Logo após o Natal combinei com a minha
afilhada e o marido dela, de finalmente fazermos a inauguração da minha
churrasqueira. Há pelo menos seis meses vínhamos falando nisso, mas nunca
conseguíamos marcar uma data e, além de gostar muito da companhia deles eu
precisava da larguíssima experiência do marido dela como churrasqueiro para
fazer o churrasco, uma vez que eu sou especialista, única e exclusivamente, em
desfrutar de um excelente assado, não sei nem acender o fogo.
Assim ficou combinado que eles cuidariam do
churrasco e eu cuidaria da salada e principalmente do vinho.
Eu comprei este vinho há quase
dois anos atrás quando fui passar uma semana de férias em Bento Gonçalves,
visitando as vinícolas do Vale dos Vinhedos. Confesso que havia esquecido ele
no meio de outras tantas garrafas.
Comprei porque a uva Ancellota não é muito conhecida e porque eu nunca havia
tomado um vinho produzido a partir dela, assim minha curiosidade me levou a
compra.
Na ocasião, para que eu pudesse
visitar várias vinícolas e degustar os seus vinhos sem ter problemas para
dirigir ou ser pega pelo bafômetro, contratei um guia de turismo, que era
técnico em enologia, e que me levou a várias vinícolas, começando pelas maiores
e depois visitamos outras, menores, mas igualmente interessantes.
Neste percorrido
chegamos a Reserva
da Cantina, ou Vinícola Michele Carraro, localizada na Estrada do Vinho e que
merece uma parada de quem visita a região. Antes que alguém faça alguma
confusão esta vinícola não tem relação com a de Lidio Carraro, na realidade
Michele não é mulher é Il signor
Michele Carraro (Miguele em italiano) que chegou ao Brasil em 1875 e se
instalou na Linha Leopoldina, em Bento Gonçalves, onde passou a produzir seus
próprios vinhos, arte aprendida com seu pai. Atualmente a empresa “Vinhos
Reserva da Cantina” é administrada pela quarta geração da família. Um dos
atrativos da Reserva da Cantina é o prédio, em formato de pipa (barril de
vinho), além da gentileza no atendimento a quem chega lá para provar seus
vinhos.
Os vinhos desta vinícola são
produzidos em vinhedos próprios (11,9 hectares) não tendo passagem pela
madeira, o que permite manter e valorizar as características frutadas de cada
variedade.
A Ancellota é uma casta de uva
tinta cuja produção em
maior escala é feita na Emilia-Romagna e na parte inferior do Trentino. Há indicações de
que a região da Emilia-Romagna seja o núcleo de origem da casta. Não é uma
casta muito conhecida no Brasil, na realidade ela
não é desconhecida apenas para os brasileiros, até mesmo na Itália, seu país de
origem, ela também é pouco conhecida. Ao procurar informações sobre ela nos livros que tratam sobre vinho que
tenho em minha biblioteca ou mesmo na internet, não encontrei muita informação,
para ser sincera praticamente não encontrei quase nada.
Seu nome provavelmente origina-se da família
Lancelloti, ou Lacillotto, da região de Modena, que foram os primeiros a
cultivar esta uva já no século 14. Às vezes a variedade é denominada Lacellota.
Na Itália é
utilizada como uva secundária para tornar os vinhos Lambrusco levemente doces mais especificamente no Lambrusco Salamino di
Santa Croce DOC, da provinicia de
Modena, aonde chega a compor 10% da assemblage e no Lambrusco
Reggiano DOC, da provincia de
Reggio Emilia, aonde chega a compor 15%.
Fora da Itália ela é cultivada no Sul da Suiça, no Catão Ticino e
distrito de Moesa do Catão de Grisons, onde é inlcuida na lista de variedades
para produzir o vinho tinto Ticino DOC.
Suas carcaterísticas principais são: cor
muito rica e vibrante, um rubi muito escuro com refelxos violáceos,
lindíssima, baixa acidez e graduação média de álcool,o vinho Reserva Michelle
Ancellota tem uma graduação alcoólica de 12,8. É uma cepa que apesar de ser
sensível as geadas, tem boa resistência ao vento e a seca.
O Reserva Michelle Ancellota 2005 se mostrou um vinho muito agradável,
fácild e degustar, de aroma fechado levou certo tempo para se mostrar, para
seus aromas aparecerem, bom corpo, elegante, seco e boa persistência.
É um vinho para ser servido a temperatura de 15°C. O que é marcente
neste vinho e nos vinho produzidos com a uva Ancellota é a cor rubi, escuro,
vibrante, chama atenção pela sua beleza.
Outras vinícolas do Rio
Grande do Sul também produziram bons vinhos Ancellota, tais
como o Gran Reserva Ancellotta 2007,
da Don Guerino, amadurecido 14 meses em barricas francesas, de cor rubi muito escuro com reflexos
violáceos.
O Larentis Reserva Especial Ancellotta 2005, com bons aromas, frutos
vermelhos maduros (ameixas e goiaba) e um toque de especiarias; o Don Laurindo Reserva Ancellotta
2006, da Dom Laurindo, Vale dos Vinhedos, na boca, bom corpo, acidez correta,
taninos macios e final médio-longo.
O vinho Ancellota harmoniza com feijoada, massas com
molhos vermelhos, carnes vermelhas, carnes
de caça, churrasco, eisbein, pratos
com molhos bem condimentados e queijos tipo Camembert, Brie, Provolone e Parmesão.
A
uva Ancellota me surpreendeu agradavelmente, foi um excelente complemento para
o churrasco, na realidade um entrecote grelhado, coberto com mostarda com
estragão, um tempero típico da culinária francesa que é utilizado
para realçar o sabor de certos ingrediente e alimentos.
Aqueles
enófilos curiosos, que gostam de experimentar novos vinhos, castas de uvas
diferentes, seguramente terão uma experiência interessante. Sugiro também que
experimentem a Geléia Extra de Cabernet Sauvignon, elaborada com vinhos do Vale
dos Vinhedos, produzida e embalada por Adega Casa de Madeira, simplesmente
divina.
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