domingo, 12 de janeiro de 2025

CÃES SÃO TREINADOS PARA COMBATER DOENÇAS E PRAGAS EM VINHEDOS

Todos nós sabemos que os cães são grandes companheiros, amorosos e fiéis aos seus donos, desde os tempos mais remotos da humanidade. Aquelas bolas de pelos, fofas, brincalhonas e que nos olham com uma carinha amorosa e cheia de cumplicidade, são irresistíveis. 

Tudo bem, as vezes destroem nossos chinelos, fazem bagunça na casa, latem nos momentos mais inapropriados, mas quem se importa, a grande maioria da humanidade vê os cães como grandes companheiros.

Eles são animais fiéis aos seus donos, amorosos com as crianças, inteligentes, com capacidade de aprender várias habilidades, entre elas a de auxiliarem no salvamento de vidas, muitas vezes em situações de grandes perigos. 

Cães bem treinados auxiliam no resgate de pessoas em situações perigosas, como incêndios, afogamentos, na busca por vítimas em locais de deslizamentos, auxiliam policiais na busca por drogas e materiais explosivos,  protegem seus donos de perigos, auxiliam os cegos a se locomoverem com maior facilidade, são suporte emocional para idosos e para crianças com autismo e síndrome de Down.

Mas se esse é um blog de vinhos, porque estou escrevendo sobre cães? É que acabei de encontrar alguns  artigos, publicados no início desse ano,  que apontam mais uma habilidade desses nosso fieis companheiros. Eles relatam experimentos  realizados por pesquisadores onde  foram utilizados cães, especialmente treinados, para auxiliar os produtores de vinho a detectar pragas e doenças prejudiciais aos vinhedos.

Como companheiros, os cães de vinícola são comumente vistos em vinhedos e adegas, desempenhando o valioso trabalho de melhores amigos. Mas eles  poderão em breve assumir um novo papel nos vinhedos, farejando pragas entre as videiras.

Pesquisas apresentaram evidências de que os detetives caninos poderiam auxiliar os produtores de vinho na batalha contra doenças e pragas da videira. Em um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Cornell, publicado no final de dezembro de 2024, ficou demonstrado que os cães poderiam ajudar seus tratadores a detectar ovos da invasora mosca-lanterna pintada, em vinhedos.

A mosca-lanterna-pintada (Lycorma delicatula - Lanterfly ) é um inseto invasor que não está presente no Brasil. Nativa de países asiáticos como China, Índia e Vietnã, foi vista pela primeira vez nos Estados Unidos, no estado da Pensilvânia, em 2014. Essa praga espalhou-se pelo país e, apesar do lindo colorido das usas asas que encanta a muitos, vem gerando prejuízos significativos para a agricultura, pois se alimenta de árvores frutíferas e videiras. A mosca perfura a haste das plantas, impedindo o crescimento e excreta uma substância que cobre e mofa tudo com o que entra em contato.

DIA, um cão Labrador Retriever, e FAGAN, um cão  Malinois Belga, provaram ser mais hábeis do que os humanos em farejar massas de ovos em florestas vizinhas a vinhedos na Pensilvânia e em Nova Jersey, nos EUA, auxiliando os produtores de vinho a combater pragas e detectar doenças nos vinhedos.


Os autores do estudo relatam que eles encontraram 3,4 vezes mais massas de ovos do que humanos em áreas florestais próximas aos vinhedos, que são esconderijos populares de inverno para essa praga.

No entanto, os humanos foram melhores em encontrar massas de ovos nos próprios vinhedos. Os pesquisadores sugeriram que isso acontecia porque as pessoas são capazes de vasculhar sistematicamente os vinhedos, fileira por fileira, enquanto o olfato dos cães foi mais útil em áreas arborizadas.  

As descobertas, publicadas na revista Ecosphere, podem ser importantes na batalha dos produtores de vinho contra a propagação desta espécie invasora. “Uma infestação de mosca-lanterna manchada em um vinhedo pode causar 80% a 100% de mortalidade das vinhas em uma estação de cultivo”, disse a professora Angela Fuller, da Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida da Universidade Cornell e  também  líder da Unidade Cooperativa de Pesquisa de Peixes e Vida Selvagem de Nova York.

OÍDIO

De acordo com as conclusões de um estudo publicado na última edição do Journal of Veterinary Behavior, os cães também podem reconhecer o cheiro exalado pelo oídio, um fungo que afeta as videiras em todo o mundo.

O oídio da videira é uma doença causada pelo fungo Erysiphe necator. Os sintomas mais comuns são manchas brancas ou cinzas em folhas, rebentos e frutos. O predomínio de clima com baixa incidência de chuvas, altas temperaturas entre 20 °C e 27 °C também favorece seu aparecimento.

 

Em estágio mais avançado, o oídio atinge as bagas da uva. Nesse caso, sua ocorrência provoca um crescimento diferente entre a parte atingida e o restante da fruta.

Os pesquisadores disseram que estudos já mostraram que os cães podem detectar uma série de ameaças agrícolas. Eles acrescentaram que “não existe uma maneira rápida e econômica” de identificar o oídio em grande escala.

Eles trabalharam com três cães de estimação com experiência anterior na detecção de cheiros para fins de pesquisa. Os resultados sugeriram que os cães foram capazes de distinguir o oídio nas folhas da videira, embora os autores tenham acrescentado que são necessárias mais pesquisas.

PROJETO PILOTO  NA CALIFÓRNIA

Enquanto isso, um projeto piloto realizado na Califórnia indicou que os cães podem detectar o vírus Leafroll 3 e cochonilhas da videira com fortes índices de precisão, conforme  publicação da Wine Business em dezembro de 2014. Quatro  cães farejadores  foram treinados na detecção de doenças da videira como parte deste projeto piloto,

A doença do enrolamento da videira (Leafroll 3) é uma das doenças virais da videira mais difundidas e economicamente prejudiciais no mundo. O sintoma típico é o enrolamento dos bordos da folha para baixo. A doença está associada a até doze espécies diferentes de vírus, conhecidas coletivamente como vírus associados ao enrolamento da videira (GLRaV). Uma vez estabelecido num vinhedo, o GLRaV-3 se espalha rapidamente e leva anos para ser erradicado. 

As videiras afetadas pelo GLRaV-3 apresentam perda contínua e gradual de vigor, produção reduzida (menor número e tamanho de cachos), amadurecimento irregular dos cachos e menor teor de açúcares nos frutos, maturação atrasada ou variável e produzem vinhos de qualidade inferior.

Já as cochonilhas-da-uva danificam as uvas contaminando os cachos com sacos de ovos algodoados, larvas e melada. Frequentemente, a melada é coberta por um fungo preto fuliginoso, como se a baga estivesse coberta por uma fuligem.

Uma equipe da Califórnia treina cães para farejar vírus e insetos nos vinhedos, eliminando a necessidade de pulverização de pesticidas. MALBEC (um cão labrador preto) e SAUVI B (um cão Springer Spaniel inglês) foram os responsáveis ​​pela caça às cochonilhas. Enquanto isso, CAB (um cão Braco Alemão de Pêlo Curto) e ZINNY (outro cão Springer Spaniel Inglês) começaram a trabalhar na detecção do vírus Leafroll 3. Na imagem que segue vê-se exemplos ilustrativos destas três raças de cães.


O ensaio foi financiado com uma doação de US$ 428.111 do Departamento de Regulamentação de Pesticidas da Califórnia.

Dra.Stephanie Bolton, diretora de pesquisa e educação de produtores e diretora de viticultura sustentável da Lodi Winegrape Commission, trabalhou no projeto piloto. Ela disse que o objetivo do teste era ter “a detecção precoce não destrutiva em tempo real, acessível e precisa desses vírus”.

“Os caninos são recompensados ​​com brincadeiras; é um jogo para eles”, disse Bolton. Ela também descobriu que “os cães vão até melhorar com o tempo”. O estudo piloto demonstrou que o treinamento de caninos detectores seria um método eficaz para evitar doenças nas videiras. 

CAB e ZINNY conseguiram detectar o vírus Leafroll 3 em 93,4% dos casos, de acordo com os resultados. Já MALBEC e SAUVI B detectaram a presença de cochonilhas da videira com 97,3% de precisão. Os cães provaram suas habilidades em três séries de testes.



 




 

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