Recentemente,
durante a Copa do Mundo, a Croácia, um país do leste europeu cuja capital é
Zagreb, com uma área de apenas 56.542 km2 (comparável à do estado da
Paraíba – 56.585 km2) e uma população estimada de 4,2 milhões de
habitantes, chamou a atenção do mundo por sua garra no football - uma vez que
não faz parte dos países com longa tradição neste esporte - e por sua presidente Kolinda Grabar-Kitarovic
que além de simpática, deu apoio incondicional a sua seleção e, como boa cidadã,
pagou todas as suas despesas do próprio bolso, durante sua estadia para
assistir a este evento.
A Croácia é banhada a Oeste pelo mar Adriático e possui fronteira marítima com a Itália, no golfo de Trieste. Ao Norte faz limite com a Eslovênia e a Hungria, a Leste com a Bósnia e Herzegovina e ao Sul com Montenegro.
Após a Segunda Guerra Mundial a Croácia fez parte da Iugoslávia,
um conjunto de seis repúblicas regionais - Bósnias e Herzegovina, Croácia,
Eslovênia, Macedônia, Montenegro, Sérvia - e duas províncias autônomas – Kosovo
e Vojvodina - que estavam divididas segundo suas etnias e eram mantidas unidas
com mão de ferro pelo general Josip Broz Tito. Após a sua morte em 1980, aliado a crise econômica
decorrente do desmoronamento dos regimes comunistas do Leste Europeu, ocorreu o
gradativo esfacelamento da união das repúblicas iugoslavas, até que em junho de
1991 a Croácia anunciou a sua separação da Iugoslávia e conseguiu a sua
independência.
Porém, logo em seguida, seu território foi
invadido pelo Exército Federal, então sob domínio sérvio, que interveio em
favor das minorias sérvias residentes na Croácia (cerca de 10% da população), o
que levou a violentos conflitos entre croatas e sérvios e que durou até 1995, quando
a Croácia recuperou os seus territórios dando fim ao conflito. Entre as
sequelas da guerra, além da destruição da sua infraestrutura e economia, estavam
as minas terrestres espalhadas pelo seu território, que foram removidas graças
a iniciativas como a da Organização “Roots of Peace”, que atuou na remoção de
minas permitindo o replantio dos vinhedos.
A partir daí o país passou a experimentar um vigoroso crescimento econômico, um processo de modernização da sua infraestrutura e uma grnade trasnformação no sistema jurídico que consolidou a sua democracia e o ingresso na União Europeia e na OTAN.
Como os países do leste europeu eram muito fechados, poucas
informações sobre eles chegavam até nós, e por esta razão, muitas vezes alguns
jornalistas, durante as transmissões da Copa, diziam que a Croácia era um país
novo. Na realidade, a Croácia foi fundada em 925 quando o duque Tomislav foi coroado Rei dos Croatas, criando-se
assim o reino da Croácia.
E mais, o país apresenta uma forte vocação para o vinho desde os tempos antigos. A vitivinicultura na croácia tem uma longa história que data desde os tempos dos antigos colonizadores gregos ou fenícios, algo ao redor de 2.500 anos, que chegaram ao país pela costa do Adriático, na região da Dalmácia nas ilahas de Vis, Hvar e Korcula, que trouxeram as primeiras videiras. Atualmente os vinhedos ocupam 54.000 hectares.
Durante o Império Romano a produção de vinho na Croácia cresceu
e se tornou mais organizada e o vinho passou a ser exportado para outras partes
do Império. Ainda hoje é possível encontrar
artefatos desta época como ânforas, principalmente em navios naufragados
durante este período. Quando os croatas começaram a colonizar a
região, no século I eles aprenderam com seus antecessores o processo de fabricação
de vinhos e a produção continuou a crescer.
No final do século XIX e início do século XX o país tinha um papel
importante no cenário vinícola europeu, mas sua indústria foi severamente
atingida pela guerra civil contra os sérvios, da qual ainda se pode ver algumas
sequelas.
Durante o período comunista, quando a Croácia ainda
fazia parte da Iugoslávia, a propriedade privada de vinhedos era desencorajada
e a produção era centrada nas grandes cooperativas, onde o foco era a grande
quantidade ao invés da qualidade. No período da guerra muitos vinhedos foram
destruídos, porém com a independência e a remoção das minas, a produção de
vinhos voltou para as mãos dos pequenos produtores, tornando-se assim,
novamente competitiva com os melhores vinhos do mercado mundial.
O território croata, por sua conformação
geomorfológica, se presta perfeitamente ao plantio e cultivo da videira, sendo plantada
tanto no seu interior montanhoso como no litoral.
As numerosas variedades de videiras, das quais se obtêm mais
de 900 vinhos, distribuem-se igualmente por estas duas regiões. Os diferentes
tipos de vinhos produzidos na Croácia abrangem uma vasta gama indo desde
frescos e frutados a persistentes e encorpados.
Atualmente,
existem cerca de 130 castas nativas, mais de 300 áreas
vinícolas definidas e um sistema de classificação rígido que assegura a origem
e a qualidade dos vinhos locais, sendo a grande maioria vinhos brancos (67%)
que são produzidos no interior do país, já os vinhos tintos, que representam
32%, são majoritariamente produzidos no litoral.
Há duas importantes regiões vinícolas na Croácia, que são
bastante distintas entre si e que estão separadas pela cordilheira dos Alpes
Dináricos que está paralela a costa. Uma
delas é a Primorska Hrvatska ou Coastal Croatia, na costa croata e a
outra, a Kontinentalna Hrvatska ou Inland Croatia, mais no interior do país.
A Primorska Hrvatska, de clima mediterrâneo,
significativamente mais quente devido à proximidade do mar Adriático, inclui a
sub-região da Istria e Kvaner e toda a costa adriática até a Dalmácia e as inúmeras
ilhas (mais de mil) localizadas no mar Adriático, tendo mais de 6.176 km de
comprimento.
As
variedades de videiras nesta região variam muito, sendo onde predomina a
produção de vinhos tintos. Aqui as castas locais foram cultivadas ao longo da costa, enquanto que as castas
internacionais foram introduzidas há cerca de 25 anos.
Na Istria,
localizada ao norte, as cepas mais utilizadas para a produção de vinhos são a
Cabernet Sauvignon, a Merlot, a Malvasia Nera e a Teran, autóctone croata, conhecida
como Refosco na vizinha Itália, é cultivada há séculos na região e ainda
continua a ser a variedade mais comum de uva tinta. O vinho feito com uvas Teran, tem cor
vermelho-rubi, quase roxo, de aroma frutado típico, com notas florais de frutas
vermelhas e pimenta, acidez excepcionalmente alta, taninos altos e teor alcoólico
em torno de 12% a 13% e a temperatura de serviço é de 20°C. Geralmente
apreciado muito jovem, harmoniza com carne vermelha, presunto, queijos fortes e
pratos de caça.
Apesar da
uva Teran ser reconhecida como uma variedade de uva nativa da Ístria, desde
2013 os produtores de vinho croatas não estão autorizados a denominar os seus
vinhos de teran. Isto se deve as ações de proteção eslovena, no território
europeu, de um vinho que é feito a partir de uma variedade completamente
diferente (Refošk) que erroneamente é chamada de Teran.
Já na região da Dalmácia a principal cepa é a tinta
nativa Plavac Mali, um cruzamento da Crljenak Kaštelanski
(parente da Zinfandel) e da Dobričić. O
nome refere-se às pequenas uvas azuis que as videiras produzem: em croata, o
plavo significa azul e mali significa pequeno.
É
cultivada principalmente na península de Peljesac, onde as vinhas se beneficiam
dos solos arenosos, localizados em terraços cultivados com face sul, evitando
assim os efeitos não desejados do sol do mediterrâneo. É conhecida por produzir
vinhos ricos, estruturados, tânicos, robustos e encorpados, com elevados níveis
de álcool, tipicamente 12%, mas até 17%. Com excelente capacidade de
envelhecimento, seus aromas comuns incluem cerejas negra, notas de pimenta e
especiarias. Os vinhos croatas desta uva incluem os tintos de Dingač e Postup
na península de Pelješac, ilha de Hvar, ilha de Brač e o Opole rosé (um estilo
de vinificação).
Esta uva
tem sua importância na Croácia, uma vez que foi a primeira a ter as suas
indicações geográficas – Dingač
e Postup – ambas localizadas na península de Pelješac, no centro-sul da
Dalmácia.
Nesta península a vinícola
Edivo Vina armazena seus em espaços subaquáticos, no Mar Adriático, onde o
ambiente marinho trata de personalizar as garrafas com conchas. O vinho passa
pelo processo tradicional de vinificação nas primeiras etapas, e após três
meses de envelhecimento, é colocado em ânforas de barro que são depositadas no
fundo do mar em gaiolas, onde permanecem por 720 dias. Estes locais que podem ser visitados pelos
turistas em mergulhos acompanhados por guias. Veja o vídeo.
A região Kontinentalna Hrvatska ou Inland Croatia, de clima continental,
com verões quentes e áridos e invernos frios, está localizada no interior do
país se estendendo desde o Noroeste até o Sudeste croata, ao longo dos rios Drava e Sava. As principais sub-regiões são:
Zagorge-Medimurje, Prigorje-Bilogora, Plesivica, Moslavina,Pokuplje, Slavonija
e Podunalvje, sendo a Slavonia a área mais conhecida.
A uva Graševina não é uma variedade indígena na Croácia, no entanto, é a
variedade de uva mais abundante no país, sendo cultivada em toda a parte
continental. É uma variedade clássica da Europa Central, mais conhecida pelo
nome alemão Welschriesling, também chamada de Olascsrizling na Hungria e Laški
Rizling na Eslovênia. É uma uva que se ajusta a muitas condições diferentes e
mantém a qualidade e o rendimento, embora os vinhos feitos a partir dela possam
diferir significativamente.A maioria dos vinhos elaborados com a uva Graševina são secos, leves,
refrescantes e levemente aromáticos, com álcoois e acidez moderados.
São
cultivadas também na região a Gewürztraminer, variedades de Pinots, a Chardonnay, a Riesling, a Sauvignon
Blanc, a Furmint (denominada Moslavac na Croácia), a Blaufränkisch (denominada
Frankovka), a Portugieser (Portugizac) e um pouco de Müller-Thurgau (Rizvanac).
Fontes:
Se beber, não dirija!