Até bem pouco tempo, tradicionalmente o consumo de vinhos espumantes em todo o mundo estava atrelado a ocasiões festivas, principalmente as comemorações do Ano Novo e as festas de casamento. Nestas ocasiões o champagne era mais que a bebida preferida, era praticamente impossível celebra-las sem degustar este líquido tão desejado.
Porém, a expansão em nível internacional do
Prosecco (espumante feito na Itália), bem como do francês, do espanhol e do
restante dos vinhos espumantes de qualquer ponto do mundo, possibilitou o
aparecimento de uma nova tendência, que é o consumo deste tipo de vinho em
qualquer momento do ano e em lugares diferentes, independente das festividades
de fim de ano, casamentos ou de qualquer outra data.
Com isso, o espumante deixou de ser aquela bebida
quase inacessível e consumida única e exclusivamente, em ocasiões muito, muito,
muito especiais. Na última década se observa uma nova tendência, em todo o
mundo e cada vez mais forte, de que qualquer momento do ano, não importa onde, é
um bom momento para o consumo deste tipo de vinho.
Graças a Deus, porque eu sou uma fã incondicional de espumantes e, qualquer coisa, é um belo motivo para tomar essa bebida dos deuses.
Pode-se dizer que o consumo de espumantes se generalizou na última década e já é bastante habitual os apreciadores de vinho acudirem a vinotecas, restaurantes e bares e poder pedir uma taça de espumante. Aliás, já existem formatos de cálices que se pode fincar na areia e desfrutar de um belo espumante na beira da praia, como eu já vi mais de uma vez.
Essa bebida maravilhosa recebe diferentes nomes de acordo com o seu país de origem e o método de fabricação. Assim, tem-se:
- Asti (Itália) – elaborado com uva Moscato, por meio do método Asti — o processo de fermentação é suspenso por resfriamento assim que se chega a um determinado nível de álcool e açúcar. O mais conhecido é o tradicional Moscato D’Asti, aqui no Brasil conhecemos por Moscatel;
- Champagne – elaborado pelo método tradicional (champenoise), com as variedades Pinot Noir, Pinot Meunier (tintas) e Chardonnay (branca) e produzido exclusivamente na região de Champagne (IG) na França;
- Cremant e Mousseaux – produzidos em toda a França, com exceção da região de Champagne. Recebe o nome de Cremant quando elaborado pelo método tradicional (champenoise) e Mousseaux, quando pelo método Charmat, principalmente com as uvas, Chenin Blanc, Pinot Blanc, Ugni Blanc, Semillon e Cabernet Franc;
- Cava (Espanha) - elaborado pelo método tradicional (champenoise), é produzido a partir de várias cepas, as mais tradicionais são as uvas nativas da região onde é elaborado, como Maccabeo, Parellada e Xarel-lo;
- Prosecco (Itália) - originário do Vêneto, é elaborado com a uva Glera por meio do método Martinotti-Charmat. O Brasil produz bons exemplares de Prosecco;
- Sekt (Alemanha) - famoso pelo seu aroma agradável e forte acidez, elaborado pelo método tradicional (champenoise), especialmente com uvas Riesling, Pinot Blanc (Weissgurgunder) e Pinot Grigio (Rülander).
A denominação Sparkling Wine, literalmente “vinho espumante” é utilizado nos países de língua inglesa para este tipo de vinho, no Brasil utilizamos a palavra Espumante, e em países de língua espanhola como Argentina e Chile, eles utilizam a palavra Espumoso.
Produção:
A Organização Internacional da Vinha e do Vinho – OIV, publicou em Abril de 2020 o Relatório OIV Focus - The Global Sparkling Wine Market, que tem como objetivo fornecer uma visão geral da evolução recente do mercado global de vinhos espumantes. Nele foi analisada a produção e o consumo deste vinho em nível mundial e nacional e estudada a dinâmica do comércio internacional. Para tal foram coletados dados em 82 países durante o período de 2002-2018 (https://www.oiv.int/public/medias/7291/oiv-sparkling-focus-2020.pdf).
Uma das motivações para o estudo é que nos últimos vinte anos, o mercado de vinhos espumantes expandiu-se a um ritmo acelerado em resposta à elevada procura global. Em 2018, a produção mundial atingiu pela primeira vez os 20 milhões de hectolitros, com um aumento global de +57% desde 2002, isto é, em média, +3% ao ano (OIV, 2022).
A
produção de espumantes é distribuída por todo o mundo. No entanto, a maior
concentração de países produtores está dentro da União Europeia, com quatro
países se destacando.
Fora
da União Europeia, os Estados Unidos se destaca com 6% (1,3 mhl em 2018) do
total da produção mundial. A maior parte da produção vem do Vale do Napa, na
Califórnia, onde o volume de produção em 2018 correspondeu a 77% (1 mhl) do
total nacional.
O mapa apresenta a distribuição, por países, da produção de vinho espumante por 1.000 hl, em 2018.
Embora a produção de vinhos
espumantes permaneça concentrada nesses cinco países, novos países produtores estão surgindo no
cenário mundial nos últimos anos, entre eles o Brasil. Quatro registaram
aumentos significativos na sua produção de vinho espumante durante o período
2008-2018.
Por ordem da taxa média de crescimento anual, tem-se: Reino Unido (+33%/ano), Portugal (+18%/ano), Brasil (+7%/ano) e Austrália (+3%/ano). No Reino Unido os vinhos espumantes representam mais de 70% da produção total de vinho nacional.
Consumo:
A partir do início deste século (2000) o consumo mundial de vinhos espumantes aumentou significativamente. O gráfico que segue para o período de 2002 a 2018 apresenta este aumento de forma consistente, com uma taxa média anual de 3% com exceção dos anos de 2009-2010, quando a crise econômica global impactou negativamente nas vendas.
No consumo global de vinho em
2002, o de espumantes foi de 5 % e em
2018 eles já representavam 8% do consumo total. Um dos fatores para esse
sucesso global é a dessazonalização do consumo, isto é, já não está mais ligado
às celebrações de fim de ano, casamento, formaturas, etc., aliado a uma oferta mais diversificada de marcas e preços bem mais acessíveis que no
passado recente.
Como consequência o consumo de vinho espumante, nos dias de hoje, tende a ser mais regular. Ninguém mais espera por uma ocasião super especial para consumi-los, o que leva a uma maior proporção de consumidores, de todas as faixas etárias e poder aquisitivo, com especial atenção as mulheres e jovens.
Em 2018, 62% do consumo de
vinho espumantes era representado por cinco países, conforme apresentado na tabela.
A rápida expansão do mercado
para vinho espumante no Reino Unido, que
registrou uma média de 7% ao ano, desde 2008, coloca-o em sexto lugar em termos
de consumo desde 2018, com 1,5 mhl.
O mapa apresenta o consumo de vinho espumantes, por países, em 2018 em 1.000 hl.
A porcentagem dos seis maiores
países consumidores diminui de 76% em 2008 para 70% em 2018. Ao mesmo tempo,
parte do consumo representado por outro países, entre eles o Brasil, aumentou
1,7 milhões de hectolitros. Essa variação pode ser atribuída, em grande parte,
ao aumento do consumo nos países emergentes.
Neste estudo da OIV, no item referente ao consumo de vinho espumante nos países emergentes, foram considerados apenas os países com volumes de consumo em 2018 iguais ou superiores a 100 khl e um crescimento médio anual igual ou superior a 3%, assim tem-se: México (+13%), Suécia (+11%), Canadá (+8%), Brasil (+8%), Japão (+5%), Austrália (5%), Suíça (4%) e Argentina (3%).
Brasil:
De acordo com a Ideal Consulting, empresa de inteligência de mercado referência no segmento, o espumante caiu no gosto dos brasileiros. Quando se compara seu consumo nos anos de 2021 e 2022, o espumante nacional apresentou um crescimento de 2% nas vendas em 2022 e os importados registraram um acréscimo de 28% se comparados a 2021.
O consumo de vinho espumante no Brasil tem se tornado cada vez mais popular. Mesmo ainda sendo tradicionalmente associado a celebrações e ocasiões especiais, observa-se uma tendência de desmisitificação dessa bebida, sendo consumida cada vez mais no dia a dia pelos apreciadores e em casas noturnas (Danilo Bianculli, Jornal de Uberaba, 2022).
Os dados referentes ao consumo apontam um crescimento rápido no país. Os números passaram de 25,9 milhões de litros em 2019 para 30,6 milhões em 2022, correspondendo a uma alta de 18,1%.
Durante o período da pandemia houve uma queda devido as
restrições a eventos e celebrações, impostas pelos cuidados sanitários adotados
pelos países. Mas, com a pandemia sobre controle e o consequente término das
restrições, o consumo de vinho espumante passou a apresentar uma subida no
consumo.
De acordo com a Embrapa/Uvibra (2022), os espumantes brasileiros alcançaram 30,3 milhões de litros comercializados no país entres os meses de janeiro e dezembro de 2021, correspondendo a um aumento de 40% a mais se comparado com o mesmo período de 2020. A exportação de espumantes brasileiros ultrapassou 930 mil litros em 2021, 21% a mais do que em 2020. E, nesse mesmo ano 85% dos espumantes comercializados no Brasil eram nacionais, mostrando que o produto nacional tem qualidade e caiu no gosto do consumidor brasileiro, sendo uma grande aposta dos produtores nacionais.
Segundo a
Associação Brasileira de Enologia (ABE), em 2021, o Brasil
recebeu o número recorde de 414 medalhas e, dessas, 303 foram para
espumantes. Os prêmios vieram de 18 concursos realizados na Argentina, Brasil,
Canadá, Chile, Espanha, França, Grécia, Hungria, Inglaterra, Luxemburgo e
Portugal.
A taça criada especialmente para degustar os espumantes brasileiros foi desenvolvida
artesanalmente com a melhor tecnologia em cristaleira, sendo relançada em 2021 e patenteada
em 2022. Com seu formato cônico e sua textura porosa ampliam a produção e a
duração da perlage, resultando numa
explosão de frescor, aromas e sabores. Ela foi
criada a partir de uma parceria entre a Embrapa Uva e Vinho, a Associação
Brasileira de Enologia (ABE) e a Strauss de Santa Catarina. Maiores informações
em https://strauss.com.br/taca-oficial-do-espumante-brasileiro/.
O espumante
brasileiro é produzido principalmente na Serra Gaúcha, estando entre os vinhos
mais premiados do Brasil. Porém, na grande maioria das vinícolas brasileiras,
distribuídas em onze estados e quatro regiões fisiográficas, é produzido uma
grande variedade de vinho espumante. Mesmo sem figurar entre os grandes
produtores mundiais em volume, o país reúne condições ideais para a produção de
espumantes que, além da qualidade, chega ao mercado com preço competitivo.
Bibliografia:
https://www.vinhosdomundostore.com/post/crémant-um-champagne-mais-acessível
https://exame.com/casual/champagne-e-cremant-qual-a-diferenca-entre-os-dois-vinhos-espumantes/
https://www.oiv.int/the-boom-of-sparkling-wine-on-focus
Se beber, não dirija!
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