sábado, 7 de julho de 2012

O VINHO E A ESTIAGEM NO SUL DO BRASIL



No dia 20 de junho deste ano, o Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN) anunciou que o Rio Grande do Sul processou a 2ª maior safra de uva da história. O volume de uvas processadas pelas vinícolas do Estado, sem contar as uvas para consumo in natura, as vendidas para fora do estado e as processadas artesanalmente chegou a 696,1 milhões de quilos de uvas, devendo gerar 436,4 milhões de litros de vinho e derivados.

A safra deste ano só foi superada pela safra recorde de 2011 que fechou com a colheita e o processamento de 709,6 milhões de quilos de uva. Apenas as uvas viníferas geraram um total de 75,7 milhões de quilos este ano, um pouco menor do que o recorde da safra de 2008 que foi de 83,8 milhões de quilos. O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 90% da elaboração brasileira de vinhos e 55% da produção de uvas.



Este ano o Sul do Brasil enfrentou forte estiagem  se estendeu por sete meses e causou enormes prejuízos no setor agropecuário, em torno de 2 bilhões de reais,  principalmente no Rio Grande do Sul, o estado mais afetado.


Mas, ao contrário da maioria dos produtos agrícolas que necessita de condições amenas para produzirem boas safras, a uva adora sofrer, as vinhas produzem as melhores uvas quando elas têm que dar um duro danado para produzi-las. Assim, se houver água em excesso suas raízes não são encorajadas a se aprofundarem em busca dos nutrientes, além do que a umidade excessiva faz com que elas apodreçam. As raízes da parreira podem atingir até 15 metros de profundidade, absorvendo a água e as substâncias minerais de que necessita para seu desenvolvimento.

A forte estiagem gerou uma safra de uva de alta qualidade, tal como à emblemática safra de 2005, que produziu 611.868 toneladas de uva e, vinhos de excelente qualidade que ainda estão sendo saboreados por todos nós.

A presença do fenômeno La Niña provocou um clima mais seco, com menos incidência de chuvas e a forte estiagem na região Sul do Brasil. O mesmo ocorreu em 2005.

 As chuvas são uma grande preocupação para os viticultores, principalmente no período de frutificação, que no hemisfério Sul ocorre nos meses de dezembro e janeiro, quando o sol e as altas temperaturas são extremamente desejáveis. Chuvas neste período podem causar o apodrecimento das uvas.

Em geral as videiras necessitam em torno de 650 mm de chuva por ano, mas o ideal é que boa parte delas ocorram no inverno e na primavera, quando a vinha está tentando criar os brotos e cachos. Como as uvas gostam de um período longo de amadurecimento o desejável é uma quantidade mínima de chuva no verão e no outono.

As chuvas durante o verão, em clima quente, eleva também o risco de doenças relacionadas ao mofo e ao bolor e, elas também impedem que as uvas atinjam a quantidade ideal de açúcar para produzir vinhos de excelente qualidade.

No verão deste ano quando ocorreu à colheita da uva, 56% (157.779,20km2) do território do Rio Grande do Sul estavam afetados pela estiagem. Em 2005 nesta mesma estação 40,34% (113.671km2) do estado estava sob o efeito da estiagem.

O principal efeito da forte estiagem deste ano é um Grau Babo médio de 16,3 para as uvas viníferas. Em 2005 este Grau foi de 17,2.  O Grau Babo representa a quantidade de açúcar, em peso, existente em 100g de mosto. Quanto maior, maior a maturação da fruta. Uvas mais maduras podem dar vinhos mais coloridos, equilibrados, encorpados e saborosos. Uvas menos maduras, teremos mais acidez e vinhos menos equilibrados.

Agora é só esperar para degustar pelos excelentes vinhos que seguramente esta safra irá nos proporcionar.


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