Quando escrevi o artigo sobre o Pinot Gris enviei o
endereço do meu blog para um amigo fã de vinhos, e ele me enviou uma mensagem
dizendo o seguinte: “Ainda não tomei
nenhuma garrafa de pinot gris. Mas já houve ocasiões em que degustei vinho
branco e foi a melhor bebida para o momento. Há tempo para tudo, mas o vinho
tinto me conquistou e mesmo no verão, eu me pego degustando um tinto.” Ao
que eu respondi a ele “vinho bom é vinho
bom, não interessa se é tinto ou branco”.
Já ouvi também com muita frequência a seguinte frase
“vinho bom é vinho tinto” ou “vinho branco é um vinho para se tomar
sozinho” ou ainda as pessoas consideram o vinho branco quase como um
aperitivo, sendo consumido antes do jantar, em coquetéis ou festas onde as
pessoas ficam em pé e vão embora logo.
Até entendo estas manifestações uma vez que, culturalmente,
quando se fala em vinhos ou ele é representado em figuras, fotografias e filmes,
tais como naquelas cenas românticas em que o galã serve uma taça de vinho para
conquistar a mocinha, sempre, sem exceção, o vinho é tinto.
Ninguém sabe realmente quando o vinho surgiu o mais provável é que alguém esqueceu algumas uvas em um recipiente qualquer e que elas acabaram fermentando, um dia alguém com sede bebeu aquele liquido, que deveria estar mais para suco de uvas do que para vinho, surgindo assim esta maravilhosa bebida.
Pesquisadores
descobriram no Egito e na Síria, vestígios da espécie Vitis Vinífera, datadas de 4.000 a.C. O Antigo Testamento menciona
que Moisés ao atracar a Arca no Monte Ararat, saiu e cultivou um vinhedo e de
seu fruto embriagou-se, e todos creem que era de vinho tinto. Mas isto não está
mencionado no Antigo Testamento.
Em 1532 foram introduzidas as primeiras videiras no
Brasil, por Martim Afonso de Sousa, e por serem oriundas de Portugal e da
Espanha, todos acreditam que produziam vinhos tintos, mas se vocês lerem
artigos e textos sobre isto, não há menção da cor do vinho.
Assim, culturalmente damos mais valor ao vinho tinto
que ao vinho branco. Se vocês entrarem na Wikipédia tudo que irão encontrar
sobre vinho branco é o seguinte “O vinho branco é um vinho de coloração
dourada e aroma frutado. Conhecido no Egito Antigo, foi recriado em Portugal.” com um hiperlink na palavra vinho que nos remete imediatamente a uma
página que trata longamente sobre esta bebida, mas claro, basicamente
sobre vinho tinto. Se este vinho já era conhecido no Egito (4.000 a.C.), ele surgiu na mesma época em que o vinho tinto.
Mas vamos ao vinho branco, é um equívoco desprezá-lo
ou considerá-lo um vinho menos espetacular. Vivemos em um país, que em sua
maioria é de clima tropical, e, mesmo nos estados do Sul do Brasil, de clima
subtropical a temperado, o verão caracteriza-se por temperaturas bastante
altas, não raro atingindo os quarenta graus. Portanto, na
maior parte do território nacional e na maior parte do ano, nosso clima pede vinhos
mais refrescantes, mais leves ao paladar e a digestão e que sejam servidos a temperaturas
mais baixas que os vinhos tintos.
Aliado a isto temos 8.000km de costa o que nos
proporciona uma profusão de peixes e frutos do mar. Nosso país é rico em frutas
e em saladas coloridas e saborosas que fazem parte e enriquecem a culinária
brasileira e harmonizam divinamente com os vinhos brancos.
Ao pesquisar sobre vinhos brancos na literatura
encontrei uma tabela de uvas que produzem vinhos tintos e brancos, no livro
Vinho para Leigos de autoria de Ed McCarthy e Mary Ewing–Lulligan, da Editora
Alta Books, Rio de Janeiro, 2008. Nela a quantidade de uvas que produzem
apenas vinhos tintos (12) ou só brancos (13) é a praticamente a mesma, com uma
leve vantagem dos brancos.
Atualmente temos uma oferta e uma diversidade
bastante grande de vinhos brancos importados e nacionais de boa qualidade e a preços
razoáveis. É bem verdade que muitos ainda associam o vinho branco ao terrível e
extremamente adocicado vinho alemão Liebfraumilch, aquele da garrafinha azul,
cujo consumo estrondoso no país foi inversamente proporcional a sua qualidade.
Mas isto foi lá nos ano 80, e por incrível que pareça este vinho levou muitos
consumidores bissextos a se tornarem verdadeiros amantes do vinho.
Tudo bem que você goste de um vinho tinto super encorpado,
de vermelho rubi intenso e retrogosto inesquecível, mas nada impede que também
se apaixone por um branco de cor amarelo palha (OK, na realidade o vinho branco
não é branco é amarelo), frutado, aromático, refrescante e alguns deles de
sabor intenso. Afinal o mundo do vinho não se divide entre brancos e tintos,
mas sim entre vinho bom e vinho ruim.
Marcelo
Copello em seu artigo na revista Adega sobre
“Dez motivos para
gostar de vinhos brancos” menciona que:
a)
Cientistas do departamento de anatomia humana da universidade de
Milão comprovaram que substâncias contidas nos brancos reduzem a tendência a
doenças como artrite reumática e osteoporose;
b)
Na hora de harmonizar vinhos e pratos, os brancos são bem mais
versáteis e combinam com uma gama muito maior de pratos;
c)
Ao preparar um “queijos e
vinhos”, os brancos também são mais versáteis, pois combinam com uma gama
muito maior de queijos;
O vinho branco deve ser servido mais resfriado para
moderar a sua acidez, que é naturalmente mais alta, porém ele não deve ser
servido gelado o que inibiria totalmente os seus aromas. A melhor forma de
resfriar este vinho é colocá-lo em um balde com pedras de gelo, água gelada e
sal grosso, que acelera o resfriamento, em média em 30 minutos ele já atingiu a
sua temperatura ideal de consumo.
Aproveite o seu vinho branco seco com um bisque de
camarão, caranguejos e siris, lulas,
haddock defumado, namorado ao forno; o branco encorpado seco com atum
grelhado, bacalhoada ou polvo, galeto grelhado, peru assado; o branco meio seco
com badejo cozido, peixe ao molho branco, salsicha fria,comida tailandesa, costela
ou lombo de porco, pasta de fígado.