjunto. Tem final cativante, com toques cítricos, de peras e de maçãs. Teor alcoólico 11.6% e a temperatura de serviço é 4° a 6°C. Perfeito para acompanhar o tiramusi.

Foi um momento de relaxamento e de harmonia com a natureza, maravilhoso e, por essa razão, nem lembrei de tirar uma foto. 

Se beber, não dirija!

 
Fontes:

https://www.portalbonvivant.com.br/post/madre-terra-nova-vinicola-abre-suas-portas-na-serra-gaucha

https://www.inawine.com.br/vinho-rose-auraz-pinot-noir-2023-madre-terra#

https://cavenacional.com.br/2614-madre-terra-auraz-rose-pinot-noir-2023.html

https://www.terroircatarina.com.br/vinho-rose/rose-nobre-pinot-noir-auraz-madre-terra

https://www.emporiovinodosul.com.br/madre-terra-auraz-prosecco-nature?srsltid=AfmBOopfcBOfYFq1OROPGdvxolWHeagXBYA9_DGbEjYV5Io-qbEYtNRb









domingo, 12 de janeiro de 2025

CÃES SÃO TREINADOS PARA COMBATER DOENÇAS E PRAGAS EM VINHEDOS

Todos nós sabemos que os cães são grandes companheiros, amorosos e fiéis aos seus donos, desde os tempos mais remotos da humanidade. Aquelas bolas de pelos, fofas, brincalhonas e que nos olham com uma carinha amorosa e cheia de cumplicidade, são irresistíveis. 

Tudo bem, as vezes destroem nossos chinelos, fazem bagunça na casa, latem nos momentos mais inapropriados, mas quem se importa, a grande maioria da humanidade vê os cães como grandes companheiros.

Eles são animais fiéis aos seus donos, amorosos com as crianças, inteligentes, com capacidade de aprender várias habilidades, entre elas a de auxiliarem no salvamento de vidas, muitas vezes em situações de grandes perigos. 

Cães bem treinados auxiliam no resgate de pessoas em situações perigosas, como incêndios, afogamentos, na busca por vítimas em locais de deslizamentos, auxiliam policiais na busca por drogas e materiais explosivos,  protegem seus donos de perigos, auxiliam os cegos a se locomoverem com maior facilidade, são suporte emocional para idosos e para crianças com autismo e síndrome de Down.

Mas se esse é um blog de vinhos, porque estou escrevendo sobre cães? É que acabei de encontrar alguns  artigos, publicados no início desse ano,  que apontam mais uma habilidade desses nosso fieis companheiros. Eles relatam experimentos  realizados por pesquisadores onde  foram utilizados cães, especialmente treinados, para auxiliar os produtores de vinho a detectar pragas e doenças prejudiciais aos vinhedos.

Como companheiros, os cães de vinícola são comumente vistos em vinhedos e adegas, desempenhando o valioso trabalho de melhores amigos. Mas eles  poderão em breve assumir um novo papel nos vinhedos, farejando pragas entre as videiras.

Pesquisas apresentaram evidências de que os detetives caninos poderiam auxiliar os produtores de vinho na batalha contra doenças e pragas da videira. Em um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Cornell, publicado no final de dezembro de 2024, ficou demonstrado que os cães poderiam ajudar seus tratadores a detectar ovos da invasora mosca-lanterna pintada, em vinhedos.

A mosca-lanterna-pintada (Lycorma delicatula - Lanterfly ) é um inseto invasor que não está presente no Brasil. Nativa de países asiáticos como China, Índia e Vietnã, foi vista pela primeira vez nos Estados Unidos, no estado da Pensilvânia, em 2014. Essa praga espalhou-se pelo país e, apesar do lindo colorido das usas asas que encanta a muitos, vem gerando prejuízos significativos para a agricultura, pois se alimenta de árvores frutíferas e videiras. A mosca perfura a haste das plantas, impedindo o crescimento e excreta uma substância que cobre e mofa tudo com o que entra em contato.

DIA, um cão Labrador Retriever, e FAGAN, um cão  Malinois Belga, provaram ser mais hábeis do que os humanos em farejar massas de ovos em florestas vizinhas a vinhedos na Pensilvânia e em Nova Jersey, nos EUA, auxiliando os produtores de vinho a combater pragas e detectar doenças nos vinhedos.


Os autores do estudo relatam que eles encontraram 3,4 vezes mais massas de ovos do que humanos em áreas florestais próximas aos vinhedos, que são esconderijos populares de inverno para essa praga.

No entanto, os humanos foram melhores em encontrar massas de ovos nos próprios vinhedos. Os pesquisadores sugeriram que isso acontecia porque as pessoas são capazes de vasculhar sistematicamente os vinhedos, fileira por fileira, enquanto o olfato dos cães foi mais útil em áreas arborizadas.  

As descobertas, publicadas na revista Ecosphere, podem ser importantes na batalha dos produtores de vinho contra a propagação desta espécie invasora. “Uma infestação de mosca-lanterna manchada em um vinhedo pode causar 80% a 100% de mortalidade das vinhas em uma estação de cultivo”, disse a professora Angela Fuller, da Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida da Universidade Cornell e  também  líder da Unidade Cooperativa de Pesquisa de Peixes e Vida Selvagem de Nova York.

OÍDIO

De acordo com as conclusões de um estudo publicado na última edição do Journal of Veterinary Behavior, os cães também podem reconhecer o cheiro exalado pelo oídio, um fungo que afeta as videiras em todo o mundo.

O oídio da videira é uma doença causada pelo fungo Erysiphe necator. Os sintomas mais comuns são manchas brancas ou cinzas em folhas, rebentos e frutos. O predomínio de clima com baixa incidência de chuvas, altas temperaturas entre 20 °C e 27 °C também favorece seu aparecimento.

 

Em estágio mais avançado, o oídio atinge as bagas da uva. Nesse caso, sua ocorrência provoca um crescimento diferente entre a parte atingida e o restante da fruta.

Os pesquisadores disseram que estudos já mostraram que os cães podem detectar uma série de ameaças agrícolas. Eles acrescentaram que “não existe uma maneira rápida e econômica” de identificar o oídio em grande escala.

Eles trabalharam com três cães de estimação com experiência anterior na detecção de cheiros para fins de pesquisa. Os resultados sugeriram que os cães foram capazes de distinguir o oídio nas folhas da videira, embora os autores tenham acrescentado que são necessárias mais pesquisas.

PROJETO PILOTO  NA CALIFÓRNIA

Enquanto isso, um projeto piloto realizado na Califórnia indicou que os cães podem detectar o vírus Leafroll 3 e cochonilhas da videira com fortes índices de precisão, conforme  publicação da Wine Business em dezembro de 2014. Quatro  cães farejadores  foram treinados na detecção de doenças da videira como parte deste projeto piloto,

A doença do enrolamento da videira (Leafroll 3) é uma das doenças virais da videira mais difundidas e economicamente prejudiciais no mundo. O sintoma típico é o enrolamento dos bordos da folha para baixo. A doença está associada a até doze espécies diferentes de vírus, conhecidas coletivamente como vírus associados ao enrolamento da videira (GLRaV). Uma vez estabelecido num vinhedo, o GLRaV-3 se espalha rapidamente e leva anos para ser erradicado. 

As videiras afetadas pelo GLRaV-3 apresentam perda contínua e gradual de vigor, produção reduzida (menor número e tamanho de cachos), amadurecimento irregular dos cachos e menor teor de açúcares nos frutos, maturação atrasada ou variável e produzem vinhos de qualidade inferior.

Já as cochonilhas-da-uva danificam as uvas contaminando os cachos com sacos de ovos algodoados, larvas e melada. Frequentemente, a melada é coberta por um fungo preto fuliginoso, como se a baga estivesse coberta por uma fuligem.

Uma equipe da Califórnia treina cães para farejar vírus e insetos nos vinhedos, eliminando a necessidade de pulverização de pesticidas. MALBEC (um cão labrador preto) e SAUVI B (um cão Springer Spaniel inglês) foram os responsáveis ​​pela caça às cochonilhas. Enquanto isso, CAB (um cão Braco Alemão de Pêlo Curto) e ZINNY (outro cão Springer Spaniel Inglês) começaram a trabalhar na detecção do vírus Leafroll 3. Na imagem que segue vê-se exemplos ilustrativos destas três raças de cães.


O ensaio foi financiado com uma doação de US$ 428.111 do Departamento de Regulamentação de Pesticidas da Califórnia.

Dra.Stephanie Bolton, diretora de pesquisa e educação de produtores e diretora de viticultura sustentável da Lodi Winegrape Commission, trabalhou no projeto piloto. Ela disse que o objetivo do teste era ter “a detecção precoce não destrutiva em tempo real, acessível e precisa desses vírus”.

“Os caninos são recompensados ​​com brincadeiras; é um jogo para eles”, disse Bolton. Ela também descobriu que “os cães vão até melhorar com o tempo”. O estudo piloto demonstrou que o treinamento de caninos detectores seria um método eficaz para evitar doenças nas videiras. 

CAB e ZINNY conseguiram detectar o vírus Leafroll 3 em 93,4% dos casos, de acordo com os resultados. Já MALBEC e SAUVI B detectaram a presença de cochonilhas da videira com 97,3% de precisão. Os cães provaram suas habilidades em três séries de testes.



 




 

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