Todos nós sabemos que os cães são
grandes companheiros, amorosos e fiéis aos seus donos, desde os tempos mais
remotos da humanidade. Aquelas bolas de pelos, fofas, brincalhonas e que nos
olham com uma carinha amorosa e cheia de cumplicidade, são irresistíveis.
Tudo bem, as vezes destroem nossos
chinelos, fazem bagunça na casa, latem nos momentos mais inapropriados, mas
quem se importa, a grande maioria da humanidade vê os cães como grandes
companheiros.
Eles são animais fiéis aos seus
donos, amorosos com as crianças, inteligentes, com capacidade de aprender
várias habilidades, entre elas a de auxiliarem no salvamento de vidas, muitas
vezes em situações de grandes perigos.
Cães bem treinados auxiliam no
resgate de pessoas em situações perigosas, como incêndios, afogamentos, na
busca por vítimas em locais de deslizamentos, auxiliam policiais na busca por
drogas e materiais explosivos, protegem
seus donos de perigos, auxiliam os cegos a se locomoverem com maior facilidade,
são suporte emocional para idosos e para crianças com autismo e síndrome de Down.
Mas se esse é um blog de vinhos,
porque estou escrevendo sobre cães? É que acabei de encontrar alguns artigos, publicados no início desse ano, que apontam mais uma habilidade desses nosso
fieis companheiros. Eles relatam experimentos
realizados por pesquisadores onde
foram utilizados cães, especialmente treinados, para auxiliar os
produtores de vinho a detectar pragas e doenças prejudiciais aos vinhedos.
Como companheiros, os cães de
vinícola são comumente vistos em vinhedos e adegas, desempenhando o valioso
trabalho de melhores amigos. Mas eles poderão em breve assumir um novo papel nos
vinhedos, farejando pragas entre as videiras.
Pesquisas apresentaram evidências de
que os detetives caninos poderiam auxiliar os produtores de vinho na batalha
contra doenças e pragas da videira. Em um estudo liderado por pesquisadores da
Universidade Cornell, publicado no final de dezembro de 2024, ficou demonstrado
que os cães poderiam ajudar seus tratadores a detectar ovos da invasora
mosca-lanterna pintada, em vinhedos.
A
mosca-lanterna-pintada (Lycorma delicatula - Lanterfly ) é um
inseto invasor que não está presente no Brasil. Nativa de países
asiáticos como China, Índia e Vietnã, foi vista pela primeira vez nos Estados
Unidos, no estado da Pensilvânia, em 2014. Essa praga espalhou-se pelo país e, apesar do lindo colorido das usas
asas que encanta a muitos, vem gerando prejuízos significativos para a
agricultura, pois se alimenta de árvores frutíferas e videiras. A mosca
perfura a haste das plantas, impedindo o crescimento e excreta uma substância
que cobre e mofa tudo com o que entra em contato.
DIA, um cão Labrador Retriever, e FAGAN, um cão Malinois Belga, provaram ser mais hábeis do que os humanos em farejar massas de ovos em florestas vizinhas a vinhedos na Pensilvânia e em Nova Jersey, nos EUA, auxiliando os produtores de vinho a combater pragas e detectar doenças nos vinhedos.
Os autores do estudo relatam que eles
encontraram 3,4 vezes mais massas de ovos do que humanos em áreas florestais
próximas aos vinhedos, que são esconderijos populares de inverno para essa
praga.
No entanto, os humanos foram
melhores em encontrar massas de ovos nos próprios vinhedos. Os pesquisadores
sugeriram que isso acontecia porque as pessoas são capazes de vasculhar
sistematicamente os vinhedos, fileira por fileira, enquanto o olfato dos cães
foi mais útil em áreas arborizadas.
As descobertas, publicadas na
revista Ecosphere, podem ser importantes na batalha dos produtores de vinho
contra a propagação desta espécie invasora. “Uma infestação de mosca-lanterna
manchada em um vinhedo pode causar 80% a 100% de mortalidade das vinhas em uma
estação de cultivo”, disse a professora Angela Fuller, da Faculdade de
Agricultura e Ciências da Vida da Universidade Cornell e também
líder da Unidade Cooperativa de Pesquisa de Peixes e Vida Selvagem de
Nova York.
OÍDIO
De acordo com as conclusões de um
estudo publicado na última edição do Journal of Veterinary Behavior, os cães
também podem reconhecer o cheiro exalado pelo oídio, um fungo que afeta as
videiras em todo o mundo.
O
oídio da videira é uma doença causada pelo fungo Erysiphe necator. Os
sintomas mais comuns são manchas brancas ou cinzas em folhas, rebentos e
frutos. O predomínio de clima com baixa incidência de chuvas, altas
temperaturas entre 20 °C e 27 °C também favorece seu aparecimento.
Em
estágio mais avançado, o oídio atinge as bagas da uva. Nesse caso, sua ocorrência
provoca um crescimento diferente entre a parte atingida e o restante da fruta.
Os pesquisadores disseram que
estudos já mostraram que os cães podem detectar uma série de ameaças agrícolas.
Eles acrescentaram que “não existe uma maneira rápida e econômica” de
identificar o oídio em grande escala.
Eles trabalharam com três cães de
estimação com experiência anterior na detecção de cheiros para fins de
pesquisa. Os resultados sugeriram que os cães foram capazes de distinguir o
oídio nas folhas da videira, embora os autores tenham acrescentado que são
necessárias mais pesquisas.
PROJETO PILOTO NA CALIFÓRNIA
Enquanto isso, um projeto piloto realizado
na Califórnia indicou que os cães podem detectar o vírus Leafroll 3 e
cochonilhas da videira com fortes índices de precisão, conforme publicação da Wine Business em dezembro de
2014. Quatro cães farejadores foram treinados na detecção de doenças da
videira como parte deste projeto piloto,
A doença do enrolamento da videira
(Leafroll 3) é uma das doenças virais da videira mais difundidas e
economicamente prejudiciais no mundo. O
sintoma típico é o enrolamento dos bordos da folha para baixo. A doença
está associada a até doze espécies diferentes de vírus, conhecidas
coletivamente como vírus associados ao enrolamento da videira (GLRaV). Uma vez
estabelecido num vinhedo, o GLRaV-3 se espalha rapidamente e leva anos para ser
erradicado.
As videiras
afetadas pelo GLRaV-3 apresentam
perda contínua e gradual de vigor, produção reduzida (menor número e tamanho de
cachos), amadurecimento irregular dos cachos e menor teor de açúcares nos
frutos, maturação atrasada ou variável e produzem vinhos de
qualidade inferior.
Já as cochonilhas-da-uva danificam as uvas contaminando os cachos com sacos de ovos algodoados, larvas e melada. Frequentemente, a melada é coberta por um fungo preto fuliginoso, como se a baga estivesse coberta por uma fuligem.
Uma equipe da Califórnia treina cães
para farejar vírus e insetos nos vinhedos, eliminando a necessidade de
pulverização de pesticidas. MALBEC (um cão labrador preto) e SAUVI B (um cão Springer
Spaniel inglês) foram os responsáveis pela caça às cochonilhas. Enquanto
isso, CAB (um cão Braco Alemão de Pêlo Curto) e ZINNY (outro cão Springer
Spaniel Inglês) começaram a trabalhar na detecção do vírus Leafroll 3. Na
imagem que segue vê-se exemplos ilustrativos destas três raças de cães.
O ensaio foi financiado com uma
doação de US$ 428.111 do Departamento de Regulamentação de Pesticidas da
Califórnia.
Dra.Stephanie Bolton, diretora de
pesquisa e educação de produtores e diretora de viticultura sustentável da Lodi
Winegrape Commission, trabalhou no projeto piloto. Ela disse que o objetivo do
teste era ter “a detecção precoce não destrutiva em tempo real, acessível e
precisa desses vírus”.
“Os caninos são recompensados com
brincadeiras; é um jogo para eles”, disse Bolton. Ela também descobriu que “os
cães vão até melhorar com o tempo”. O estudo piloto demonstrou que o
treinamento de caninos detectores seria um método eficaz para evitar doenças
nas videiras.
CAB e ZINNY conseguiram detectar o
vírus Leafroll 3 em 93,4% dos casos, de acordo com os resultados. Já MALBEC e SAUVI
B detectaram a presença de cochonilhas da videira com 97,3% de precisão. Os
cães provaram suas habilidades em três séries de testes.
Treinar cães para farejar doenças
também é um método econômico de lidar com o problema. De acordo com a Wine
Business, onde esta história foi relatada pela primeira vez, um vinhedo de 16 ha
examinado durante dois dias com um adestrador e dois cães custaria
aproximadamente US$ 5.200. A amostragem envolveria cerca de 27.000 videiras.
Nesse cenário, o programa canino custaria menos de US$ 0,25 por videira em
bloco e menos de US$ 0,01 por videira, separadamente.
Fonte:
OIV nas noticias
de 10/01/2025
https://www.decanter.com/wine-news/dogs-sniff-out-vineyard-diseases-and-pests-in-trials-548187/
https://www.thedrinksbusiness.com/2025/01/detector-dogs-are-sniffing-out-grapevine-disease/
https://www.cnpuv.embrapa.br/uzum/uva/vir_enrol_folha.html
https://www.decanter.com/wine-news/dogs-sniff-out-vineyard-diseases-and-pests-in-trials-548187/
https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/FMfcgzQZSZHpbmLxCsWDHCgwNtsmctld
Nenhum comentário:
Postar um comentário