domingo, 22 de julho de 2012

RAZÕES PARA GOSTAR DE VINHO BRANCO



Quando escrevi o artigo sobre o Pinot Gris enviei o endereço do meu blog para um amigo fã de vinhos, e ele me enviou uma mensagem dizendo o seguinte: “Ainda não tomei nenhuma garrafa de pinot gris. Mas já houve ocasiões em que degustei vinho branco e foi a melhor bebida para o momento. Há tempo para tudo, mas o vinho tinto me conquistou e mesmo no verão, eu me pego degustando um tinto.” Ao que eu respondi a ele “vinho bom é vinho bom, não interessa se é tinto ou branco”.

            Já ouvi também com muita frequência a seguinte frase “vinho bom é vinho tinto” ou “vinho branco é um vinho para se tomar sozinho” ou ainda as pessoas consideram o vinho branco quase como um aperitivo, sendo consumido antes do jantar, em coquetéis ou festas onde as pessoas ficam em pé e vão embora logo.

          Até entendo estas manifestações uma vez que, culturalmente, quando se fala em vinhos ou ele é representado em figuras, fotografias e filmes, tais como naquelas cenas românticas em que o galã serve uma taça de vinho para conquistar a mocinha, sempre, sem exceção, o vinho é tinto.

       Até o vinho mais famoso do mundo, aquele que foi servido nas bodas de Caná todo mundo crê que era tinto. Já li vários textos sobre isto, todos mencionam o alto teor alcoólico deste vinho, e o milagre da transformação da água em vinho, mas nenhum deles menciona a cor, assim por que todos nós julgamos que ele era tinto?

Ninguém sabe realmente quando o vinho surgiu o mais provável é que alguém esqueceu algumas uvas em um recipiente qualquer e que elas acabaram fermentando, um dia alguém com sede bebeu aquele liquido, que deveria estar mais para suco de uvas do que para vinho, surgindo assim esta maravilhosa bebida.

               Pesquisadores descobriram no Egito e na Síria, vestígios da espécie Vitis Vinífera, datadas de 4.000 a.C. O Antigo Testamento menciona que Moisés ao atracar a Arca no Monte Ararat, saiu e cultivou um vinhedo e de seu fruto embriagou-se, e todos creem que era de vinho tinto. Mas isto não está mencionado no Antigo Testamento.

Em 1532 foram introduzidas as primeiras videiras no Brasil, por Martim Afonso de Sousa, e por serem oriundas de Portugal e da Espanha, todos acreditam que produziam vinhos tintos, mas se vocês lerem artigos e textos sobre isto, não há menção da cor do vinho.

Assim, culturalmente damos mais valor ao vinho tinto que ao vinho branco. Se vocês entrarem na Wikipédia tudo que irão encontrar sobre vinho branco é o seguinte O vinho branco é um vinho de coloração dourada e aroma frutado. Conhecido no Egito Antigo, foi recriado em Portugal.” com um hiperlink na palavra vinho que nos remete imediatamente a uma página que trata longamente sobre esta bebida, mas claro, basicamente sobre vinho tinto. Se este vinho já era conhecido no Egito (4.000 a.C.), ele surgiu na mesma época em que o vinho tinto.

Mas vamos ao vinho branco, é um equívoco desprezá-lo ou considerá-lo um vinho menos espetacular. Vivemos em um país, que em sua maioria é de clima tropical, e, mesmo nos estados do Sul do Brasil, de clima subtropical a temperado, o verão caracteriza-se por temperaturas bastante altas, não raro atingindo os quarenta graus. Portanto, na maior parte do território nacional e na maior parte do ano, nosso clima pede vinhos mais refrescantes, mais leves ao paladar e a digestão e que sejam servidos a temperaturas mais baixas que os vinhos tintos.

Aliado a isto temos 8.000km de costa o que nos proporciona uma profusão de peixes e frutos do mar. Nosso país é rico em frutas e em saladas coloridas e saborosas que fazem parte e enriquecem a culinária brasileira e harmonizam divinamente com os vinhos brancos.

Ao pesquisar sobre vinhos brancos na literatura encontrei uma tabela de uvas que produzem vinhos tintos e brancos, no livro Vinho para Leigos de autoria de Ed McCarthy e Mary Ewing–Lulligan, da Editora Alta Books, Rio de Janeiro, 2008. Nela a quantidade de uvas que produzem apenas vinhos tintos (12) ou só brancos (13) é a praticamente a mesma, com uma leve vantagem dos brancos.



Atualmente temos uma oferta e uma diversidade bastante grande de vinhos brancos importados e nacionais de boa qualidade e a preços razoáveis. É bem verdade que muitos ainda associam o vinho branco ao terrível e extremamente adocicado vinho alemão Liebfraumilch, aquele da garrafinha azul, cujo consumo estrondoso no país foi inversamente proporcional a sua qualidade. Mas isto foi lá nos ano 80, e por incrível que pareça este vinho levou muitos consumidores bissextos a se tornarem verdadeiros amantes do vinho.

Tudo bem que você goste de um vinho tinto super encorpado, de vermelho rubi intenso e retrogosto inesquecível, mas nada impede que também se apaixone por um branco de cor amarelo palha (OK, na realidade o vinho branco não é branco é amarelo), frutado, aromático, refrescante e alguns deles de sabor intenso. Afinal o mundo do vinho não se divide entre brancos e tintos, mas sim entre vinho bom e vinho ruim.

Marcelo Copello em seu artigo na revista Adega sobre “Dez motivos para gostar de vinhos brancos” menciona que:
a)  Cientistas do departamento de anatomia humana da universidade de Milão comprovaram que substâncias contidas nos brancos reduzem a tendência a doenças como artrite reumática e osteoporose;
b) Na hora de harmonizar vinhos e pratos, os brancos são bem mais versáteis e combinam com uma gama muito maior de pratos;
c)    Ao preparar um “queijos e vinhos”, os brancos também são mais versáteis, pois combinam com uma gama muito maior de queijos;

O vinho branco deve ser servido mais resfriado para moderar a sua acidez, que é naturalmente mais alta, porém ele não deve ser servido gelado o que inibiria totalmente os seus aromas. A melhor forma de resfriar este vinho é colocá-lo em um balde com pedras de gelo, água gelada e sal grosso, que acelera o resfriamento, em média em 30 minutos ele já atingiu a sua temperatura ideal de consumo.

Aproveite o seu vinho branco seco com um bisque de camarão, caranguejos e siris, lulas, haddock defumado, namorado ao forno; o branco encorpado seco com atum grelhado, bacalhoada ou polvo, galeto grelhado, peru assado; o branco meio seco com badejo cozido, peixe ao molho branco, salsicha fria,comida tailandesa, costela ou lombo de porco, pasta de fígado.


sábado, 7 de julho de 2012

O VINHO E A ESTIAGEM NO SUL DO BRASIL



No dia 20 de junho deste ano, o Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN) anunciou que o Rio Grande do Sul processou a 2ª maior safra de uva da história. O volume de uvas processadas pelas vinícolas do Estado, sem contar as uvas para consumo in natura, as vendidas para fora do estado e as processadas artesanalmente chegou a 696,1 milhões de quilos de uvas, devendo gerar 436,4 milhões de litros de vinho e derivados.

A safra deste ano só foi superada pela safra recorde de 2011 que fechou com a colheita e o processamento de 709,6 milhões de quilos de uva. Apenas as uvas viníferas geraram um total de 75,7 milhões de quilos este ano, um pouco menor do que o recorde da safra de 2008 que foi de 83,8 milhões de quilos. O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 90% da elaboração brasileira de vinhos e 55% da produção de uvas.



Este ano o Sul do Brasil enfrentou forte estiagem  se estendeu por sete meses e causou enormes prejuízos no setor agropecuário, em torno de 2 bilhões de reais,  principalmente no Rio Grande do Sul, o estado mais afetado.


Mas, ao contrário da maioria dos produtos agrícolas que necessita de condições amenas para produzirem boas safras, a uva adora sofrer, as vinhas produzem as melhores uvas quando elas têm que dar um duro danado para produzi-las. Assim, se houver água em excesso suas raízes não são encorajadas a se aprofundarem em busca dos nutrientes, além do que a umidade excessiva faz com que elas apodreçam. As raízes da parreira podem atingir até 15 metros de profundidade, absorvendo a água e as substâncias minerais de que necessita para seu desenvolvimento.

A forte estiagem gerou uma safra de uva de alta qualidade, tal como à emblemática safra de 2005, que produziu 611.868 toneladas de uva e, vinhos de excelente qualidade que ainda estão sendo saboreados por todos nós.

A presença do fenômeno La Niña provocou um clima mais seco, com menos incidência de chuvas e a forte estiagem na região Sul do Brasil. O mesmo ocorreu em 2005.

 As chuvas são uma grande preocupação para os viticultores, principalmente no período de frutificação, que no hemisfério Sul ocorre nos meses de dezembro e janeiro, quando o sol e as altas temperaturas são extremamente desejáveis. Chuvas neste período podem causar o apodrecimento das uvas.

Em geral as videiras necessitam em torno de 650 mm de chuva por ano, mas o ideal é que boa parte delas ocorram no inverno e na primavera, quando a vinha está tentando criar os brotos e cachos. Como as uvas gostam de um período longo de amadurecimento o desejável é uma quantidade mínima de chuva no verão e no outono.

As chuvas durante o verão, em clima quente, eleva também o risco de doenças relacionadas ao mofo e ao bolor e, elas também impedem que as uvas atinjam a quantidade ideal de açúcar para produzir vinhos de excelente qualidade.

No verão deste ano quando ocorreu à colheita da uva, 56% (157.779,20km2) do território do Rio Grande do Sul estavam afetados pela estiagem. Em 2005 nesta mesma estação 40,34% (113.671km2) do estado estava sob o efeito da estiagem.

O principal efeito da forte estiagem deste ano é um Grau Babo médio de 16,3 para as uvas viníferas. Em 2005 este Grau foi de 17,2.  O Grau Babo representa a quantidade de açúcar, em peso, existente em 100g de mosto. Quanto maior, maior a maturação da fruta. Uvas mais maduras podem dar vinhos mais coloridos, equilibrados, encorpados e saborosos. Uvas menos maduras, teremos mais acidez e vinhos menos equilibrados.

Agora é só esperar para degustar pelos excelentes vinhos que seguramente esta safra irá nos proporcionar.


domingo, 1 de julho de 2012

PINOT GRIS



No mês passado um amigo meu em viagem a Paris mandou-me esta mensagem “Estou deslumbrado. Não sei que espírito me iluminou, e pedi um Pinot Gris para almoçar. Tomei um susto quando veio um vinho branco à mesa, mas a tonalidade profundamente dourada me seduziu. A segunda surpresa foi senti-lo levemente adocicado, mas o aroma era tão complexo e o sabor tão cheio de nuances que não foi uma mas sim duas garrafas as que meu colega e eu consumimos. Foi uma experiência reveladora. Você já degustou vinhos dessa uva? Estou levando uma garrafa para Maceió, e me recomendaram degustá-la com sabores fortes: patês e queijos intensos.”

Meu amigo descreveu muito bem a agradável sensação de tomar um vinho produzido a partir desta uva e também a sua surpresa de constatar que este é um vinho branco. Muitos associam esta uva a Pinot Noir e assim esperam por um vinho tinto. A garrafa que ele trouxe para o Brasil, que eu saiba já devidamente degustada, é um Pinot Gris da Cave Beblenheim, da Alsácia, região situada no nordeste da França.

A uva Pinot Gris, uma casta de uva branca, é uma das diversas variedades da uva Pinot, que possui as seguintes variedades-Pinot Blanc, Pinot Noir, Pinot Meunier  e Pinot Gris. É originária da Bourgogne onde é hoje pouco cultivada. Atualmente é mais cultivada na Alsácia, sendo uma das quatro grandes uvas nobres ao lado da Riesling, Gewürztraimer e da Muscat.

A Pinot Gris recebe diferentes nomes em função dos países, na França é Pinot Gris, na Itália-Pinot Grigio, na Alemanha-Grauer Burgunder ou Ruländer, na Ucrânia-Pinot Cinzenta ou Pinot Gri, no Brasil é Pinot Grigio.

É muito cultivada na Áustria e em alguns países do leste europeu, tais como Eslovênia, Hungria, Romênia, Rússia. No novo mundo ela é cultivada principalmente nos Estados Unidos (Oregon e na California), na Nova Zelândia e Austrália.  No Chile é cultivada na região de Casablanca e na Argentina em Lujan de Cuyo. É uma das cepas em ascensão no mercado mundial nos últimos cinco anos, principalmente nos Estados Unidos, sendo impulsionada pelo mercado de vinhos varietais produzidos no Novo Mundo.

Normalmente essa uva tem tonalidade azul-acinzentada tendo assim, relação direta com seu nome, pois “gris” significa cinza, em francês. As uvas da Pinot Grigio podem também ter um tom de rosa-amarronzado ou até mesmo branco.

Seus aromas e sabores dependem muito do clima onde é cultivada. Os Pinots Gris da Alsácia, onde a primavera é seca e os verões com noites não muito quentes, produzem um vinho muito aromáico, menos ácido, bem mais encorpado e aveludado. Apresenta cor amarelo-dourado, lembra frutas cristalizadas, damascos e passas. Pode ser guardado por cinco a oito anos.

O Pinot Gris combina com peixe tal como o badejo, carne branca, também vai muito bem com fígado de  ganso,  brioche torrado, pratos da cozinha alemã e da cozinha oriental.  Como sugestão o Clos Rebberg Pinot Gris da Alsácia, fabricado por Marc Kreydenweiss ou os produzidos pelo Domaine Zind-Humbrecht.

O Pinot Gris da Nova Zelândia é um vinho bastante frutado, pedregoso, dourado e intensamente aromático. Lembra aromas de mel, maçã, limão, pêra e pêssego. Apesar de ter a mesma textura viscosa do Pinot Gris da Alsácia seu sabor é mais fresco. É um ótimo vinho para ser consumido no verão e acompanha bem pratos como o fettuccine com molho de tomate e sushi.



         Na Itália a  Pinot Grigio é cultivada principalmente na região de Trentino, Vêneto e Friuli.  É um vinho amarelo-limão claro, mais seco, ácido, mais refrescante, com pouco aroma, bastante diferente dos alsacianos. É um vinho para ser bebido até dois anos após a data da sua safra, deve ser servido frio e vai muito bem com peixes, frutos do mar, massas leves e algumas combinações de queijos e bolachas.  Uma sugestão o Corte Giara IGT 375ml Pinot Grigio 2010, 100% Pinot Grigio, da Allegrini, da região do Vêneto, que custa em torno de R$50,00. Esta é a vinícola mais premiada desta região. De cor amarelo palha brilhante, aroma fresco, floral, com toques de flores de acácia, deve ser servido a temperatura de 9 °, quatro anos de guarda.

No Brasil a Miolo cultiva esta uva na Campanha Gaúcha, fronteira com o Uruguai, dando origem ao Fortaleza do Seival Pinot Grigio. Este  vinho tem leve intensidade de cor, com tonalidades esverdeadas, aroma frutado, lembrando frutas brancas de caroço, Na boca apresenta uma estrutura equilibrada com retrogosto agradável, graduação alcoólica de 13%  e deve ser degustado a uma temperatura de 8º C. Harmoniza muito bem  Spaghetti a la carbonara e queijos como o Edam ou Gruyère, por ser um vinho leve vai muito bem também com  pratos que contenham legumes, peixes, frutos do mar, salada de folhas verdes e bolinhos de bacalhau, custa em torno de R$30,00.


GEOGRAFIA DO VINHO – OS VINHOS DAS REGIÕES DOS BALCÃS E EUROPA DO LESTE - PARTE 2

No dia 04/12/2024 publiquei o artigo “Geografia do vinho – Os vinhos das região do Mar Negro - Parte 1”, onde apresentei dois vinhos da Geo...