No dia 20 de março de 2014, as
13:57 horas chegou o outono no
hemisfério Sul. Este dia é marcado pelo equinócio de outono, evento astronômico que marca o período em que o sol incide de maneira
igual nos dois hemisférios do planeta e tanto o dia como a noite têm duração
igual. Isto deverá acontecer novamente por ocasião do inicio da Primavera,
quando teremos o Equinócio de Primavera.
Esta estação é marcada também pelo amarelar ou
avermelhar das folhas das árvores e por sua queda nos meses que antecedem o inverno. É uma época de transição entre
os extremos de temperatura verão-inverno. É um período de preparação para a
próxima estação, que chega em três meses.
O outono, tal como o inverno, é a época do ano em que deixamos as praias
e as reuniões ao ar livre para buscarmos um lugar mais aconchegante para nos
reunirmos com nossos amigos, e claro que para isto não poderia faltar um bom
vinho.
É hora de começarmos a abandonar
um pouco os vinhos brancos, eu disse um pouco e não definitivamente, uma vez
que os brancos encorpados com mais estrutura combinam muito
bem com a estação, e tratarmos de buscar os tintos de médio corpo e que
combinam com a temperatura mais amena desta
época do ano, se bem que há dias de outono que são tão quentes que mais parece
que estamos em pleno verão.
Os vinhos tintos de médio corpo são vinho secos que se apresentam
macios, com teor alcoólico médio e um razoável conteúdo tânico, que tornam
clara sua diferença com os vinhos leves. Em geral eles têm longevidade média, com
seu ápice de qualidade em 2 ou 3 anos da
safra, sendo que os mais elaborados e caros podem se manter vivos por até 5 ou
8 anos.
Os vinhos Merlots do Chile,
África do Sul, Califórnia e Rio Grande do Sul e os emblemáticos Malbecs argentinos,
enquadram-se nesta categoria de vinhos de médio corpo. Aliás, a uva Merlot não
é cultivada apenas nestes países, ela está presente na maioria das
regiões vinícolas do mundo, como Austrália, África do Sul, França, Uruguai,
Chile (onde, durante muito tempo foi confundida com a casta Carménère) e na
Itália (na região da Toscana, onde entra em muitos cortes dos Super Toscanos,
Friulli e Sicilia).
Tradicionalmente esta uva produz vinhos macios, fáceis de beber, com taninos sedosos e redondos para
serem bebidos, entre três a cinco anos. Harmoniza bem com pratos mais delicados
como frango, peru, vitela, pato, carnes grelhadas, e combina muito bem com
pratos elaborados com cogumelos. Vai bem também com, carne assada com molho marsala/madeira
ou strogonoff de carne ou pratos com massa.
Creio que todos se lembram do famoso filme sobre vinhos, Sideway, onde o
personagem principal além de frustrado e levemente neurótico odiava vinhos
Merlot, ele passou o filme inteiro achacando este tipo de vinho e endeusando o
Pinot Noir, a ponto de ter consequências negativas para os vinhos Merlot no
mercado norte americano. E, além disso, no final do filme ele acaba desfrutando
um vinho de excelente qualidade, que guardava a sete chaves, em um reles
copinho de plástico de uma lanchonete qualquer. Pois bem, talvez por ser tão
neurótico e frustrado, ele não soubesse
que o famoso e emblemático vinho Petrus, é elaborado em Saint Émillion com 95% de
uva Merlot. Pensando bem, talvez por não
saber disto é que ele ficou neurótico e frustrado.
Alguns tintos, apesar de maravilhosos não cabem no nosso orçamento, mas
isto não é motivo para grandes tristezas, pois atualmente com a enorme
variedade de vinhos que há, podem-se encontrar alguns que não fazem feio e ainda
cabem no nosso bolso.
Mas se neste mês o seu orçamento não estiver muito apertado, é a ocasião
adequada para arriscar no preço e dividir um excelente vinho, com seus amigos. O Petrus é uma ótima sugestão, um vinho de
terroir, produzido na região vinícola de Pomerol, próximo a Bordeaux, França, que devido ao cuidado com que é elaborado, resiste há vários anos de guarda. O da safra
de 1994 tem uma estimativa de guarda até 2035 e custa a bagatela de algo em
torno de R$ 12.000,00. Explica-se este preço exorbitante, são produzidas apenas
32.000 garrafas por safra, numa vinha com
apenas 11,44 hectares de tamanho. Por este preço ele tem obrigação de
ser maravilhoso, e é, sem dúvida
nenhuma, além do que seus amigos vão adorar o convite para degustar pelo menos
uma taça.
Agora
se vocês são um simples mortal como eu, podem desfrutar de um belo jantar no frio de
Gramado, na serra Gaúcha, como eu fiz há três semanas quando iniciou a nova
estação. Deliciei-me com um bom file ao molho madeira e cogumelos, com arroz
branco e batatas souté, e claro que não poderia faltar um bom vinho. Na ocasião
eu tomei um Casa Silva Reserva Carmeneré, de cor vermelho-rubi
intenso, com tons violáceos. Seus aromas lembram frutos vermelhos (amora,
cereja) com notas a tostado e especiarias outorgados por carvalho. Na boca ele
apresentou excelente concentração, intenso e maduro, com taninos macios. Seu preço estava em torno de
R$ 56,00. Tudo bem não tem a classe de um Petrus, mas também não fez feio.
Mas
uma sugestão para também acompanhar este prato seria o vinho Los Nevados
Malbec, Argentino, proveniente
do Vale de Uco na Argentina elaborado com uva Malbec, de um vinhedo a 1.100 metros. De cor vermelho
muito intenso com reflexos violáceos, no nariz apresenta frutas vermelhas frescas, notas
de iogurte de morango, em sintonia com as notas de madeira de carvalho. Vinho elegante,
de taninos macios, retrogosto frutado com algo de carvalho defumado. Sensação
de muito equilíbrio e de boa concentração. Seu preço está em torno de R$50,00.
Outra sugestão é o Dal Pizzol Merlot, elaborado
pela vinícola Dal Pizzol, localizada no distrito de Faria Lemos, Bento
Gonçalves, na Serra Gaúcha. De cor
intensa, potente, vermelho rubi, com tons violáceos. Aroma pronunciado, sabor
persistente, com bom volume em boca, encorpado, harmônico com taninos aveludados. Grande
persistência aromática, lembrando flores, especiarias e frutas vermelhas. Pode
ser consumido jovem, porém, ganha com o envelhecimento, tornando-se cada vez
mais macio. Recomenda-se consumi-lo entre 15 a 20
°C. Seu preço está em torno de R$ 45,00.
E uma última sugestão é o Marques de Casa Concha Merlot 2011, elaborado pela Vinha Concha e Toro,
localizada no vale do Rapel, Chile. É um
vinho de cor rubi intenso,
volumoso e com notas de especiarias e baunilha, lembra frutas negras, ameixa,
groselha e cereja negra. É um vinho intenso, volumoso, com taninos maduros e
final agradável, demonstrando toda sua personalidade e elegância. Tem uma
estimativa de guarda de seis anos. Seu
preço está me torno de R$90,00.
Tal como as árvores se renovam,
o outono é a estação
da coragem, da transformação, da mudança,
a vida se renovando, e para isto nada melhor do que a companhia de um bom vinho.
Bom outono para todos vocês!